Pessoas

Pacifista Daisaku Ikeda, que morreu em novembro, teve indicação ao Honoris Causa aprovada na UFMG

Em nota, o Departamento de Psicologia da Fafich, que propôs a outorga do título, homenageou o filósofo e líder budista japonês

Daisaku Ikeda:
Daisaku Ikeda: diálogo com líderes de diversas vertentes ideológicasFoto: Rukomii, na Wikipedia (CC BY-SA 3.0) 

O filósofo, educador e líder budista japonês Daisaku Ikeda morreu, aos 95 anos, no último dia 15 de novembro, pouco mais de um ano após ter sido escolhido para receber da UFMG o título de Doutor Honoris Causa. Ele foi indicado pela Fafich, com base em proposta do Departamento de Psicologia, juntamente com o arquiteto e escultor argentino Adolfo Pérez Esquivel, Prêmio Nobel da Paz. Ambos são reconhecidos como pacifistas e ativistas pelos direitos humanos. Em 1995, Ikeda e Esquivel publicaram juntos um livro dedicado aos direitos humanos e um manifesto aos jovens pela paz e pela esperança.

O Conselho Universitário aprovou a proposta em julho de 2022, mas a decisão perdeu o efeito, porque os títulos não foram entregues em até um ano após a sua concessão, como estabelece o Regimento Geral da UFMG. O parecer do Conselho Universitário sobre a concessão do título ressalta a iniciativa inédita de agraciar duas personalidades no mesmo processo. O documento menciona que Ikeda e Esquivel lançaram conjuntamente, em 8 de junho de 2018, o manifesto Aos jovens do mundo, um chamado à resiliência e à esperança, em que compatilhavam valores comuns sobre os grandes desafios globais. “Apesar de [Ikeda e Esquivel] terem trajetórias desenvolvidas em continentes diferentes (Ásia e América Latina), ancorados em tradições culturais e religiosas bastante distantes, o ativismo político de ambos ganha ao longo de mais de quatro décadas repercussão internacional em razão de guardarem valores universais”, afirma-se no parecer.

Nascido em 1928, Ikeda protagonizou diversas ações políticas na luta pela paz, pela justiça e pelo desarmamento nuclear, e fundou muitos organismos com esse objetivo, em todo o mundo. Esteve várias vezes no Brasil e chegou a ser impedido pela ditadura militar, em 1974, de entrar em território nacional. Participou ativamente da Campanha Internacional para a Abolição de Armas Nucleares (Ican), fruto de coalizão de organizações não governamentais, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2017 e deu origem ao Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares (TPAN), endossado por 122 países filiados à ONU.

Não às guerras
O Departamento de Psicologia da Fafich publicou, nesta semana, nota em que destaca o esforço de Daisaku Ikeda para evitar as guerras, “posicionamento-chave para o desenvolvimento do espírito humano, condição inclusive para o avanço da cultura científica”. O texto ressalta ainda a capacidade do líder budista de dialogar com alguns dos mais importantes líderes políticos do globo, independentemente da posição ideológica. Uma das motivações para essas conversas foi sua convicção de que Japão e China deveriam restabelecer relações, o que acabou ocorrendo nos anos 1970.

No Brasil, como informa a nota, Ikeda manteve contato próximo com nomes como Austregésilo de Athayde – em 1993, tornou-se correspondente internacional da Academia Brasileira de Letras, então presidida pelo escritor –, o astrônomo Ronaldo Mourão, com quem publicou, em 2005, o livro Astronomia e Budismo: uma jornada rumo ao distante Universo, com o poeta Thiago de Mello e o pianista e maestro Amaral Vieira. Fundou em São Paulo uma escola do ensino básico inspirada nos princípios pedagógicos do educador japonês Tsunesaburo Makiguchi e uma orquestra filarmônica jovem. Também criou um centro de pesquisas na Amazônia.

“O falecimento de Daisaku Ikeda é uma perda inestimável, particularmente neste momento histórico marcado pelo narcisismo estrutural e intolerâncias crescentes. Mas sua falta também nos provoca a tomadas de posições mais radicais na construção da paz no nosso campo específico da cultura”, afirma-se na nota do Departamento de Psicologia.

Itamar Rigueira Jr.