Ensino

Inclusão de alunos surdos requer parceria entre professor e intérprete e envolvimento da comunidade

Em seminário, dirigentes, professores e servidores do Núcleo de Acessibilidade e Inclusão compartilharam visões e experiências bem-sucedidas

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A professora Mônica Rahme, do curso de Letras/Libras (fila do meio, à direita), faz sua apresentação, dividindo a tela com a equipe do NAIImagem: Reprodução YouTube

Reflexões sobre os desafios e estratégias para promover maior inclusão de alunos surdos na UFMG marcaram o 4º Seminário Integração Docente 2022, realizado na tarde de ontem (quarta, 28). Dirigentes, professores e servidores do Núcleo de Acessibilidade e Inclusão (NAI) mencionaram a parceria entre professor e intérprete e o envolvimento da comunidade acadêmica como fatores fundamentais para a inclusão de alunos surdos.

Com o tema Dos bastidores à prática de enfrentamento às barreiras de acessibilidade comunicacional, o evento teve também a participação do vice-reitor Alessandro Moreira, do pró-reitor de Graduação, Bruno Teixeira. A mediação foi feita pela diretora adjunta do Núcleo de Acessibilidade e Inclusão (NAI), Daniela Vaz.

Alessandro Moreira destacou a importância de iniciativas que ponham em pauta a inclusão e a acessibilidade no âmbito da UFMG. “Vamos conseguir tratar essas questões com maior eficiência se toda a nossa comunidade acadêmica estiver sintonizada, alinhada”, afirmou.

O pró-reitor de Graduação, Bruno Teixeira, lembrou o papel da Lei nº 12.711, a Lei de Cotas, na indução de mudanças no perfil do alunado e no debate sobre um ensino superior, de fato, inclusivo. Apesar de a reserva das vagas prevista pela norma ter se dado a partir de 2018 na UFMG, a instituição já buscava fortalecer as estruturas que promovem inclusão e acessibilidade, com a criação do NAI, em 2015, e com discussões constantes sobre como aprimorar as práticas inclusivas. "Embora as experiências apresentadas hoje possam parecer um pouco específicas, conhecer os princípios adotados para o acolhimento desses estudantes é certamente importante para que possamos aplicá-los no nosso dia a dia, seja qual for a atividade acadêmico-curricular que estejamos conduzindo", ressaltou o pró-reitor.

O vice-reitor Alessandro Moreira (acima, à esquerda) abriu o seminário; também na tela, o pró-reitor Bruno Teixeira (abaixo) e o intérprete de Libras Bruno Santos
O vice-reitor Alessandro Moreira (acima, à esquerda) abriu o seminário; também na tela, o pró-reitor Bruno Teixeira (abaixo) e o intérprete de Libras Bruno Santos Imagem: Reprodução YouTube

Inclusão é construção permanente
A diretora do NAI, Regina Céli Ribeiro, os tradutores e intérpretes de Libras do Núcleo Joe Campos Costa e Sônia Romeiro e a professora Mônica Rahme, da Faculdade de Educação (FaE), relataram suas vivências com estudantes surdos. O ponto de partida do debate foi uma experiência de Mônica com uma turma do curso de Letras-Libras da Universidade.

À frente do NAI desde 2022, Regina Ribeiro apresentou dados sobre o perfil dos discentes com deficiência da Universidade, que eram 228, em 2017, e hoje são 995. Aproximadamente, 20% dos alunos têm deficiência auditiva; 25%, visual, e quase 36%, física. Cerca de 600 são cadastrados e recebem apoio do Núcleo. "O trabalho do NAI é uma construção permanente, que só é possível com a participação efetiva de toda a comunidade universitária. Muito já foi feito, mas ainda temos muito a fazer, e há muita sensibilização a ser construída."

Joe Costa compartilhou sua experiência como graduando em Gestão Pública e, logo depois, servidor do NAI. Ele contou como utilizou conhecimentos do curso e sua vivência como intérprete para desenvolver o Signers, software que gere a demanda e a oferta de tradutores de Libras para estudantes surdos na UFMG. A ferramenta foi adotada em 2021 e, neste ano, recebeu o registro de titularidade da Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT/UFMG). "O Signers representa muito a interação do NAI com a Reitoria, a DTI e a CTIT, e nos ajuda a pensar nos potenciais da UFMG para dar respostas à comunidade acadêmica e mesmo atender a demandas de fora da Universidade", disse Joe Costa.

Apoio dos professores
Também intérprete do NAI, Sônia Romeiro, que atua com maior frequência na Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (EEFFTO), comentou as dificuldades do trabalho de intérprete, considerando o número reduzido de profissionais – menos de 20, somando servidores e terceirizados, para aulas, eventos e tradução de documentos – e a responsabilidade de traduzir conceitos técnicos e específicos de disciplinas muito diversas. O apoio dos professores, que devem informar a programação do semestre, passar os conteúdos com antecedência e estar abertos a discutir terminologias e estratégias didáticas com os intérpretes, é fundamental, na opinião de Sônia.

Ao abordar seu trabalho na disciplina Psicologia da educação, no primeiro semestre de 2021, para a turma da graduação em Letras/Libras, na qual havia 15 alunos surdos, a intérprete destacou a abertura da professora Mônica Rahme, responsável pela matéria. “Ela me deixou sempre muito à vontade para fazer sugestões, adaptações. Eu podia levar materiais para compartilhar com a turma, ela aceitava modificações propostas pelos alunos e fazia perguntas sobre como gerenciar as coisas. Se eu não tivesse tido esse apoio da Mônica, o resultado poderia ter sido desastroso”, avaliou Sônia Romeiro.

Mônica Rahme falou da experiência de idealizar e conduzir a disciplina para grupo composto em sua maioria de estudantes surdos. A parceria produtiva com a intérprete de referência se somou a estratégias como plantões para tirar dúvidas antes das aulas, gravações dos encontros para que os alunos pudessem assistir novamente às aulas, tradução dos enunciados em Libras e estudo de terminologias próprias da psicologia da educação com base em materiais disponíveis nos repositórios de outras universidades, que já dispunham de interpretações na língua de sinais.

Ministrar a disciplina nesse contexto, destacou a docente, gerou reflexões sobre a relação dos estudantes surdos com a psicologia na sua vida cotidiana e as relações entre professor, intérprete e aluno. Mônica acredita que a experiência também incentivou os estudantes ouvintes a pensar sobre sua inserção no mundo. “Acho que todos os estudantes que ficaram até o final desse curso saíram diferentes. Para os ouvintes, uma experiência relevante foi a de se sentirem minoritários. É muito importante que eles consigam extrair dessa vivência reflexões sobre o que públicos considerados minoritários vivem em relação às ditas maiorias.”

O 4º Seminário Integração Docente 2022 foi transmitido pelo canal da Coordenadoria de Assuntos Comunitários (CAC/UFMG) no YouTube, onde permanecerá disponível.

Assessoria de Comunicação do Caed/UFMG