Pesquisa da USP traz alertas para preservação da Mata Atlântica
Em entrevista ao programa Conexões, autor do estudo falou sobre importância de conjugar reflorestamento com a redução do desmatamento da mata antiga, a fim de preservar o bioma
Desde 2005, é possível observar, por meio de dados de monitoramento por satélite, que a cobertura florestal da Mata Atlântica vem aumentando, graças à redução do desmatamento e do reflorestamento de áreas previamente desmatadas. Entretanto, um estudo publicado na semana passada, na revista Science Advances, indica que a demolição de matas nativas antigas continua a ocorrer em níveis preocupantes, o que pode significar um obstáculo para a sobrevivência do bioma, mesmo com as iniciativas de recuperação das áreas desmatadas.
O geógrafo Marcos Reis Rosa, doutorando em Geografia Física na USP e um dos autores do estudo, afirma que, ainda assim, desde 2007, já há mais ganhos do que perdas em relação ao bioma e que o artigo traz também perspectivas positivas para o futuro da Mata Atlântica. Os dados do estudo, ressalta o coordenador-técnico do projeto MapBiomas, são um alerta importante para o futuro da preservação do bioma.
Em entrevista ao programa Conexões, da Rádio UFMG Educativa, nesta segunda-feira, 25, Marcos Rosa afirmou que uma das boas notícias trazidas no artigo é o aumento da cobertura florestal de Mata Atlântica no país. Considerando todos os fragmentos florestais o bioma tem hoje por volta de 27% de cobertura florestal. “A gente tinha um número de 8%, do SOS Mata Atlântica, considerando apenas os grandes fragmentos. Hoje a SOS Mata Atlântica trabalha com 12,5%, considerando os fragmentos com mais de 3 hectares. Pegando todos os fragmentos em fase de conservação, com mais de meio hectare, fomos para 27% de preservação”, explicou.
Mesmo que ainda seja baixo, considerando a totalidade, o número, segundo Marcos Rosa, indica que “há uma boa perspectiva de futuro”. No entanto, a mata jovem, advinda do reflorestamento, pode não ser suficiente para preservação do bioma. “A gente está ganhando, sim, Mata Atlântica, mas é uma floresta muito jovem, muito pobre em termos de biodiversidade [inicialmente, contam apenas com uma ou duas espécies dominantes] e ainda com pouco estoque de carbono. Enquanto isso, a gente continua perdendo matas muito mais antigas e muito mais importantes”, acrescentou Marcos Rosa
Segundo o geógrafo, é preciso conjugar ações de reflorestamento com a redução da perda da floresta antiga, formada por matas maduras, com mais de 30 anos de idade, que são muito ricas para a biodiversidade e têm muito estoque de carbono. “É nesse balanço que a gente faz um alerta, dizendo que apesar de a gente estar ganhando um pouco, ainda há risco para biodiversidade, pela perda de matas muito importantes. As novas matas serão importantes, mas, no momento, ainda precisamos parar de perder essas florestas antigas”, alertou.
No campo da preservação, a Lei da Mata Atlântica, mecanismo criado em 2006, garante, no papel, a proteção para as florestas antigas. A lei, segundo Marcos Rosa, tem sido muito útil, desde sua criação, subsidiando operações que garantem o uso correto do bioma. No entanto, tem enfrentado ataques do atual governo. "No momento, o governo federal tenta acabar com a lei específica do bioma, com o argumento de que o Código Florestal seria suficiente”, contextualizou.
Cenário internacional
A vitória do Joe Biden nas eleições estadunidenses também são um bom sinal para a preservação, na opinião de Marcos Rosa. Antes mesmo das eleiçõesem que saiu vitorioso, o novo presidente dos Estados Unidos já indicava que seria mais rigoroso com pautas ambientais. Biden chegou a se referir à Amazônia e a sugerir uma possível cooperação entre países a fim de proteger o bioma.
Joe Biden tomou posse na semana passada e um de seus primeiros atos foi incluir os Estados Unidos, novamente, no Acordo de Paris, por meio do qual países se comprometem com metas de redução de emissões de carbono na atmosfera, para conter o aquecimento global.
Para Marcos Rosa, a vitória de Biden “nos trouxe de volta para o século 21”. Ele acredita que, agora, os Estados Unidos vão pressionar o Brasil, para que o país assuma uma política de preservação ambiental. “Com Donald Trump, tínhamos uma política negacionista, baseada em mentiras, no descrédito da ciência e dos fatos. Vamos começar a trabalhar de novo com a ciência”, disse.
O artigo completo, em inglês, está disponível no site da revista Science Advances. O projeto MapBiomas, no qual Marcos Rosa atua como coordenador-técnico, mantém uma plataforma digital de mapas que apresentam alertas sobre o uso do solo.