Meio Ambiente

Rádio UFMG Educativa mostra por que a Pampulha não é lugar para a Stock Car

Reportagem especial traça radiografia dos impactos para o clima, para a saúde dos animais atendidos no Hospital Veterinário e para a mobilidade urbana

Faixa de protesto na cerca na Escola de Veterinária
Faixa de protesto na cerca na Escola de Veterinária: barulho excessivo e dificuldades de acesso entre os impactos mapeadosFoto: Raphaella Dias | UFMG

A Stock Car, principal competição de automobilismo do Brasil, deverá promover uma etapa em Belo Horizonte em agosto deste ano. O local escolhido pelos organizadores foi o entorno da UFMG, e o circuito projetado compreende as avenidas Presidente Carlos Luz, Antônio Abrahão Caram, Rei Pelé e Coronel Oscar Paschoal. Sem amplo diálogo com a população e com a UFMG, o acordo entre os organizadores e a Prefeitura foi formalizado em dezembro, e o projeto, aprovado pelo Conselho Municipal do Meio Ambiente (Comam), não tem licenciamento ambiental.

Até agora, o empreendimento já resultou no corte de 63 árvores na área prevista para o circuito. Ambientalistas, movimentos sociais e a própria UFMG seguem mobilizados para mostrar por que a região não é adequada para a corrida. O evento, além de contribuir para tornar o clima ainda mais árido, com menos árvores, vai impactar diversas estruturas da Universidade, como o Hospital Veterinário, o biotério e a Estação Ecológica. Dificuldades de circulação na região e de acesso ao campus Pampulha são outros impactos mapeados.

A professora da Escola de Veterinária e diretora do Hospital Veterinário da UFMG, Cristina Malm, destaca como o ruído produzido pelos carros no dia da corrida, que pode chegar a 110 decibéis, pode afetar os animais atendidos na unidade, além das intervenções que vão impedir o acesso ao prédio. 

Outro ponto importante é o replantio de árvores com o qual os organizadores se comprometeram. As mais de 600 árvores que serão cultivadas em outros locais da região da Pampulha não compensam os impactos da supressão dos espécimes, na avaliação dos ambientalistas. A prova também é apresentada como uma ação de carbono zero. Ouvido pela reportagem, o doutorando em Ecologia na UFMG Marcelo Dias argumenta que, diante da emergência climática, carbono zero já não é mais suficiente. É preciso, segundo ele, promover ações de carbono negativo, em que a retirada de carbono da atmosfera supera as emissões. 

Evento ou empreendimento?
A própria classificação da corrida por parte do poder público para fins de autorização é outro aspecto abordado na reportagem. Trata-se de evento ou empreendimento? Categorizada como evento, a etapa belo-horizontina da Stock Car foi aprovada pela Prefeitura sem a necessidade de licenciamento ambiental, o que também é motivo de controvérsia. O assunto também é abordado em reportagem do ((o))eco, veículo especializado em jornalismo ambiental.

A reitora Sandra Regina Goulart Almeida é categórica ao afirmar que a corrida no trajeto proposto, limítrofe ao campus Pampulha, é inviável. "O mínimo que a gente esperava é que a cidade conversasse conosco para que pudéssemos apresentar os gargalos. Não é só o corte de árvores e o som, que têm impacto importante. Somos uma instituição que preserva o ambiente, temos uma Estação Ecológica dentro da UFMG. Portanto, temos um compromisso com o meio ambiente e com a comunidade que vive ao redor da UFMG, que não quer esse evento", resumiu a reitora.

Ouça a reportagem: 


Produção e reportagem: Alessandra Dantas
Edição e sonoplastia: Thiago França