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ICB pesquisa aplicações do veneno de aranha

Ela não é "flor que se cheire". Agressiva e de hábitos noturnos, a aranha armadeira possui um veneno mais rico em toxinas do que os escorpiões. 

Mas se depender de estudos desenvolvidos no departamento de Farmacologia do ICB, a má fama do animal tem tudo para ser esquecida. Isso porque a mesma toxina que mata e mutila pode ser transformada, por exemplo, numa substância capaz de controlar a pressão arterial ou num soro contra o próprio veneno de aranha mais eficiente que os disponíveis no mercado.

Esses são alguns benefícios para a Medicina que podem advir das toxinas da aranha armadeira analisadas pela equipe do professor Evanguedes Kalapothakis. Ao contrário de outras pessoas que querem distância do animal, o pesquisador resolveu investir na reprodução do aracnídeo em cativeiro. Hoje, ele mantém cerca de 500 exemplares adultos e centenas de outros em crescimento. "No início das pesquisas, de cada duas mil aranhas que nasciam no cativeiro, apenas uma atingia a idade adulta. Hoje de cada cem, 12 chegam a essa fase", diz o professor Kalapothakis. Ele precisou de dois anos para completar o ciclo de reprodução da aranha em laboratório, fato inédito no Brasil.

Um dos objetivos da equipe do pesquisador é descobrir um soro mais eficaz contra as picadas de aranha.

"Queremos desenvolver uma substância que permita inoculação de doses menores no paciente picado pela aranha, o que reduzirá as chances de efeitos colaterais", explica o professor do ICB.

Anticorpo

Kalapothakis esclarece que o veneno é uma composição de várias toxinas. As principais são as neurotoxinas, que atuam no sistema nervoso. O soro é uma substância que encontra essas toxinas, se liga a elas e impede que cheguem ao alvo. "Com o soro, o efeito letal é bloqueado pelo anti-corpo", diz. Nas pesquisas que desenvolve, Kalapothakis procura um anticorpo que identifique a toxina com maior eficácia e rapidez. Para chegar a essa substância, o professor isola o gene das glândulas responsáveis pela produção das toxinas e o utiliza em sistemas artificiais (bactérias) para sintetizá-las em laboratório.

A equipe trabalha também com a possibilidade de descoberta de uma substância que regule a pressão arterial, através da manipulação de toxinas que compõem o veneno e que atuam sobre o canal do cálcio. Para levar adiante esses experimentos, os pesquisadores do ICB já isolaram cerca de 30 toxinas do veneno da aranha armadeira, espécie comum na Região Metropolitana de Belo Horizonte.