UFMG entra nas comemorações dos 500 anos do Brasil

Galinha ou pata?

A pretexto de despertar nas universidades públicas a vontade de divulgar seus produtos, o jornalista José Roberto Ferreira usou uma metáfora que me desagradou bastante, mas que por outro lado, serve de mote para profundas reflexões. Ao se transcrever em nosso Boletim, o de número 1215, o texto Erro estratégico, suicídio político, no qual o jornalista apresenta esta metáfora, parece-me que há na UFMG pretensões ao cacarejamento galináceo.

A infeliz galinha, por seu muito cacarejar, foi aprisionada e escravizada pelos seres humanos. Confinada em minúsculos espaços, é mantida acordada por luzes artificiais, sendo obrigada a ingerir rações artificialmente produzidas, mesmo que esteja sem fome, aumentando assim a produtividade e, portanto, atendendo à ganância por lucros e mais lucros, daqueles que a aprisionaram. Se há redução do tempo de vida da galinha, não tem importância: elas são facilmente substituídas. Já a pata, parece-me que, por enquanto, ainda goza de um destino mais agradável, mais de acordo com os planos do Verdadeiro Criador. Será que algum ser merece o destino da galinha? É isso que queremos? Produzir, produzir e produzir ovos em quantidade, mas de qualidade duvidosa? Particularmente, prefiro a configuração da pomba.

Quem puder entender, entenda. 

Será que a UFMG precisa mesmo entrar nessa febre de propaganda que assola nossa civilização? Que história é essa de dizer que não se divulga o que é feito na Universidade? Isto é verdade ou é um novo mito? Será que a comunicação só se dá em nível dos veículos de comunicação de massa? Como foi que eu, residindo em uma pequenina cidade do interior do Estado do Rio, fui saber da UFMG? Nos anos 70, vim para Belo Horizonte em busca de uma vaga nesta instituição, já apontada na época, como uma das mais conceituadas do País. Essa não é uma história tão particular assim. Existem muitas semelhantes. Por que cresce, ano a ano, o número de inscritos no "vestibular da federal"? 

Será que as milhares de pessoas que são beneficiadas pelas atividades de extensão desconhecem o trabalho da UFMG? Ainda está bem presente na nossa memória o fracasso de sustentação da falsa imagem criada pela mídia para um presidente da República.

O que mostrou a inconsistência da máxima de que "a propaganda é a alma do negócio". 

Será que teremos mesmo que desviar os parcos recursos destinados à educação para contribuirmos com a nutrição da já monstruosa indústria da propaganda? Será que precisamos pagar tributo à grande mídia para continuarmos a existir? Onde estão os maiores e mais assintosos salários do Brasil? Estão mesmo no serviço público? Assusta-me ver toda uma sociedade pagando alegremente os exagerados salários de apresentadores, atores e cantores, que são somente a testa deste monstro que nos domina e encanta. Ainda que o senhor José Roberto, a despeito do exemplo da campanha de marketing, reconheça que esta não seja uma solução para as universidades públicas, em algumas ocasiões oficiais percebi esta idéia presente nos discursos de nossos administradores. Ao ver que a metáfora por ele usada poderia reforçar essa tendência, julguei-me no dever de fazer este alerta. Vigiai!

Lúcia Moreira - professora da Escola de Enfermagem