Teste desenvolvido por professor da Medicina auxilia tratamento da esquizofrenia
Apomorfina prevê efeitos colaterais provocados por medicamentos usados para combater a doença
Novo teste baseado em uma substância até então usada no tratamento de alcoolismo pode trazer um novo alento aos portadores de esquizofrenia. O estudo, desenvolvido pelo professor Juarez de Oliveira Castro, do departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina, revela que o teste de apomorfina ajuda na seleção de medicamentos mais seguros para o tratamento da doença, além de permitir o diagnóstico precoce de alterações hormonais prejudiciais ao doente, provocada pelo uso de drogas.
A apomorfina é uma substância que bloqueia os receptores de dopamina, um dos neurotransmissores que integram ou o sistema de comunicação dos neurônios. Aplicando doses subcutâneas de substância e medindo uma variação de hormônios nos pacientes, Juarez Castro conseguiu prever quais medicamentos provocam efeitos causados por doenças. Segundo professor, uma apomorfina também pode ser usada na descoberta de novas drogas para combater a esquizofrenia. Seus estudos foram materializados no doutorado defendido em janeiro, junto à Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Efeitos químicos
O professor explica que o teste é capaz de visualizar alguns efeitos provocados pelo uso de certos medicamentos. "É o caso de crescimento das mamas, que gera aumento dos pacientes", exemplifica Juarez Castro, chefe do Serviço de Psiquiatria do Hospital das Clínicas. Certos efeitos, segundo ele, podem atingir 5 a 10% dos pacientes em tratamento. O teste também conseguiu prever outras complicações, como diminuição da libido, impotência sexual e ganho excessivo de peso.
Além de buscar um instrumento de auxílio ao tratamento da doença, Juarez Castro tinha a esperança de utilizar a substância para diagnosticar a esquizofrenia e seus subtipos, o que, na prática, acabou não ocorrendo. "Esperava que ela funcionasse como um marcador biológico que permitisse determinar o diagnóstico precoce da doença. Isso seria de extrema importância, pois poderíamos iniciar um tratamento eficaz bem mais cedo", afirma o professor.
Assim, o exame clínico continua sendo a única forma de determinar se alguém é ou não esquizofrênico. "É preciso analisar o quadro biológico, social e psicológico do paciente. São fatores que podem contribuir para o surgimento da doença", argumenta.
Sem cura
A esquizofrenia atinge cerca de 1% da população mundial. Um índice preocupante, na avaliação do professor Castro, pois seus portadores podem evoluir para um quadro crônico, que necessita de tratamento permanente, envolvendo medicamentos, cuidados psicológicos e medidas de reinserção social. Até o momento, não existe cura para a doença. Seu tratamento, feito à base de medicamentos chamados neurolépticos, é considerado caro, tanto para pacientes e familiares quanto para programas públicos voltados para o atendimento de portadores de transtorno mental. Os custos podem variar de R$ 10 a R$ 30, no caso de tratamentos com remédios tradicionais, e até R$ 600 quando utilizados medicamentos mais novos, capazes de atuar no organismo sem provocar os efeitos colaterais causados pelos primeiros.
Título: Estudo da atividade dopaminérgica na esquizofrenia através do teste da apomorfina
Autor: Juarez Oliveira Castro
Orientador: professor João Romildo Bueno - UFRJ
Instituição: Universidade Federal do Rio de Janeiro
Pesquisa poderá continuar em centro especializado do HC
Os estudos sobre a esquizofrenia realizados pelo professor Juarez Oliveira Castro começaram há sete anos. A pesquisa básica, financiada pelo governo francês, foi desenvolvida através de convênio de cooperação técnica entre a UFMG e o Centre Hospitalier de Rouffach, na França, um dos mais avançados centros da Europa em pesquisas de novos medicamentos.
Castro acredita que parte da pesquisa poderá continuar no Hospital das Clínicas, através do Centro de Neurociências Aplicadas à Psiquiatria. O Centro, em fase de implantação, vem realizando ensaios clínicos com novos medicamentos em parceria com a indústria farmacêutica. Os resultados de um desses estudos chegou a ser publicado em 1998, no Journal of Clinical Psychiatry, dos Estados Unidos. Outros trabalhos foram apresentados em congressos nacionais e internacionais sediados em Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Fortaleza e no México.