Museu celebra o redescobrimento

Pelos caminhos da arte

Primeiro colocado no Vestibular de Belas-Artes veio de escola pública do interior mineiro

Dar novo rumo a vida, desvendar o universo da arte. Ao longo de 1999, tais desejos nortearam as iniciativas do estudante Eduardo Felix de Miranda Leite, nascido e residente na pequena Crucilândia, cidade mineira com cerca de quatro mil habitantes. Lá, além de concluir o segundo grau na Escola Estadual Dom Silvério, o aluno traçou para si um importante objetivo: ingressar na Escola de Belas-Artes (EBA) da UFMG. Esboçada a meta, veio então a necessidade de estudo, muito estudo. Em 12 meses, procurou expandir seus conhecimentos através de apostilas emprestadas por amigos. O esforço culminou com uma vitória além do que se esperava. Aos 19 anos, Miranda foi aprovado em primeiro lugar no curso de Belas-Artes da Universidade.

 

Dos traços infantis aos desenhos mais elaborados, a vontade de fazer arte sempre esteve presente na vida do novo calouro da EBA. Acostumado a aliar dicas de amigos à vocação pessoal, Miranda nunca deixou de lado o que o destino lhe reservava. Na lembrança, rapidamente vem à tona a fase em que, cotidianamente, desenhava rostos a partir de fotos que caíam em suas mãos. Tais trabalhos renderam-lhe sua primeira exposição, realizada numa agência do Banco do Brasil em Conselheiro Lafaiete.

 

De gosto eclético, admirador dos trabalhos do pintor norueguês Edvard Munch, Miranda possui inúmeros objetivos pessoais e profissionais. Além de morar no exterior, desejo que lhe acompanha desde a infância - quando pensava em ir para a Itália viver como desenhista de rua -, o estudante pretende especializar-se em pintura e fazer pós-graduação em restauração. Apesar dos laços mantidos com a cidade natal, avisa que não volta a morar em Crucilândia. Diante das novas experiências que tem vivido atualmente, mantém constante no pensamento a presença da família. "Meu irmão de 6 anos já desenha. Quero estimulá-lo a continuar, além de ajudar meus familiares."

 

Novos ambientes

 

A idéia de se entregar de vez aos estudos artísticos surgiu após inúmeras "brincadeiras" da vida. Da infância em Crucilândia ao atual cotidiano na Escola de Belas-Artes, muitos fatos lhe marcaram a trajetória pessoal. A primeira "aventura" aconteceu no momento em que Miranda, com apenas 15 anos e apesar do enorme apego à família, resolveu deixar a terra natal para morar em Belo Horizonte. O pai, a madrasta e os irmãos não aprovaram muito a iniciativa, mas a vontade de conhecer novos ambientes foi mais forte. "Quando cismo com algo, não há nada que me faça mudar de idéia", afirma Miranda. Na capital mineira, a melhor oportunidade de trabalho apareceu numa revenda de automóveis pertencente a alguns de seus conterrâneos. "Lavei carros durante meses à espera de uma vaga no escritório", lembra.

 

Como a vaga nunca chegou, Miranda arrumou as malas com destino a Conselheiro Lafaiete. No município, trabalhou na loja de discos de uma tia e estreitou o contato com o desenho, atividade à qual sempre se dedicou. "Vários dos meus amigos desenhavam bem e me deram muitas dicas boas", diz o estudante, que só deixou Lafaiete para, novamente, buscar oportunidades na capital do Estado. Foi aí que falou mais alto o ideal de ingressar no curso de Belas-Artes da UFMG.

 

 

Maurício Guilherme Júnior