Trabalho com lipossomas premia professora da Farmácia
Desenvolvida na Universidade de Paris XI, tese concorreu com pesquisas francesas
Pequenas vesículas capazes de levar medicamentos para o interior das células, podendo diminuir seus efeitos tóxicos e aumentar sua estabilidade, os lipossomas foram objeto de um premiado estudo da professora Mônica Cristina de Oliveira, do Departamento de Produtos Farmacêuticos da Faculdade de Farmácia. A pesquisa – uma tese de doutorado desenvolvida na Universidade de Paris XI, de 1995 a 1998 – foi apontada como o melhor trabalho na área de Farmacotécnica em 1999, entre 16 estudos desenvolvidos por universidades francesas.
O estudo recebeu o prêmio da Association de Recherches Scientifiques Paul Newman – instituição que incentiva jovens pesquisadores – e da Association de Pharmacie Galénique Industrielle, ligada à indústria farmacêutica.
O trabalho da pesquisadora concentrou-se na avaliação da capacidade dos lipossomas de carregar fragmentos de DNA – chamados oligonucleotídeos – para o citoplasma ou núcleo da célula. “Dentro da célula, os oligonucleotídeos ligam-se a outro material genético, como o RNA ou DNA de um vírus causador de determinada doença ou responsável pela proliferação de células cancerosas, impedindo assim sua reprodução”, explica Mônica de Oliveira.
Esse tipo de terapia, conhecida como antisense, gerou medicamentos disponíveis no mercado, que utilizam os fragmentos de DNA fora dos lipossomas. Segundo a professora, nesse caso os oligonucleotídeos precisam ser modificados para resistirem à ação das enzimas presentes nos fluidos corporais e acabam causando efeitos adversos, principalmente problemas renais.
Os lipossomas analisados no trabalho de Mônica de Oliveira apresentam, ainda, a vantagem de ser sensíveis a mudanças de pH. “Mesmo no interior da célula, o lipossoma pode sofrer o ataque de enzimas destrutivas. Utilizando um tipo de lipossoma que se rompe quando o pH muda e libera os fragmentos de DNA, não há tempo para a ação enzimática, e o medicamento entra em ação”, afirma a professora.
Camundongos
A pesquisa incluiu testes com camundongos, que receberam lipossomas contendo oligonucleotídeos por via endovenosa. Segundo Mônica de Oliveira, se os fragmentos de DNA estivessem livres, sumiriam, no máximo, em dois ou três minutos. “Mas a presença deles foi constatada nos tecidos dos camundongos até 24 horas depois da aplicação sob a forma encapsulada, sinal de que os lipossomas cumpriram sua função de proteção”, detalha a pesquisadora, lembrando que a terapia antisense já está sendo testada em seres humanos no tratamento de câncer, inflamações e doenças virais.
A pesquisadora também acredita que a terapia poderia ser eficiente no tratamento de doenças como a hepatite, já que, nos testes realizados, os fragmentos de DNA concentraram-se no fígado e baço, órgãos que possuem células que fagocitam (engolem) os lipossomas com maior rapidez.
Múltiplas aplicações
A professora Mônica de Oliveira pretende agora implantar uma linha de pesquisa na Faculdade de Farmácia para continuar o estudo dos lipossomas como potenciais vetores de medicamentos na terapia antisense. O projeto está em fase de aprovação e envolverá professores e alunos de graduação e pós-graduação da Unidade, além de pesquisadores do ICEx e do ICB.
A pesquisadora explica que a aplicação dos lipossomas não se restringe aos medicamentos. Na área de diagnóstico, por exemplo, eles podem ser usados em testes para transportar quantidades maiores de anticorpos e na obtenção de imagens de tumores, através do encapsulamento de material radioativo. No caso dos alimentos, os lipossomas poderiam servir para envolver nu-trientes facilmente degradados pela luz ou “mascarar” outros que tenham gosto desagradável.
Glossário
Lipossoma – pequena vesícula com estrutura semelhante à da membrana celular e que facilita o transporte e a proteção de substâncias facilmente degradáveis. Oligonucleotídeos – fragmentos de molécula de DNA ou RNA que agem sobre o material genético de um agente causador de doenças. Terapia antisense – tratamento que utiliza os oligonucleotídeos, que agem no citoplasma ou núcleo da célula, para impedir a reprodução de agentes causadores de doenças.
Tese de Doutorado: Desenvolvimento de lipossomas pH-sensíveis para administração de oligonucleotídeos antisense: aspectos físico-químicos e biofarmacêuticos
Autora: Mônica Cristina de Oliveira, departamento de Produtos Farmacêuticos da Faculdade de Farmácia