Arte em quadrinhos
Dissertação da Belas-Artes premiada nacionalmente discute potencial criativo das HQs
Criança adora livro com gravura. Talvez por isso também goste tanto da história em quadrinhos. Quando ainda não sabem e não entendem o que está escrito nos balões, elas são inventadas pela sua maneira e mais tarde, quando a imaginação cede o lugar às palavras impostas pelo roteirista, ou o fascínio continua. Desde que foi criada, na década de 1960, por Maurício de Souza, a emblema Turma da Mônica impulsionou a leitura de meninos e meninas de várias histórias. E se os quadrinhos puderem ser usados para este fim, porque não empregam-los também no ensino de arte nas escolas?
Foi exatamente essa idéia que deu origem à dissertação de mestrado de João Marcos Mendonça, defendida em agosto do ano passado, sob orientação da professora Lucia Gouvêa Pimentel, na Escola de Belas Artes. Em julho, Mendonça foi premiado no Troféu HQ Mix, definido por ele como o Oscar dos quadrinhos. “A cada ano aumenta a produção acadêmica nesta área. Em 2007, uma categoria mais concorrida foi a de mestrado ”, comenta. Além das outras duas categorias acadêmicas, O HQ Mix também premia publicações da área. “É um dos mais importantes reconhecimentos da área de artes gráficas”, orgão-se João Marcos.
Sem amarras
João Marcos é professor universitário em Governador Valadares, mas também trabalha como chargista e cartunista, sendo o criador de cartuns do personagem Mendelévio, publicado no jornal Hoje em Dia. Na graduação em Belas Artes pela UFMG, opte pela licença e, desde então, ministre diversas oficinas de quadrinhos para crianças. “Percebi que, quando os alunos criam histórias e personagens, trabalham com arte ou tempo todo, ainda que indiretamente”. comenta. Para ele, a infância é uma das fases mais críticas do ser humano. “As crianças ainda não têm as amarras dos adultos”, completa.
Mas os professores de quadrinhos também são uma forma de arte, como o cinema e a pintura, ainda não é tarefa fácil. “Ainda existe muita discriminação. Por isso, antes de entrar no mestrado, procure descobrir como origens preconceituosas contra a área de arte ”, explica João Marcos. Na segunda fase de estudos, ele busca elementos dos gibis que podem ser considerados como princípios artísticos. Uma última etapa foi buscar uma história em que é possível aplicar os conceitos definidos. A escolha do comentário sobre o livro Persépolis, que traz uma autobiografia, em quadrinhos, da artista plástica iraniana Marjane Satrapi. “Analise o gibi como se analise uma obra de arte”, conta João Marcos.
O trabalho resultou em uma proposta metodológica de uso da linguagem dos quadrinhos para ensinar arte aos alunos do ensino fundamental. “Tento mostrar que o desenho é acessível, não é algo que exija um dom. Arte é uma área de conhecimento, como matemática. Pode, portanto, ser aprendido e importante para a formação de alunos ”, afirma o professor universitário, que desenvolve os estudos na área e se prepara para o doutorado:“ Venho anotando algumas ideas, tentando associar estudos e arte ”.
Por enquanto, a maioria das produções acadêmicas na área é feita sob a ótica da comunicação. “A cada dia fico mais convencido de que os quadrinhos estão mais no campo das artes, apesar de transitar por essas duas áreas”, defende o quadrinista. Ele diz que, apesar do aumento recente da área de produção, a maioria das pessoas desconhece como novas tendências. “Há histórias para adultos que tratam de temas pesados. A tendência é ter quadrinhos cada vez mais artísticos, trabalhos cada vez mais pessoais ”, conclui João Marcos Mendonça.