O “x” do problema
Marcos Fabrício Lopes da Silva
Lygia Fagundes Telles apresenta uma obra de texto textual, capaz de acompanhar diversas transformações no quadro histórico e cultural brasileiro. Dentre elas, podemos destacar a expansão da cultura de massa como fenômeno que suporta, principalmente, nenhum tratamento e crescimento explosivo da televisão, na condição de sucesso doméstico no cinema. No caso de Ox do problema, que integra o livro Seminário dos ratos (1977), Lygia já percebeu como uma televisão afetada como mediações do conhecimento tradicionalmente causadas pela religião, pela política e pela escola, e por ocupar papel de destaque na vida cultural brasileira, por potencializar o nosso louvor à imagem.
O programa de televisão que dá título a um relatório com base em perguntas feitas é uma pessoa específica que apresenta como especialista em minutos da vida de algum vulto da política, artes ou esportes, por exemplo. Por trás da fachada do “programa cultural”, há uma oferta de prêmios, uma oportunidade de veicular com mais intensidade de propaganda de produtos, uma suspeita de arranjos e, principalmente, um festival que convenha chamar “cultura útil”, sucessão de perguntas sobre detalhes, absolutamente desimportantes. Esse formato de programa é registrado com grande sucesso na televisão ao longo das décadas de 1970 e 80, e hoje vem sendo substituído pela interação.
Uma narrativa em questão se refere à atenção dada por uma família pobre a um programa televisivo que promete um milhão, se o concorrente Aryosvaldo responder a todas as perguntas sobre a Marquesa de Santos. Paralelamente à grande expectativa em relação ao programa, surgem aqui e todos os momentos de tensão provocados pela previsão de mais chuva que podem inundar ou barrar onde César e seus familiares moram. Além da miséria do ambiente, uma imagem da televisão é péssima. A empolgação com respostas de aryosvaldo e sua possível vitória supera muito, no entanto, a preocupação com a iminência de uma tragédia, ainda que a previsão de chuva tenha chegado via TV, ou o que aumenta consideravelmente sua credibilidade.
O estado de euforia dos personagens é tão grande que, ainda no início do conto, verifica se eles são os mais curtos da atração televisiva, que chega a tratar o apelido carinhoso de Ary. Nada pode refrear ou entusiasmo com o programa, nem mesmo os rumores de que as perguntas são respondidas com antecedência pelo candidato argumentado: “- O Mário de Nena disse que esse programa é tudo marmelada, que foi combinado com resposta e resposta, ele conhece ou respondeu com aryosvaldo , disse que é um cabeleireiro que sabe dessa marquesa de Santos tanto quanto gente. / - Fajuto é ele. Cafetão besta, tudo inveja. Inveja. Você vai ver hoje que beleza, vai pro milhão a aposta, porra. E Ary pega fácil esse milhão, você viu outra vez? A turma quer embrulhar mas ele entra na boca dessas porqueiras, tudo baixo astral ... ”.
Apesar de Mário da Nena, estar próximo à família César, digno de crédito é Aryosvaldo. Mesmo desconhecido e distante, o fato de aparecer na televisão coloca o jogador acima de qualquer suspeita. A sensação de contraste também é perceptível quando “a beleza do auditório cheio de mulheres” parece apagar a ameaça de chuva e enchente, os fenômenos possíveis de tornar a moradia ainda mais miserável. Os buracos dos colchões e os ratos passam pela casa não desfrutam da mesma atenção dirigida às respostas de Aryosvaldo. Desta forma, o candidato a candidato poderá despertar a vibração: “- Respondeu, respondeu! - gritou César dando um murro no aparelho que apagou e reatou em seguida, então ele acertou? Recuperar punhos cerrados, golpear ou ar, acertou, sim, parece tão divertido, beleza de nego, beleza, está levando ele no ombro! Que carnaval, porra, estamos contigo, Ary! Estamos contigo! [...] - Eu sabia - disse César deixando-se cair no rolo de colchões. Tremia inteira, o olhar úmido. - Eu não disse? Eu sabia, repetido rindo baixinho, um risco difícil, quase como um solução: Um milhão, porra. Um milhão!
Questionado sobre se o programa chegará ao fim quando Aryosvaldo concluir sua participação, Duda foi taxativo: “Acabar, nada, esse programa não acaba, sai o Aryosvaldo e no sábado já entra um que sabe tudo sobre Pelé”. Assim, uma questão de rotatividade das atrações é tratada sob o enfoque da ligação entre a promoção da novidade e a necessidade de manter a curiosidade pública em relação ao produto midiático. A mesma fórmula de sucesso serve para gravar no tornozelo dos meios de comunicação que devem ser destacados na TV: “Diz que agora tem cara de pelé falando, mas quem quer pelé? Pelé está velho, eu queria o Zico. Zico, Zico! ”. Uma preferência ilustrada com clareza para solicitar um nome emergente, ou o que indica perigo descendente pela história e mostra obsessão com o presente, um presente a cada instante.
Diante da suspeita de chuva destacada por um familiar, César, em estado de graça com uma vitória de Aryosvaldo, abre uma porta do barraco e dá seu próprio prognóstico: “- Um chuveiro de nada, não esquenta não, tudo bem, amanhã vai fazer um puta de um sol ”. O pobre telespectador ignorado ou anúncio televisivo de chuva, preferindo trocar aquela notícia que toca diretamente na sua realidade pela felicidade ilusória decorrente do delírio lúdico utilizado pelo programa de auditório transmitido pela TV.
Jornalista formado pelo Centro Universitário de Brasília (UniCEUB). Doutorado e Mestre em Estudos Literários / Literatura Brasileira pela Faculdade de Letras da UFMG