Campus em folia

Um só “tiro” no botulismo

Nova vacina desenvolvida pela UFMG contra doença que atinge rebanho bovino garante imunização com dose única.

Em uma dose única, milhões de bezerros imunizados. Ele promete pesquisa em curso na UFMG que busca desenvolver nova vacina contra o botulismo tipo D, doença alimentar que atinge 720 mil cabeças de gado. Resultados dos estudos apresentados como estudo do doutor Edson Moura, publicado no início do mês junto ao Programa de Pós-Graduação em Farmácia da UFMG.

A vacina proposta por Moura difere de benefícios e benefícios que podem permitir o rebanho bovino brasileiro e seus criadores. O produto disponível no mercado, criado à base de alumínio, exige duas aplicações para produzir efeitos nos animais que recebem pela primeira vez. Já é vacinado em estudos na UFMG, preparado com quitosana, formulado em hidrogel ou em micropartículas. “Desenvolvemos um sistema de liberação que, com uma dose única (injeção única), obtém uma resposta imunológica melhor que é alcançada por duas doses da vacina tradicional”, compara Moura.

Uma dose menos parece pouco, mas quando esse número é multiplicado por milhões de bezerros que são imunizados no Brasil, essa causa toma outras proporções. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem no Brasil aproximadamente 205 milhões de cabeças de gado, sendo 48 milhões de bezerros. A utilização da vacina única dose em apenas metade desse contingente é uma economia estimada em R $ 126 milhões. “Quando a aplicação de uma segunda dose, o animal perde, em média, 1,5 kg, devido ao estresse causado durante o processo de manejo, diminuindo a pesquisa”, explica o pesquisador.

A vacina

Segundo Edson Moura, toda vacina contra botulismo é tratada por toxoide - toxina botulínica atenuada - que, para tornar eficaz a imunização de animais, precisa ser misturada com outras substâncias, os quais são utilizados como adjuvantes. Nas vacinas existentes no mercado, essa substância é um sal de alumínio, em geral, ou hidróxido de alumínio. Em seu estudo, Edson Moura ofereceu quitosana, polímero encontrado no exoesqueleto de crustáceos, ou segundo mais abundante na natureza.

A troca de adjuvante permitiu modificar uma maneira como o antígeno é apresentado ao organismo. Conforme explica Edson Moura, uma ópera popular como reservatório, hidrogel ou micropartícula, que salva ou antigamente ao organismo de forma mais prolongada. “Isso reduz ou diminui o risco de sofrer rapidamente uma  degradação proteolítica . Além disso, a quitosana tem por característica de atrair células específicas do organismo, como os macrófagos, e induzir a produção de bloqueio para neutralizar uma ação da toxina ”, informa Moura.

Como a quitosana exerce melhor o papel adjuvante que o hidróxido de alumínio, as vacinas que se valem do polímero favorecem a manutenção mais alta e constante das taxas de anticorpos. Em experimentos biológicos, a vacina convencional e as com quitosana apresentaram índice satisfatório de anticorpos no 42º dia de vida do animal. No entanto, esclarece o pesquisador, testes de eficácia realizados em cobaias indicam que a imunidade tende a cair ao longo do tempo nas vacinas convencionais. Em contrapartida, aquelas formuladas com quitosana aumentam os níveis de anticorpos, chegando a superar em 20 vezes o produto com hidróxido de alumínio.

Armazenamento

A vacina desenvolvida por Edson Moura trabalha com duas alternativas para o armazenamento do antígeno no organismo: hidrogel e micropartículas de quitosana. O hidrogel, sistema gelificado em meio aquoso, é carregado de cargas positivas e interage com o toxoide, de carga negativa.

A vantagem do hidrogel, segundo Edson Moura, está em seu processo de obtenção, relativamente simples na indústria farmacêutica. Já as micropartículas poliméricas, além de mais eficientes no papel de reservatórios que o hidróxido de alumínio, têm maior capacidade de proteger o toxoide da degradação proteolítica processada no organismo, já que forma um invólucro em torno dele. A desvantagem está no processo de produção, mais caro e sofisticado.

Doença é provocada por alimentos contaminados

O botulismo é uma infecção alimentar potencialmente fatal causada pela toxina liberada pela bactéria Clostridium botulinum. Entre os tipos de toxinas produzidas, dois afetam os animais – C e D. O último foi alvo dos estudos de Edson Moura.

A doença é contraída por meio da ingestão de toxina ou bactéria presente na carcaça de animais mortos deixados no campo ou de alimentos contaminados com carcaças de aves e pequenos animais. A incidência é maior quando o animal é acometido por osteofagia, hábito de roer ou lamber carcaças, ocasionado por deficiência de fósforo.

Tese: Desenvolvimento de vacina contra botulismo tipo D utilizando como adjuvantes micropartículas e hidrogel de quitosana Autor: Edson de Souza Moura Defesa: 2 de fevereiro de 2011, junto ao Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas da Faculdade de Farmácia Orientador: Armando da Silva Cunha Júnior Co-orientador: Luiz Guilherme Dias Heneine

Processo de destruição e eliminação de proteínas no organismo provocado pela ação de enzimas (proteases) que clivam as ligações entre os aminoácidos.

Fred Lamêgo.