Quente Horizonte

A “Ex-sala” de música do Centro Pedagógico

Até quando será preciso justificar a importância das artes em uma escola de ensino fundamental? Fique sabendo de estarrecedora e triste notícia sobre uma “ex-sala” de música no Centro Pedagógico da UFMG. Aquela na qual professores, artistas e crianças aprendem e guarda uma história rica na formação dos alunos da escola.

Por ela estudou estudantes que transformaram artistas, embora um ensino fundamental não tenha o objetivo de formar artistas, mas que contribua para que muitos talentos sejam despertados ali, que sejam jovens no cotidiano escolar. Sala que viu cirurgia e abertura, durante 10 anos, ou Pandalelê: Laboratório de Brincadeiras do CP-UFMG.

Aquela sala, agora, está fechado para música. As crianças e os adolescentes não podem usar um espaço adequado para movimentos rítmicos, escuta, criação musical e aprimoramento da atenção, tão pouco praticáveis na prática artística e na vida em geral, inclusive no próprio desempenho escolar. Muitas vezes confundimos privilégios com condições de trabalho. Sempre foi possível uma sala apropriada para o ensino de música, por que transformá-la em uma sala comum? É uma escola de pesquisa que se torna uma escola comum?

O piano da sala está mudo. Trancado e calado para sempre? Como explicar como razões desse fechamento em um momento em que uma música se torna obrigatória no ensino fundamental? Qual é a justificativa para essa escola, que tanto contribuiu para o ensino de forma geral, como um ato tão simbólico? É lamentável. Como as mudanças são necessárias e até o momento que está ganhando, é preciso mexer, controlar o velho ditado. Mas é difícil compreender por que o mexer em algo quando a perda é muito maior do que os ganhos.

O que acompanha, desde o final do ano passado, tem demonstrado o tempo ou outro. Parece-me que CP está tomando um ritmo diferente no grupo de professores acreditado em um processo de educação diferenciado, mais aberto e distinto do que vê por aí. Uma escola virou, uma vez, uma escola como outra? E os pais e mães? Que tipo de escola eles têm para seus filhos?

Lamento a pressão que o Núcleo de Arte tem vivido no CP. Essa escola, inserida no ambiente universitário, está indo em uma direção preocupante em relação à presença das artes no seu ensino fundamental. Além das questões acima, observe outra gravidade institucional: de um lado, temos duas unidades da UFMG que licenciam licenças na área artística: música, artes visuais, teatro e dança. A primeira, na Escola de Música e as outras três, na Escola de Belas Artes. Cabe lembrar que as Licenciaturas em Música e Artes Visualizam dados de longa duração. Já está licenciado em Teatro desde 1999, e, no ano passado, iniciou a primeira turma de Licenciatura em Dança.

De outro, temos o CP que fecha uma sala de música e impõe obstáculos para o exercício do ensino das artes. É a primeira vez, em seus 40 anos de existência, que a escola começa um novo ano letivo sem um professor na área de música. Ou melhor, observe a ausência de sala e o profissional de ensino de música, duas referências que marcam uma ideia de escola.

Em um ambiente escolar, qualquer professor pode cantar, desenhar, fazer um jogo teatral e dançar, além de levar essas manifestações aos seus alunos. No entanto, o ensino das artes deve usar o treinamento específico. É esse profissional que fornece as ferramentas técnicas e expressivas para quem pode desenvolver seu potencial artístico. Pode qualquer pessoa ministrar aula de geografia, de matemática? Qualquer um pode alfabetizar?

Parece-me uma incoerência que a própria UFMG tenha cursos de licenciatura em quatro áreas artísticas, e a Escola de Ensino Fundamental, inserida em seu ambiente acadêmico, não reconheça esses cursos. Será que a própria Universidade não está acreditando no que faz? O que vamos dizer aos nossos alunos da graduação que se formarão em uma dessas licenciaturas artísticas? Que lastro o CP dará a seus alunos em relação à presença das artes no ambiente escolar?

É nesse contexto que chamo a atenção para o que ocorre com artes no CP. A música, que é o foco da questão atual e, ao longo desses anos, sua presença na matriz curricular, teve um lugar de destaque na experiência de seus alunos. Essa escola pública, inserida no espaço universitário e com privilégios de pesquisa, pode influenciar um número considerável de alunos que podem se apresentar como artistas e que estão atuando profissionalmente como músicos, como instrumentistas ou como docentes. É importante lembrar que não basta uma escola ter essa arte em seu currículo; uma família também tem importância vital nesse processo formativo, inclusive em qualquer área profissional. A música é constituinte da cultura humana. Alguém já viu uma sociedade sem expressão musical? Ela é parte inseparável da textura das relações entre os seres humanos e entre as pessoas e a própria vida.

Aqui você encontra o registro da minha tristeza e indignação com o que vem acontecer com o Núcleo de Arte tão baixo quanto a escola. O núcleo que sempre foi avaliado pelos órgãos da UFMG nos relatórios anuais e, principalmente, pelos alunos que passaram por lá.

Como diz um provérbio árabe: “Só se atiram pedras na árvore que dá frutos”.

Professor da Escola de Belas Artes da UFMG. Ex-professor do Centro Pedagógico

Eugenio Tadeu.