Na carangola
Em março de 1969, uma das quatro salas de aula da parte central do 7o andar do prédio da Fafich-UFMG, na Rua Carangola, 288, recebeu nova turma de calouros, usou o vestibular integrado dois meses antes. É um oitavo turma do Curso de Jornalismo, fundado em 1962. Naquele tempo, ninguém procurava esse curso para estudar comunicação social. Era uma expressão pouco usada. A maioria dos que ali estavam queria ser jornalista. Em plena ditadura militar, repressão política e censura à imprensa, querer ser jornalista era uma espécie de transgressão. Passava longe o sonho de nossos pais: médicos, dentistas e engenheiros que experimentam vida menos perigosa e mais bem remunerada.
É certo que o curso, apesar da precariedade da época, se refere à polivalência. Teve aulas de publicidade e relações públicas, carreiras que acabaram seduzindo um ou outro daqueles 45 calouros, com exceção de uma que, na verdade, já tinha outros planos: era um espião - descobridores mais tarde - infiltrado pelo serviço de inteligência federal. A verdade foi revelada, para surpresa geral, pelo mais velho dos nossos colegas (então com 45 anos), delegado da polícia em Nova Lima, que todos os jurados nós tratamos se um dedo danificado e danificado, sem final, apareceu-se um dos caras mais corretos e legais da turma - festeiro e brincalhão, apesar de suas roupas e piadas antigas.
Mas esse é apenas um dos muitos casos que compõem o relicário de boas lembranças que nós - e praticamente todo mundo que passou por lá - levamos para o resto da vida. O prédio da Carangola hospedado por muitos anos foi uma mistura de festa e resistência que encantava a todos. Por mais que a repressão tentativa - e como impedir - esvaziar a mais rebelde e temida das faculdades da UFMG, uma era de Fafich em um mundo à parte. Para começar, desdobrar uma faculdade antiga, transformar alguns cursos, como letras, psicologia, geografia e sociologia, em faculdades isoladas, embora habitualmente ou mesmo prédio.
Mas, enquanto convive sob o mesmo teto, o pessoal de todos os cursos mantém o espírito da casa: muita conversa, amizade e uma troca intensa de impressões sobre os últimos livros de política, poesia, literatura ou filosofia, os novos discos da MPB , os últimos filmes de Fellini, Godard, Truffaut e Buñuel.
É verdade que, se não perdermos tempo com mistérios quase inúteis da ciência da comunicação, também tivemos aulas das quais nem lembramos o conteúdo, nem tão importantes e tão mal ministradas. Em compensação, marcar para sempre nossas vidas ou saber a dignidade de mestres como José Mendonça, Jacques Brandão e Anis Leão. Além de passar como técnicas básicas de jornalismo, conseguiu-se impregnar um senso de ética marcante e uma responsabilidade profissional dos quais nunca mais foram detectados (ainda bem!). Não havia jornal de laboratório nem ilha de edição, mas, dessa geração, quem queria ser jornalista ou assessor de imprensa não teve a menor dificuldade. A maioria se profissionalizou e fez carreira.
Mas, muito além do diploma e da profissão, quem estudou na velha Fafich da Rua Carangola leva até hoje a certeza de que aqueles foram alguns dos melhores anos de nossas vidas.
Os jornalistas Pedro e Júnia Lobato conheceram-se durante o curso e formaram-se na turma de 1971.