Aquecer o inverno

Da bancada para o comercio

Nova vacina contra a leishmaniose e exame para diagnóstico do zika vírus são desenvolvidos em novo centro que pretende aproximar pesquisa e indús

Da equerda para a direita: professora Santuza Maria Ribeiro Teixeira, professora Ana Paula Fernandes, Maria Marta Figueiredo, Lara Carvalho, Angélica Rosa e professores Ricardo Gazinelli e Flávio Guimarães
Da equerda para a direita: professora Santuza Maria Ribeiro Teixeira, professora Ana Paula Fernandes, Maria Marta Figueiredo, Lara Carvalho, Angélica Rosa e professores Ricardo Gazinelli e Flávio Guimarães Foca Lisboa

Inaugurado em abril, o Centro de Tecnologia de -Vacinas (CT-Vacinas) já está funcionando no prédio do Parque Tecnológico de Belo Horizonte, o BH-Tec. Uma das pesquisas em andamento está relacionada ao desenvolvimento de vacina contra a leishmaniose visceral humana. O grupo de pesquisadores responsável pelo estudo já atuou na formulação de uma vacina contra a leishmaniose visceral canina, que se encontra no mercado desde 2008. “Testes mostraram que a vacina canina LeishTec, única disponível no mercado nacional desde 2008, foi desenvolvida por nós em 1998, garante 96% de proteção em cães, o que equivale de 72% a 82% de eficácia. Com base na experiência com a LeishTec, agora estamos trabalhando, no âmbito do CT-Vacinas, na formulação de nova vacina para a leishmaniose que possa ser aplicada em humanos”, explica a professora Ana Paula Fernandes, do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da Faculdade de Farmácia da UFMG.

Com equipe formada por quatro professores da UFMG,  uma pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz Minas) e três pesquisadores que atuam no BH-Tec, o centro também pretende desenvolver pesquisas que resultem em exames para o diagnóstico de doenças como dengue, zika e chikungunya, além de estudos relacionadas à Doença de Chagas. No momento, equipe coordenada pelo professor Flávio Guimarães da Fonseca, do Departamento de Microbiologia do ICB,  desenvolve novo método de diagnóstico para o zika vírus. “Ainda não existe um diagnóstico sorológico diferencial para dengue, zika e chikungunya. Tudo é baseado no diagnóstico molecular, muito distante do paciente e que o transforma em mera estatística da doença. Hoje, o médico precisa diagnosticar essas doenças pelos sintomas. Por isso, estamos desenvolvendo no CT-Vacinas um método de diagnóstico sorológico, que é mais preciso e eficiente, capaz de identificar o vírus com o qual a pessoa se infectou”, explica Fonseca.

Segundo a coordenadora do CT e professora do Departamento de Bioquímica e Imunologia do ICB, Santuza Maria Ribeiro Teixeira, o centro cria condições para que pesquisas destinadas ao desenvolvimento de produtos sejam conduzidas de forma mais eficiente. “Nossos pesquisadores estão 100% dedicados a essa tarefa, e a infraestrutura do Centro foi planejada com essa finalidade. Muitas vezes, a pesquisa básica e aplicada que realizamos nos laboratórios da universidade está longe de ser formatada para chegar ao mercado como um produto. No Brasil, existe uma dificuldade, tanto das universidades como dos centros de pesquisa e das empresas, para fechar esse ciclo. O CT aproxima essas duas esferas”, conclui.

Origem

A ideia de criar o CT-Vacinas nasceu de demanda dos pesquisadores do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Vacinas e da Rede Mineira de Biomoléculas, coordenados pelo professor do Departamento de Bioquímica e Imunologia do ICB Ricardo Gazzinelli. A proposta é que o CT-Vacinas acelere o desenvolvimento de ideias inovadoras criadas pelo grupo, favorecendo a transferência de tecnologia para a sociedade, indústrias e start-ups.

“Esperamos que, com o CT-Vacinas, esse processo de transferência de tecnologia, que foi lento e difícil com a LeishTec, ganhe em rapidez e eficiência”

O desenvolvimento da LeishTec foi o primeiro passo para as atividades do CT. Em 2003, com a primeira publicação relativa às pesquisas sobre a vacina, a equipe dos professores Ana Paula Fernandes e Ricardo Gazzinelli foi procurada pelo laboratório -Hertape, interessado em produzi-la comercialmente. A tecnologia da vacina foi transferida para essa empresa, que passou a financiar a pesquisa conduzida pela equipe da UFMG.

Segundo Ana Paula Fernandes, a criação da LeishTec serviu como modelo para a criação do CT-Vacinas porque, durante o seu desenvolvimento, a equipe de pesquisadores responsável pelos trabalhos e a Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT-UFMG) perceberam como era importante a Universidade ter uma estrutura capaz de fazer a ponte entre a pesquisa desenvolvida em seus laboratórios e o mercado que produz e disponibiliza a vacina. “Esperamos que, com o CT-Vacinas, esse processo de transferência de tecnologia, que foi lento e difícil com a LeishTec, ganhe em rapidez e eficiência”, conclui Ana Paula.

CT foi montado com recursos de R$ 2 milhões

O CT Vacinas integra o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) de Vacinas, rede de pesquisa coordenada pelo professor Ricardo Gazzinelli. A Universidade também sedia INCTs destinados à criação de tecnologias relacionadas à web, aos nanotubos de carbono e às inovações farmacêuticas, entre outros.

O centro é financiado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig) e pela própria UFMG. Para a montagem do laboratório onde o CT funciona, no BH-Tec, foram investidos mais de R$ 2 milhões. 

Fazem parte da equipe do CT-Vacinas os pesquisadores Santuza Maria Ribeiro Teixeira, Ricardo Gazzinelli, Ana Paula Fernandes e Flávio Guimarães da Fonseca, da UFMG, Caroline Junqueira, da Fundação Oswaldo Cruz, e Maria Marta Figueiredo e Lara Carvalho, contratadas pelo CT-Vacinas.

Luana Macieira