Passaporte para um mundo melhor
Editorial
Em duas décadas, o Brasil saltou da 21ª posição para o 13º lugar no ranking mundial da produção científica. No período, a produção científica global cresceu 2,7 vezes, enquanto a brasileira subiu quase sete vezes mais, índice semelhante ao da Coreia do Sul e superior ao de países desenvolvidos, como Canadá, Alemanha, Reino Unido, Estados Unidos e Rússia.
Apenas esses dois indicadores – e muitos outros poderiam ser mencionados – são suficientes para justificar a existência do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, o principal responsável por essa mudança de patamar. Por isso, a fusão das atribuições da pasta com as das -Comunicações em uma única estrutura ministerial preocupa muito a comunidade científica brasileira e vem estimulando mobilizações de diversas naturezas – desde a substituição de fotografias dos pesquisadores pela inscrição Fica, MCTI, em seus perfis na Plataforma Lattes e nas redes sociais, até a realização de atos públicos, como o que reuniu cerca de 300 pessoas no gramado da Reitoria da UFMG no início deste mês.
Esse é o contexto que orienta a produção desta edição temática do BOLETIM. Nas páginas seguintes, o leitor tem à disposição um panorama das implicações dessa decisão no sistema de ciência, tecnologia e inovação do país. Ouvimos pesquisadores, gestores e especialistas vinculados ou não à UFMG, e a conclusão é unânime: o país só tem a perder com essa nova configuração e com o corte de recursos que tende a se aprofundar em decorrência dela – redução que começou há dois anos depois de mais de uma década de aportes crescentes. Todo um esforço de décadas, que fez do Brasil um player mundial em áreas como biotecnologia, nanotecnologia e pesquisas ambientais, poderá ter sido em vão.
O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação é uma necessidade, e sua junção com a pasta das Comunicações representa “grave retrocesso”, como definiu o Conselho Universitário em nota divulgada à comunidade. Igualmente necessárias são as políticas de inclusão nas áreas de educação e o fortalecimento do Sistema Único de Saúde, também ameaçados na atual conjuntura.
É impossível superar desigualdades históricas em um país injusto como o Brasil sem políticas de Estado desenvolvidas em longo prazo, e não se consegue levar adiante essas políticas sem mobilização e resistência às ameaças de retrocesso, atributos que nunca faltaram à UFMG. Ciência, tecnologia, inovação, saúde e educação representam o passaporte do país para o futuro.
Esta edição contou com o apoio da equipe da Rádio UFMG Educativa (104,5), responsável por várias entrevistas. As ilustrações são de autoria de Lucas Braga, Lucas Marques Ferreira e Lais Drummond. Os trabalhos dos dois últimos, que integram o Grupo de Pesquisa em Ilustração, da Escola de Belas-Artes, foram produzidos no âmbito da disciplina Desenho A, ministrada pela professora Conceição Bicalho.