Relógio desregulado

Alcance Estendido

Revista InterFaces, da Extensão, se torna bilíngue; objetivo é aumentar possibilidades de interlocução fora do país

Imagem de capa do novo número da Interfaces, agora bilíngue
Imagem de capa do novo número da Interfaces, agora bilíngue Foto Paulo Borges/ diagramação Gabriela Carraro

Uma das ações que visam ao fortalecimento e à internacionalização da Extensão na UFMG é a elevação do padrão de qualidade e do alcance da revista InterFaces. E o último número, recém-lançado, é o primeiro bilíngue, com textos em português e espanhol. A revista, que também está aberta a colaborações em outros idiomas – nesse caso, o texto será publicado em três línguas – conta com conselho editorial formado por professores e pesquisadores de países como Espanha, Argentina, Colômbia, México e Angola.

“Nosso objetivo é que a produção da InterFaces dialogue com outros contextos e amplie o raio de interlocuções e parcerias de nossas atividades”, diz a pró-reitora adjunta de Extensão da UFMG, Claudia Mayorga, que é editora da revista. O diálogo em português e espanhol, por meio da revista semestral, promete ser extremamente frutífero, segundo ela, já que há importantes redes de pesquisadores que se dedicam à pesquisa sobre problemáticas comuns. A iniciativa de incluir versão em outro idioma é pioneira entre as publicações dedicadas à extensão universitária no Brasil.

“Nosso objetivo é que a produção da InterFaces dialogue com outros contextos e amplie o raio de interlocuções e parcerias de nossas atividades”

Questões ambientais e de direitos humanos, entre outras, unem países da África e da América Latina, por exemplo. “O debate hoje é marcado pela ideia de ‘epistemologias do Sul’, pregando formas de articulação entre países com históricos sociais e políticos semelhantes, que muitas vezes se tornam invisíveis em razão da hierarquização do conhecimento que marca as relações internacionais”, comenta Cláudia Mayorga, ressaltando o potencial de contribuição das políticas de extensão para os esforços de internacionalização. 

De acordo com a pró-reitora adjunta, a internacionalização já está consolidada na pesquisa, e essa demanda chegará à extensão mais cedo ou mais tarde. “A UFMG se adianta para ser propositiva”, diz Claudia, lembrando que a Universidade passou recentemente a compor o comitê de extensão da Associação das Universidades do Grupo Montevideo (AUGM) e tem formado outras redes internacionais.

Trajetórias distintas

Cláudia Mayorga:UFMG se antecipa a uma demanda iminente
Cláudia Mayorga:UFMG se antecipa a uma demanda iminente Foca Lisboa/UFMG

A pró-reitora adjunta lembra que a linha editorial da InterFaces é definida também com a participação de especialistas de trajetórias sociopolíticas distintas – há no conselho um doutor indígena (da etnia Guarani-Kaiowá), uma doutora transgênero e pesquisadores negros. “A ideia é que nossa revista abrigue a diversidade nas suas várias formas: institucional, territorial, social e política”. Isso tem estreita relação, segundo Mayorga, com um dos pilares da extensão, que é a diversidade de vozes e atores. “A extensão envolve, por definição, professores, estudantes e sujeitos das comunidades, não fica centralizada nos pesquisadores”.

Claudia Mayorga enfatiza também que o processo de internacionalização não deve ser acrítico. A tendência é de uma releitura desse fenômeno, que, segundo ela, deve “caminhar de mãos dadas com a perspectiva da descolonização do pensamento, sem submissão ao que vem de fora”.

Espanhol contra-hegemônico

Sobre a iniciativa de tornar a InterFaces bilíngue, a diretora adjunta de Relações Internacionais, Míriam Jorge, ressalta que já não é suficiente publicar em uma única língua. Ela acrescenta que a escolha do espanhol tem a vantagem de funcionar como contraposição à hegemonia do inglês e de favorecer o diálogo com países latino-americanos e caribenhos. Mais ainda, a revista passa a chegar com mais eficácia à grande comunidade de falantes do espanhol em universidades norte-americanas. “A revista bilíngue valoriza a extensão, que ganha como conceito. E a nossa comunidade também só tem a ganhar”, afirma 

“A revista bilíngue valoriza a extensão, que ganha como conceito. E a nossa comunidade também só tem a ganhar”

Coordenadora do Núcleo de Pesquisa e Estudo sobre a Mulher (Nepem), a professora Marlise Matos destaca que a InterFaces bilíngue será instrumento importante para que a UFMG mostre sua expertise na atividade extensionista. A internacionalização, segundo ela, cria novas possibilidades para a UFMG, “que não quer apenas beber conhecimento de fora, já que tem muito a ensinar”. Para a professora do Departamento de Ciência Política, que tem mantido contatos com universidades dos Estados Unidos e da América do Sul, a revista deve fazer o papel de vitrine para o conjunto de projetos desenvolvidos por aqui. “É uma forma de divulgação estratégica, que terá também o efeito de valorizar internamente a extensão da UFMG”, afirma Marlise Matos.

O programa Polos de Cidadania, de extensão e pesquisa social aplicada, tem intensificado os esforços de internacionalização, especialmente na perspectiva Sul-Sul, na integração com países africanos e latino-americanos. Segundo o coordenador do programa, André Luis Freitas Dias, professor da Faculdade de Direito, o aumento da inserção internacional de publicações como a InterFaces é um avanço fundamental.

“É mais do que necessário convidar pesquisadores e comunidades de fora do país para mostrar seus trabalhos e também publicar lá fora”, diz ele, explicando que a principal ferramenta do programa é a pesquisa-ação, que conta com a participação das comunidades,  que, mais que parceiras, são coautoras. “Lidamos, por exemplo, com populações afetadas pela atividade minerária e precisamos ampliar nossos horizontes para regiões da América Latina com problemas semelhantes. Para a compreensão de casos complexos, é vital o diálogo em âmbito global”, completa André Dias.

Reflexões e relatos

Publicada desde 2013, InterFaces contém artigos com reflexões teóricas e metodológicas sobre a produção em extensão, incluindo a relação com o ensino e a pesquisa, e relatos de experiências. A edição recém-lançada (v. 4, nº 1) aborda temas como práticas educativas com crianças e adolescentes acolhidos e efeitos de reeducação alimentar e atividade física no peso corporal de crianças. Alguns dos textos contam experiências envolvendo direitos de adolescentes trans, ações interdisciplinares relacionadas ao autocuidado masculino e construção de cartilha educativa como ferramenta de apoio em ambiente hospitalar.

Itamar Rigueira Jr