Rumo ao terceiro milhar

Testemunha ocular

Quase metade da história da UFMG está registrada nas duas mil edições do BOLETIM

Nas últimas quatro décadas, o Brasil atravessou uma ditadura militar e um processo de redemocratização, ganhou nova Constituição e voltou a escolher seus presidentes pelo voto direto – ainda que dois deles não tenham concluído seus mandatos. A UFMG sentiu na pele os efeitos desse percurso errante, experimentando avanços, crescimento, mudança de perfil e momentos de crises, principalmente de natureza orçamentária. Boa parte dessa trajetória está registrada nas páginas do BOLETIM, que chega nesta semana à edição 2.000.

Essa história começou a ser escrita em 27 de setembro de 1974, quando, em decorrência de uma ordem de serviço assinada pelo então reitor Eduardo Osório Cisalpino, circulou a primeira edição da publicação. De acordo com o documento, o novo veículo nascia com a missão de divulgar atos da Reitoria e “notícias das unidades e outras informações de interesse da comunidade universitária”.

O ambiente turbulento da época influenciou a decisão da Universidade de lançar uma publicação oficial, relembra o professor Cisalpino, hoje aposentado. “O BOLETIM foi criado em um contexto em que conversas e boatos, muitos comuns à época e nem sempre verdadeiros, circulavam na Universidade. Isso em tempos de ditadura tornava tudo muito perigoso. As informações veiculadas no BOLETIM seriam, portanto, as oficiais”, relata.

O jornalista Manoel Marcos Guimarães, criador e primeiro editor do BOLETIM, vê o veículo como importante fonte da história da UFMG. “Pesquisadores e estudiosos, com certeza, encontrarão na coleção de dois mil exemplares referências capazes de despertar interesse por novos temas, com indicações precisas, pois uma das características marcantes da publicação tem sido, desde sempre, o cuidado extremo com a precisão das informações”, afirma o jornalista, ao lembrar que o caráter regular de sua circulação possibilitou ao veículo “registrar quase metade da vida da Instituição, que acaba de completar 90 anos”.

Crescimento, crises e pesquisa

As profundas transformações pelas quais a Universidade passou neste século são retratadas em vários números. Na edição 1.583, de 24 de setembro de 2007, o BOLETIM noticiava a adesão da UFMG ao Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), ponta de lança do seu processo de ampliação. Em 2 de fevereiro de 2009 (edição 1.639), o então pró-reitor de Graduação, Mauro Braga, analisava, em entrevista, os primeiros efeitos da adoção do bônus sociorracial, medida de inclusão sucedida quatro anos depois pela Lei de Cotas.

Também as crises orçamentárias sempre foram abordadas pelo veículo. A edição de 5 de abril de 1983 destacava a publicação de nota oficial do Conselho Universitário sobre as dificuldades financeiras que afligiam a UFMG na época: “É absolutamente necessária e urgente a mobilização de todos os setores da sociedade contra o processo de destruição a que vem sendo submetido a universidade pública brasileira”, advertia o texto. Recentemente, o tema voltou às páginas do BOLETIM com força redobrada. A edição 1.946, de 27 de junho de 2016, repercutiu as incertezas geradas pela fusão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação com o das Comunicações. Quatro meses depois, na edição 1.962, a publicação apresentou um diagnóstico dos riscos impostos pela PEC 241 – hoje Emenda Constitucional 95 – sobre a continuidade dos avanços alcançados pelas universidades nos últimos anos.

Criado inicialmente para divulgar informações oficiais da UFMG, o BOLETIM, aos poucos, transformou-se também em veículo de divulgação científica, publicando matérias sobre as pesquisas desenvolvidas nos laboratórios da Instituição. Os estudos sobre vacinas e diagnósticos de leishmaniose, por exemplo, em curso na Universidade desde os anos 1960, passaram a ser sistematicamente noticiados pela publicação. Em 28 de junho de 2000 (edição 1.282), o professor Wilson Mayrink, que ­coordenou a primeira vacina desenvolvida no mundo para combater a versão tegumentar da doença, fazia um balanço dos resultados de suas investigações. Há poucas semanas (edição 1.998), a publicação abordou um estudo da nova geração – que pode resultar em uma vacina de largo espectro e método de ­diagnóstico – que venceu o Grande Prêmio UFMG de Teses.  

Charge

LOR

 

Sem perder o humor

A charge reproduzida acima não foi encomendada para esta edição. Foi publicada pela primeira vez há quase 30 anos, em 1988, mas não envelheceu. Seu autor, o cartunista Luiz Oswaldo Rodrigues, o LOR, professor da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, colaborou com o BOLETIM por quase uma década. 

Graças a esse cartum, vencedor do Salão Internacional de Humor de Piracicaba, LOR recebeu um convite para colaborar no jornal O Dia, do Rio de Janeiro, alternando com o cartunista Jaguar. Em seguida, foi chamado também para ser o chargista do jornal paulistano Diário Popular, onde trabalhou por 15 anos. “Publiquei cerca de dois mil cartuns, e diversos deles foram reconhecidos em prêmios e destaques na imprensa”, conta LOR, que agradece o convite do jornalista Manoel Guimarães para colaborar com o BOLETIM. Em suas palavras, o gesto abriu-lhe “a porta carinhosa por onde foi possível essa passagem”.

Flávio de Almeida