Antártica, aqui

Ciência no gelo

Pesquisas da UFMG desenvolvidas na Antártica inspiram nova exposição do Espaço do Conhecimento

Longe dos laboratórios, do conforto dos gabinetes e das bibliotecas, pesquisadores têm encarado o desafio de fazer ciência no continente mais inóspito do planeta. As primeiras expedições do Brasil à Antártica começaram há mais de três décadas, e o país já é considerado um dos líderes em pesquisas de vanguarda nas terras geladas. Nos últimos anos, a UFMG tem-se firmado como uma das principais parceiras do Programa Antártico Brasileiro (Proantar), da Marinha.

Fungos que podem erradicar doenças, histórias não contadas sobre os primeiros desbravadores do continente e os impactos que a condição de vida extrema pode causar nos pesquisadores são alguns dos aspectos abordados nos projetos de pesquisa ­MycoAntar, Paisagens em branco e ­MediAntar, que investem em estudos de biologia, arqueologia e antropologia e medicina polar. 

Trazer essa história para mais perto da população e os resultados alcançados é a proposta da Expedição Antártica, nova exposição do Espaço do Conhecimento UFMG, em parceria com a Unimed-BH e o Instituto Unimed-BH, que será inaugurada na próxima quinta-feira, 7 de dezembro, e fica em cartaz até abril de 2018. A entrada é gratuita.

“Além de simular um ambiente similar ao vivenciado na Antártica, a exposição reúne uma diversidade de objetos coletados e utilizados durante as pesquisas e instiga o visitante a conhecer um pouco mais sobre a vida no continente e como ela pode nos ajudar a viver aqui”, destaca a diretora científico-cultural do Espaço do Conhecimento, Ana Flávia Machado.

Uma nova história

O continente mais frio e remoto foi o último a ser ocupado pelo ser humano entre o fim do século 18 e o início do 19. Personagens que tiveram seus nomes excluídos da história oficial da Antártica, como os caçadores de animais marinhos, foram os verdadeiros protagonistas desse desbravamento. Reescrever essa história é a proposta do projeto Paisagens em branco, do Departamento ­Antropologia e Arqueologia da UFMG.

O grupo já descobriu diversos sítios arqueológicos, como o Punta Elefante 2, cuja réplica em tamanho real será mostrada na exposição. “É importante que as pessoas saibam que o território antártico foi desbravado por gente comum”, afirma o professor Andrés Zarankin, coordenador do projeto, que realiza pesquisas no continente há mais de duas décadas.

Nem só pinguins bonitinhos ou baleias gigantes habitam a Antártica. Invisíveis a olho nu, lá sobrevivem milhares de comunidades de fungos que podem revolucionar a produção científica. Muitos deles são capazes de servir de base para a produção de medicamentos contra doenças como a dengue, a leishmaniose e a febre amarela, de acordo com as descobertas do projeto MycoAntar: diversidade e bioprospecção de fungos da Antártica, do ICB.

Integrante de expedição em trabalho de escavação: os próprios pesquisadores que atuam em condições extremas são alvo de uma linha de investigação
Integrante de expedição em trabalho de escavação: pesquisadores que atuam em condições extremas são alvo de uma linha de investigação Luiz Rosa/ICB

“Alguns micro-organismos antárticos podem fornecer conhecimento sobre a origem da vida no planeta e resultar em fontes de produtos biotecnológicos em prol do Brasil e do mundo”, destaca o professor Luiz Rosa, coordenador do projeto. Os materiais coletados contribuem, também, para compor a Coleção de micro-organismos e células da UFMG, a maior coleção viva de fungos da Antártica. Numa montagem que impressiona pela beleza, esses minúsculos seres vivos poderão ser vistos pelo público na exposição. 

Objeto: pesquisador

A multidisciplinaridade é a marca do projeto MediAntar, do ICB, que se dedica ao estudo da inserção do ser humano em condições extremas de sobrevivência experimentadas na Antártica, como temperaturas muito baixas, dificuldades para respirar, esforços físicos constantes e isolamento. E os próprios pesquisadores são o objeto dessas investigações. “A experiência na Antártica expõe a fragilidade de todos nós. É uma pesquisa que passa pela nossa experiência, e queremos contribuir para que ela melhore cada vez mais”, explica Rosa Arantes, que coordena o projeto. Parte desses resultados pode ser conferida nas Cápsulas sensoriais, que simulam, entre outros aspectos, o vento forte, a dificuldade de andar na neve e a escuridão do inverno, quando ocorre o fenômeno celeste da aurora austral. 

Três rotas

Com a ajuda de um mapa, os visitantes poderão explorar a Expedição Antártica por três caminhos, que abordam as pesquisas da UFMG sobre medicina, biologia e arqueologia polar. Um grande painel com milhares de fungos ressalta a beleza desses minúsculos seres vivos ao lado de imagens dos animais que lá ­vivem bem adaptados, como pinguins, focas, baleias e leões marinhos. Cápsulas sensoriais simulam as condições extremas da Antártica, como o frio, a dificuldade de andar na neve e a escuridão do inverno. Há também a réplica de um sítio arqueológico, que representa a história da ocupação do continente por desbravadores ainda pouco conhecidos, como os pescadores. Além disso, o Planetário oferece uma experiência imersiva única, em 360°, combinando imagens das pesquisas científicas realizadas no local com animações.

Isabelle Chagas, jornalista do Espaço do Conhecimento UFMG