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Como elas comem?

Para gerar dados de pesquisa, fazenda do ICA começa a monitorar o comportamento alimentar de fêmeas suínas em fase de maternidade

A literatura científica reúne dados gerais sobre as necessidades nutricionais de fêmeas suínas em período de maternidade, mas ainda é carente de informações específicas sobre a distribuição do consumo alimentar ao longo do dia ou sobre a interferência ambiental e climática no comportamento alimentar dos animais. 

A partir deste semestre, as fêmeas da granja de suínos da Fazenda Experimental professor Hamilton de Abreu Navarro, do Instituto de Ciências Agrárias, no campus Montes Claros, passam a ser monitoradas durante 24 horas, a fim de preencher essa lacuna científica. Isso será possível porque foi instalado  no espaço novo equipamento, que coleta diariamente dados de cada animal. 

Comedouro automatizado armazena dados sobre alimentação dos animais
Comedouro automatizado armazena dados sobre alimentação dos animais Amanda Lelis/UFMG

A granja de suínos da UFMG é a primeira da América Latina a implantar a tecnologia. De acordo com Bruno Silva, professor de nutrição e produção de suínos no ICA e coordenador da granja, a instalação dos equipamentos abre a oportunidade de desenvolvimento de novos projetos de pesquisa e possibilita a melhoria do bem-estar dos animais, com a oferta de alimentação planejada individualmente. 

O sistema é um comedouro automatizado interligado a um software que armazena dados sobre a alimentação dos animais. “O que nós queremos buscar com esse sistema é entender a cinética de comportamento associada com mudanças fisiológicas e metabólicas. Se sei que a fêmea se comporta de determinada forma nessa condição ambiental, por meio de informações fornecidas pelo sistema computadorizado, consigo traçar uma estratégia de alimentação para o produtor trabalhar com esse animal na granja com mais eficiência”, explica o professor Bruno. 

Na granja da Fazenda Experimental do campus, há oito celas parideiras equipadas com o sistema, todas elas com animais monitorados atualmente. A proposta é que, a partir da implementação da tecnologia, as informações de cada animal sejam registradas continuamente, a cada ciclo de produção na maternidade. 

Por meio dos equipamentos, implantados com apoio da iniciativa privada, são coletados dados como o volume total de ração ingerida, o tipo de ração que a fêmea comeu, os horários da alimentação e o quantitativo em gramas ingerido a cada visita ao comedouro. As informações são armazenadas em um software no computador da equipe de trabalho e geram relatórios que irão subsidiar pesquisas científicas. Os dados possibilitam atender individualmente cada animal, com base na necessidade identificada. 

Raças nativas
O professor destaca que um dos diferenciais das pesquisas é a possibilidade de trabalhar com raças nativas, além daquelas já utilizadas comercialmente. No espaço, é criada uma raça nativa, a Piau. “Poderemos gerar informações para essa raça nativa, pois há pouca ou nenhuma informação em literatura sobre seu comportamento alimentar. O objetivo é levantar dados novos em conformidade com as condições ambientais de clima tropical e desenvolver estratégias nutricionais para os produtores”, enfatiza o professor Bruno Silva.

Atualmente, a maternidade já é monitorada por câmeras para pesquisas de comportamento alimentar. Os equipamentos possibilitam ampliar os estudos. “Monitoramos as fêmeas 24 horas por dia. Pela câmera, vimos que elas comiam, mas não sabemos o seu perfil de consumo, como a correlação da hora do dia em que ela preferem comer com a velocidade de consumo ou a quantidade que comem por vez”, diz o professor do ICA.

Além do monitoramento do comportamento animal, os pesquisadores de Montes Claros também estão pesquisando estratégias nutricionais para melhorar o consumo alimentar dos animais. “Se, por exemplo, o computador me informa que a fêmea consome somente de manhã e de tarde por causa do clima, será que se modificarmos a composição da dieta para reduzir o efeito termogênico do alimento ou usarmos um aditivo palatabilizante, conseguiremos mudar esse perfil?”, exemplifica o professor.

A Fazenda Experimental é órgão complementar do Instituto de Ciências Agrárias, onde são realizadas atividades de ensino, pesquisa e extensão. O espaço também propicia oportunidades de estágios aos estudantes da Universidade.

Amanda Lelis / Cedecom Montes Claros