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Pra vencer a solidão

Semana de Saúde Mental chega à quarta edição com ênfase no bem-estar de servidores, estudantes e colaboradores da UFMG

Recentemente, uma estudante da UFMG revelou ao Programa de Extensão em Atenção à Saúde Mental (Pasme) que estava passando por problemas psicológicos. E terminou seu relato, feito por escrito, com a seguinte exortação: “por uma vida menos solitária”. A expressão, compartilhada na Rede de Saúde Mental da Universidade, inspirou a definição da temática da 4ª Semana de Saúde Mental e Inclusão Social, que será realizada de 15 a 20 de maio, nos campi Pampulha e Saúde, com eventos também no Espaço do Conhecimento UFMG e no Sesc Palladium.

Stella Goulart: sofrimento mental não pode ser transformado em doença
Stella Goulart: sofrimento mental não pode ser transformado em doença Foca Lisboa / UFMG

Um dos focos principais desta edição, a propósito, é a necessidade do cuidado com a saúde da própria comunidade universitária. “Durante a 3ª Semana, estudantes se queixaram de que, em momentos de dificuldade, têm pouco acesso a apoio e mesmo a informações. O Dast [Departamento de Atenção à Saúde do Trabalhador, da UFMG] apresenta números alarmantes de afastamentos de servidores”, destaca a pró-reitora adjunta de Extensão, Claudia Mayorga. “Precisamos construir juntos uma vida mais saudável, de prevenção ao sofrimento. Devemos lembrar que estamos aqui integralmente, em corpo, mente e sociabilidade”, ela continua, lembrando que o tema convoca para uma vida em comunidade.

Promovida pela Rede de Saúde Mental, pelas pró-reitorias de Extensão (Proex) e de Assuntos Estudantis (Prae) e pela Comissão Institucional de Saúde Mental (Cisme), a 4ª Semana vai tratar também de reforma psiquiátrica, luta antimanicomial, políticas públicas. E vai abrir espaço para os serviços territoriais de saúde mental e para as pessoas com sofrimento e seus familiares. “Queremos promover o protagonismo dos usuários, em diálogo com os produtores de conhecimento e os profissionais de saúde”, reforça Claudia Mayorga.

O pró-reitor de Assuntos Estudantis, Tarcísio Mauro Vago, destaca o desafio de garantir aos estudantes condições objetivas e subjetivas de entrar e permanecer na Universidade. “Uma política de saúde mental vai possibilitar que a travessia acadêmica seja feita em circunstâncias positivas, de respeito às identidades diversas e aos direitos sociais. Se todos cuidam de todos, a UFMG pode expandir sua potência de produzir conhecimento, cultura, sabedorias”, afirma.

‘Despatologização’

No segundo dia de evento, a professora da USP Carla Bianca Angelucci fará conferência com o tema Despatologização da vida. O objetivo, como diz a professora Maria Stella Goulart, presidente da Comissão Institucional de Saúde Mental (Cisme), é promover debate sobre a tendência de se transformar sofrimento mental em doença, que só encontra resposta na farmacologia ou no sistema especializado de saúde.

“Esse não pode ser o único caminho, precisamos encontrar outros veios expressivos. A dor reduz as possibilidades de diálogo, de criação intelectual, e é preciso encontrar maneiras diferentes de enfrentar os desafios subjetivos, com a consciência de que o problema não é apenas individual. No caso da comunidade universitária, inclusão deve se referir ao acolhimento por meio da colaboração, da solidariedade e da alegria”, afirma Stella Goulart, que vai apresentar resultados das discussões e reflexões coletivas. Nesta linha, o recovery (restabelecimento) que tem origem nas relações não apenas técnicas, mas de parceria e amizade, também será explorado, especialmente nas atividades noturnas.

Conferências, mesas-redondas e rodas de conversa vão tratar de política de drogas, cuidado em saúde mental – reunindo coletivos da UFMG e instâncias privadas e de governo –, exclusão, mediação de conflitos e fim dos manicômios. O evento terá participação de profissionais e pesquisadores da Itália e da Finlândia, que, segundo os organizadores da Semana, chegam não apenas para fazer palestras, mas também para conhecer iniciativas e pesquisas brasileiras. Na vertente cultural, haverá espetáculos teatrais e de música, feira de bem-estar, filmes e mostra fotográfica. O objetivo é também transformar o evento numa celebração festiva, com participação no desfile da Escola de Samba Liberdade Ainda que Tan Tan, caminhada e piquenique antimanicomial, entre outras atividades.

Rede na UFMG

A Pró-reitoria de Extensão tem reunido pesquisadores, estudantes e outros atores em torno de redes interdisciplinares que abordam temas como cidades, juventude e o desastre de Mariana. “A formação das redes é baseada na convicção de que é preciso agregar conhecimentos diversos e numa sensação recorrente de isolamento relatada pelos atores”, explica Claudia Mayorga. “Nosso objetivo é fortalecer pela integração e fazer o papel de mediadores, reforçando articulações já existentes. No caso da saúde mental, juntamos grupos de extensão e pesquisa, estudantes sujeitos ao sofrimento e setores de atenção. E ampliamos o alcance, envolvendo, entre outros, a Casu e o Conselho Regional de Psicologia”, diz a pró-reitora.

A programação da 4ª Semana de Saúde Mental e Inclusão Social está disponível no site, onde as inscrições podem ser efetuadas.

Itamar Rigueira Jr.