Vida nova

Entre a finitude e a juventude eterna

Simpósio no campus Pampulha discute a influência das novas tecnologias sobre a forma como as pessoas concebem e exibem o seu corpo

A estética do “belo a qualquer preço” – disseminada nas relações humanas mediadas pela tecnologia digital – pode criar certo fundamentalismo, gerando oposição entre o homem e seu corpo, com o apagamento da subjetividade. Essa é uma das teses defendidas por David Le Breton, professor de sociologia e antropologia na Universidade de Strasbourg (França), conferencista do 1º Simpósio internacional subjetividade e cultura digital, que será realizado a partir desta terça-feira, 7, até quinta-feira, 9, no campus Pampulha.

Nádia Laguárdia realiza pesquisas sobre o tema do simpósio
Nádia Laguárdia realiza pesquisas sobre o tema do simpósio Augusto Lacerda/UFMG

No evento, o tema Corpo e virtualidade será objeto de discussão de mesas-redondas interdisciplinares, conferências, apresentações artísticas e lançamento de livros, incluindo Uma breve história da adolescência, de Le Breton, e Juventude e cultura digital, organizado por Nádia Laguárdia de Lima, Márcia Stengel, Vanina Dias e Márcio Nobre. Promovido pelos programas de pós-graduação em Psicologia da UFMG e da PUC Minas, o simpósio será realizado no Centro de Atividades Didáticas de Ciências da Vida (CAD 1).

Uma das coordenadoras do simpósio, a professora Nádia Laguárdia, do  Departamento de Psicologia da UFMG, explica que as tecnologias digitais interferem no modo como as pessoas percebem o mundo, como se relacionam com o outro e concebem o próprio corpo: “Freud já dizia que as três fontes de sofrimento humano são a natureza, por sua fúria e imparcialidade, as relações sociais, geradoras de mal-entendidos, e o corpo, pela sua falência natural”, comenta a professora. Ela acrescenta que, “apesar de a era moderna proporcionar maior acesso a bens de consumo, tidos como símbolo de felicidade em nossa cultura, constata-se uma falência do ideal de progresso, já que ele não garantiu a paz, a felicidade e o bem-estar entre os homens, e o avanço das tecnociências não impediu o envelhecimento e a morte”. 

Cibercorpo

Nesse cenário, o corpo “lembra” ao ser humano que ele é finito. Para David Le Breton, o discurso de aperfeiçoamento estético produz um “cibercorpo”, que gera um imaginário de eterna juventude. “E isso chega a tal ponto que alguns até evitam o contato com o corpo do outro por meio do uso de sites e aplicativos como intermediários das relações”, explica Nádia Laguárdia, também autora de pesquisas e livro sobre o assunto.

Uma das conferencistas da mesa Corpo, subjetividade e tecnociências, a pesquisadora Paula Sibília, da Universidade Federal Fluminense, defende que a vida humana se transformou em ficção mediada. Em sua opinião, a tentativa de criar essa vida ficcional leva a um paradoxo: quanto mais encenação, mais as pessoas buscam uma experiência real. “Isso se dá, por exemplo, com a tentativa de consumir um pouco da intimidade alheia”, explica Nádia Laguárdia.

Autora de pesquisas sobre os usos que os adolescentes fazem das redes sociais, Laguárdia explica que há diferentes formas de uso, e a tecnologia digital oferece recursos tanto para aproximar as pessoas quanto para evitar o contato corpo a corpo. O grupo de pesquisa Além da tela: psicanálise e cultura digital, que ela coordena, investiga os impactos da cultura digital sobre as subjetividades e os  usos que os sujeitos fazem dos dispositivos tecnológicos. Atualmente, o grupo tem pesquisado o estatuto do saber no contexto das tecnologias digitais, com apoio da Capes e da Fapemig.

O encerramento do simpósio, no dia 9, será feito pela pesquisadora portuguesa Cristina Mendes da Ponte, que discutirá o tema Juventude digital: usos dos dispositivos móveis pelos jovens: extensões do corpo? Professora da Universidade Nova de Lisboa, Cristina Ponte coordena, desde 2006, a equipe portuguesa que integra a rede EU Kids On-line, que reúne pesquisadores de 33 países e investiga as experiências de crianças e jovens na internet. 

Mais informações sobre o 1º Simpósio internacional subjetividade e cultura digital estão disponíveis na página do evento.

Ana Rita Araújo