Pesquisa detalha piora no estilo de vida durante isolamento social no Brasil

Dados da UFMG, UFLA, UFOP e UFV apontam más escolhas alimentares, grave queda nas atividades físicas e uso excessivo de telas e dispositivos

Resultados preliminares da pesquisa Hábitos e comportamento alimentar durante a pandemia de covid-19 no Brasil comprovam uma piora no estilo de vida, nas escolhas de alimentos e na frequência de atividade física no último ano, além do aumento significativo do tempo de uso de telas e dispositivos. Os dados obtidos na primeira fase de análises podem ser conferidos em artigos publicados na Public Health Nutrition e na Frontiers in Nutrition. A pesquisa, realizada em conjunto pela UFMG e pelas universidades federais de Lavras, Ouro Preto e Viçosa, segue agora em sua segunda etapa.

Com início aproximadamente 5 meses após o estabelecimento das medidas de distanciamento social no país, o estudo foi projetado para verificar modificações ocorridas nos hábitos da população no período da pandemia do novo coronavírus, com foco nos hábitos alimentares e nos fatores associados às mudanças ocorridas - como as ligadas ao comportamento alimentar e aos níveis de estresse percebido.

“Resumindo, foi possível perceber uma piora nos hábitos e estilo de vida (maior tempo de tela, sedentarismo e hábitos nocivos como tabagismo e consumo frequente de bebida alcoólica) e também nos hábitos alimentares (com menor consumo de alimentos in natura e maior consumo de processados e ultraprocessados)”, detalha Tamires Souza, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência de Alimentos e uma das participantes do estudo.

A pesquisadora ressalta a redução brusca na prática de atividade física e no aumento do tempo de uso de telas e dispositivos. “Os voluntários reportaram praticar em torno de 120min/semana de atividade no período pré pandemia, enquanto este número caiu para 80min/semana durante as medidas de distanciamento. A recomendação da OMS é que se pratiquem entre 150-300min/semana, no mínimo!”, alerta. “Quanto ao tempo de tela, antes da pandemia, os participantes relataram uma mediana de 6,5h/dia. Durante a pandemia, este valor foi de 10h/dia”.

Análises

O grupo aplicou questionário on-line entre agosto e setembro de 2020. Os dados publicados são referentes às análises desta primeira aplicação, que obteve 1368 respostas de indivíduos de ambos os sexos, com idade igual ou superior a 18 anos. 89,6% dos respondentes são oriundos da região sudeste e 80% são mulheres. Além disso, 97% declararam estar cumprindo totalmente ou parcialmente as medidas de isolamento.

Para as análises das respostas, as pesquisadoras estabeleceram dois momentos. No primeiro, os voluntários não foram divididos em nenhum grupo. “As informações foram utilizadas com o intuito de caracterizar os participantes, bem como observar as modificações nos hábitos alimentares e estilo de vida durante a pandemia”, esclarece Tamires Souza. Estes resultados estão disponíveis no artigo da Public Health Nutrition.

A doutoranda explica que o segundo momento foi de uma análise realizada por outros olhares, levando em consideração variáveis de comportamento alimentar, já abordadas no artigo da Frontiers in Nutrition, e ganho de peso durante a pandemia e prática de exercício físico – ambos dados ainda não publicados.

A segunda fase, que está em andamento, começou com a reaplicação do questionário após dez meses. “Os dados da reaplicação ainda estão em processo de análise, mas sabemos que o cenário da primeira aplicação se encontrava muito diferente da segunda aplicação. Apesar de ainda incipiente, as campanhas de vacinação estão caminhando e, com isso, a forma com que as pessoas tem lidado com a pandemia tem sofrido mudanças. Diante disso, imaginamos que encontraremos novas mudanças relacionadas ao estilo de vida, hábitos e comportamento alimentar. Entretanto, ainda não podemos dizer se estas mudanças serão para melhor ou pior”, adianta a pesquisadora.

Resultados

Através da verificação das mudanças nos hábitos diários, nas escolhas alimentares e no estilo de vida dos participantes, o grupo pôde perceber inúmeras diferenças no período da pandemia: 

Realização de refeições - menor frequência de realização do café da manhã, lanche da manhã e almoço, mas maior frequência da realização de lanches noturnos e outras refeições além das tradicionais;

Hábitos alimentares - aumento no consumo de pães, farináceos, refeições instantâneas e fast food, e redução no consumo de frutas e vegetais;

Hábitos e estilo de vida - aumento na frequência de consumo de bebida alcoólica, no hábito de fumar, nas horas de sono e no tempo de utilização de telas e dispositivos. Por outro lado, redução na prática de atividade física.

A proposta foi idealizada por pesquisadoras – professoras e estudantes - das quatro universidades envolvidas, com a coordenação compartilhada entre as docentes. Pela UFMG, além de Tamires Souza, participa sua orientadora, a professora Lucilene Rezende Anastácio, do Departamento de Alimentos da Faculdade de Farmácia. O grupo ainda é composto pela professora Lívia Garcia Ferreira e pela mestranda Marina Martins Daniel – ambas do Programa de Pós-Graduação em Nutrição e Saúde da UFLA -, pela professora Ceres Mattos Della Lucia e pela mestranda Lívya Alves Oliveira – do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Nutrição da UFV -, e por Juliana Costa Liboredo, professora do Departamento de Alimentos da UFOP.

Assessoria de Imprensa UFMG

Fonte

Assessoria de Imprensa UFMG