Teses das áreas de Parasitologia, Química e Ciência Política são premiadas pela UFMG

Trabalhos tratam, respectivamente, de armadilha para captura de mosquito da malária, de tecnologia de produção de novos biocombustíveis e do impa

Elis Paula de Almeida Batista, do Programa de Pós-graduação em Parasitologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), Cristiane Almeida Scaldaferri, da Química, e Fernando Meireles, da Ciência Política, receberam o Grande Prêmio de Teses UFMG 2020. Os vencedores foram anunciados na manhã desta sexta-feira, 23 de outubro, em cerimônia virtual. A premiação integra a programação do último dia da 29ª Semana do Conhecimento UFMG.

Os autores dos melhores trabalhos de doutorado defendidos em 2019 foram escolhidos por comissão instituída pela Câmara de Pós-graduação entre as 62 teses indicadas por seus respectivos programas – reconhecidas com o Prêmio UFMG de Teses – agrupadas em três grandes campos do conhecimento. Elis concorreu na área de Ciências Agrárias, Ciências Biológicas e Ciências da Saúde, Cristiane foi a vencedora da área de Ciências Exatas e da Terra e Engenharias, e o trabalho de Meireles foi o principal destaque do grupo de Ciências Humanas, Ciências Sociais Aplicadas, Linguística, Letras e Artes.

Durante a cerimônia, a reitora Sandra Regina Goulart Almeida afirmou que o Prêmio UFMG de Teses é resultado de uma herança institucional deixada pelas gerações anteriores. “Esse prêmio foi criado em 2006 e simboliza o empenho daqueles que ajudaram a construir o nosso sistema de pós-graduação. O prêmio é uma homenagem a eles”, registrou ela, citando em seguida o escritor português José Saramago (Prêmio Nobel de Literatura e Doutor Honoris Causa da UFMG), segundo o qual o conhecimento une cada um consigo mesmo e todos com todos. “Cada um tem sua responsabilidade nesse legado”, completou a reitora.

Arma contra a malária

Na tese Armadilha BG-malária para monitoramento de anofelinos neotropicais e afro-tropicais: otimização e avaliação da aplicabilidade como ferramenta complementar de controle da malária, Elis de Almeida Batista estudou o uso de uma armadilha para monitorar e controlar a população dos mosquitos anofelinos, vetores dessa doença que é endêmica no Brasil e na África.

Em testes feitos em Manaus, capital do Estado do Amazonas, e em Ifakara, na Tanzânia, a pesquisadora comparou o uso da BG-malária com o método de captura humana – considerado o padrão-ouro, mas que precisa ser substituído, já que expõe o coletor à picada do mosquito – e com outra armadilha, a BG-Sentinel, muito usada no mundo todo para apreender outras espécies de mosquito, incluindo vetores de outras doenças. “A BG-malária capturou duas vezes mais mosquitos que a BG-Sentinel e um número similar de mosquitos na comparação com o método da atração humana. Ou seja, ela demonstrou grande potencial para substituir o ser humano nesse trabalho”, analisou Elisa.

A segunda parte do trabalho traz resultados sobre o uso da armadilha como instrumento de controle por meio do sistema push-pull, formado por um elemento repelente e outro atraente. “Quando repelidos em um ambiente, os insetos são atraídos, capturados e removidos, reduzindo, assim, a sua população”, explica a pesquisadora. O elemento push (repelente) usado foi o inseticida transflutrina, impregnado em uma faixa de sisal instalada no beiral de uma residência. O pull (atraente) foi a própria armadilha com dióxido de carbono.

“Os resultados mostram que o dispositivo é eficiente para capturar diferentes espécies de anofelinos em diversos locais. É viável como ferramenta complementar de controle associada ao sistema push-pull”, diz a pesquisadora, concluindo que o estudo fornece “elementos úteis para considerar a incorporação dessa armadilha em programas de monitoramento e controle da malária no Brasil e em outros lugares”.

Elisa de Almeida Batista foi orientada pelo professor Álvaro Eduardo Eiras e coorientada pelos professores Kelly da Silva Paixão e Fredros Oketch Okumu. No vídeo, ela dá detalhes da pesquisa.

Uma nova geração de biocombustíveis

O trabalho da pesquisadora Cristiane Almeida Scaldaferri buscou desenvolver tecnologias para a produção de novos bicombustíveis, como o bioquerosene de aviação, para substituir o querosene de origem fóssil, e o diesel verde, alternativa ao diesel de petróleo. “São produtos à base de hidrocarbonetos, não oxigenados, característica que os diferem do etanol e do biodiesel”, afirma.

De acordo com Cristiane Scaldaferri, essa nova geração de combustíveis apresenta vantagens em relação aos tradicionais. “Eles são mais compatíveis com os combustíveis fósseis em termos de características físico-químicas, o que possibilita seu uso em maior quantidade na mistura com os fósseis, sem necessidade de modificações nos atuais motores. Isso possibilita preservar a infraestrutura existente na indústria do petróleo e nas refinarias”, explica.

Em seu estudo, orientado pela professora Vânya Márcia Duarte Pasa, a doutora em Química identificou rotas de produção de baixo custo usando matérias-primas e catalisadores baratos. “Empregamos o gás nitrogênio em vez de hidrogênio. O nitrogênio é um gás inerte de menor custo, é mais seguro e viabiliza a realização de um processo mais simples”, informa.

Cristiane também recorreu ao fosfato de nióbio como catalisador para conversão de matérias-primas. “É um material disponível. Os catalisadores convencionais são caros e importados”, destaca a pesquisadora. Ela investigou ainda o potencial do líquido da castanha de caju (abundante nas regiões Norte e Nordeste) como matéria-prima para a produção do diesel verde e da lignina, subproduto do papel e da celulose. “Não existe hoje um aproveitamento econômico para a lignina, que geralmente é queimada. Ela pode dar origem a um biocombustível de menor custo”, projeta a doutora. Assista ao vídeo em que Cristiane Scaldaferri dá detalhes do seu trabalho.

Os efeitos da política de coalizão nas cidades

Partidos brasileiros quando ocupam ministérios em governos de coalizão conseguem levar mais recursos para as suas bases eleitorais. Esse é o argumento central da tese do cientista político Fernando Meireles, orientada por Carlos Ranulfo Félix de Melo e coorientada por Royce Carrol.

“Isso tem implicações profundas em questões como políticas públicas, aplicação de recursos e desigualdades regionais”, afirma Meireles. Segundo ele, a maioria dos prefeitos e prefeitas encontram profundas dificuldades para implantar políticas públicas demandadas por seus eleitores. “Não é simples construir uma ponte ou um posto de saúde ou reformar uma escola. Os gestores vivem às voltas com orçamentos engessados por causa de obrigações constitucionais e sofrem com a baixa arrecadação de impostos”, diz o doutor.

Diante dessa limitação, o prefeito se vê obrigado a buscar recursos no governo federal, e os partidos acabam funcionando como facilitadores nessa tarefa. “Se o prefeito é de um partido que comanda um ministério, é muito mais simples para ele obter informações sobre o acesso a esses recursos. E, por meio de deputados e senadores, ele entende como esse mecanismo de políticas públicas funciona e consegue ser atendido mais facilmente. Apesar de todas as mazelas, os partidos políticos cumprem papel fundamental ao ajudar gestores públicos municipais a acessarem recursos federais”

Fernando Meireles pondera, no entanto, que esse sistema tende a gerar desigualdades regionais e distorções, uma vez que moradores de muitas cidades poderão não usufruir de políticas públicas essenciais por conta da filiação partidária do seu prefeito. “Muitos prefeitos e parlamentares acabam mudando de partido para se reposicionarem nesse sistema”, constata o cientista político. Também em vídeo, Meireles traça um panorama de sua pesquisa. 

Menções honrosas

Três teses – uma de cada grande área – foram reconhecidas com menções honrosas no Prêmio UFMG de Teses.

No grupo de Ciências Agrárias, Ciências Biológicas e Ciências da Saúde, o trabalho escolhido foi Estudo do papel do AVP, através da dosagem da copeptina, na resposta neuroendócrina ao estresse induzido pela hipoglicemia aguda em crianças e adolescentes, de autoria de Juliana Beaudette Drummond, com orientação de Antônio Ribeiro de Oliveira Júnior e coorientação de Beatriz Santana Soares Rocha. O trabalho foi desenvolvido no âmbito do Programa de Pós-graduação em Neurociências.

Andreij de Carvalho Gadelha, do Programa de Pós-graduação em Física, é autor da tese Unraveling optoelectronic properties of 2D materials, orientada por Leonardo Cristiano Campos e coorientada por  Rodrigo Gribel Lacerda. Ela se destacou no grupo das Ciências Exatas, Ciências da Terra e Engenharias.

A tese Autonomia, consentimento e direito penal: uma proposta de superação do modelo paternalista no tratamento dogmático das intervenções médicas, de autoria de Flávia Siqueira Cambraia, recebeu a menção honrosa no grupo de Ciências Humanas, Ciências Sociais Aplicadas, Linguística, Letras e Artes. Vinculada ao Programa de Pós-graduação em Direito, Flávia Cambraia foi orientada por Luiz Augusto Sanzo Brodt e coorientada por Luís Greco.

(Com informações de Flávio de Almeida para o Portal UFMG)

Assessoria de Imprensa UFMG

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