Notícias Externas

7 em cada 10 atingidos pelo rompimento da barragem em Mariana apresentam problemas de saúde

Estudo coordenado por pesquisadoras da UFMG entrevistou 459 pessoas com o objetivo de estimar perdas de qualidade de vida relacionadas à saúde acarretadas pelo desastre ambiental

Vista área de Bento Rodrigues, em Mariana, após o rompimento da barragem de Fundão
Vista área de Bento Rodrigues, em Mariana, após o rompimento da barragem de Fundão Rogério Alves I TV Senado I CC BY 2.0

Danos graves à saúde das famílias atingidas pelo rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana, em 2015, foram levantados por um estudo coordenado por duas professoras do Departamento de Ciências Econômicas da UFMG, Mônica Viegas Andrade e Kenya Noronha. O trabalho foi publicado recentemente em um periódico internacional. Segundo a pesquisa, cerca de 74% da população estudada sofreu perdas em saúde. 70% das pessoas relataram ter algum nível de ansiedade ou depressão, taxa que era de 11% antes do rompimento da barragem. 

Já na dimensão de dor e desconforto, 72% disseram apresentar problemas, contra 24% antes do desastre. Especificamente no nível severo, 23% das pessoas relataram ansiedade ou depressão, e 11%, dor ou desconforto. Antes do desastre, esses dois índices eram de apenas 1%. Nas dimensões de mobilidade, autocuidado e atividades habituais, também cresceu a proporção de indivíduos que relataram problemas. Quanto à mobilidade, por exemplo, o índice de pessoas com problemas moderados saltou de 5% para 22%. Já nas atividades habituais, o índice subiu de 3% para 31%. O impacto foi ainda mais forte na população mais velha, segundo a pesquisa.

Para chegar a esses resultados, foram feitas entrevistas com 459 indivíduos com pelo menos 15 anos de idade. Esses participantes avaliaram seus estados de saúde tanto na época da entrevista, em 2018, quanto antes do rompimento da barragem. Eles responderam a um questionário que investiga o estado de saúde a partir de cinco dimensões: mobilidade, autocuidado, atividades habituais, dor e mal-estar, e, por fim, ansiedade e depressão. Nesse questionário, que foi desenvolvido por um grupo europeu, cada dimensão pode variar em três níveis de intensidade, ou seja, a pessoa pode relatar que não tem nenhum problema ou que tem problemas moderados ou severos.

O estudo é assinado por um total de dez pesquisadores, sendo um ligado à Universidade de Leeds, na Inglaterra, e os outros nove à UFMG, especificamente aos departamentos de Ciências Econômicas, de Demografia e de Estatística, ao Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional e à Faculdade de Farmácia. A pesquisa fez parte de um estudo mais amplo, que foi realizado entre 2018 e 2020 e buscou estimar perdas em saúde e em outras áreas e atribuir valores monetários a essas perdas. A finalidade era criar parâmetros que servissem de base para o cálculo de quanto cada família atingida deveria receber como reparação dos danos sofridos. Esse projeto mais amplo foi coordenado pelos professores Bernardo Campolina e Anderson Cavalcante, ambos do Departamento de Ciências Econômicas da UFMG, e foi financiado pela Regional Minas Gerais da Cáritas Brasileira, entidade que presta assessoria técnica aos atingidos. 

Saiba mais na reportagem de Tiago de Holanda: