Opinião

A resiliência e a habilidade do sherpa que me mostrou a montanha

Gilberto Medeiros, diretor da CTIT, homenageia o professor Alfredo Gontijo, que recentemente deixou a presidência da Fundep

Alfredo Gontijo
Alfredo Gontijo: mestre que abre caminhosFoca Lisboa | UFMG

Na Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa, a Fundep, tive o prazer de trabalhar com o professor Alfredo Gontijo de Oliveira. Ele, na presidência, e eu como diretor da Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT) da UFMG. Foi um prazer reencontrar e trabalhar com o professor de quem fui orientando nos anos de 1990, por ocasião do meu doutoramento, e a quem sempre sou muito grato por seus ensinamentos.

Nossa nova parceria, à frente da Fundep e da CTIT, conformou-se uma relação de grande proximidade dada a natureza e a complexidade das atividades executadas nessas duas importantes instituições. Também na Fundep, ele demonstrou sua grande capacidade como gestor.

Mas o que talvez nem o professor Alfredo saiba é que o conheci em 1987, quando tinha apenas 19 anos, ainda estudante de Engenharia Elétrica. Ele foi fundamental na minha formação profissional. Naquela época, estávamos pavlovianamente condicionados a apenas aceitar como possibilidade futura o trabalho na Cemig. Eis que o professor Alfredo apareceu em nossa turma para, em apenas uma hora, falar sobre outra oportunidade: a da formação na área de semicondutores. As orientações do professor Alfredo levaram-me ao caminho que trilhei deste então.

No entanto, nenhuma homenagem ao professor seria completa se não pudéssemos mencionar a Termodinâmica, em particular a segunda lei, e o conceito de entropia. É o que faço agora, buscando trazer um pouco de clareza em relação a esses conceitos, sobretudo para aqueles que não são da área.

Com liberdade poética, poderia dizer que o aumento de entropia para o estudante seria equivalente ao aumento do número de possibilidades de arranjos de conhecimentos associados que enriquecem a sua formação.

O conceito de entropia, em linguagem simples, está relacionado ao número de possíveis arranjos de um dado sistema (átomos, elétrons, bits etc.). De certa forma, a entropia liga o mundo macroscópico ao microscópico por meio de uma equação. Formulado originalmente para átomos, o conceito foi posteriormente apropriado pelo engenheiro e matemático Claude Shannon, derivando-o para o caso de dados (bits) e para o conteúdo de informação nesses.

Aqui, trago a noção de entropia para a vida de um estudante, associando-a ao papel do professor. Com liberdade poética, poderia dizer que o aumento de entropia para o estudante seria equivalente ao aumento do número de possibilidades de arranjos de conhecimentos associados que enriquecem sua formação.

Mas, como preconiza a segunda lei da Termodinâmica, um processo irreversível é caracterizado pelo aumento de entropia do sistema, conceito que o professor Alfredo conhece e domina muito bem.

Trazendo esse conceito para a minha formação, posso dizer que, aos 19 anos, sofri um processo irreversível que fez que eu nunca mais fosse o mesmo, aumentando a minha entropia e desencadeando um apetite insaciável por conhecer sobre materiais e eletrônica, o que me propeliu em minha vida acadêmica e profissional, conduzindo-me até os dias de hoje e colocando-me neste lugar.

Nessa trajetória, posso dizer que o professor Alfredo, como um sherpa, com resiliência e habilidade, nos mostra a montanha e nos ajuda a chegar lá. Ele nos faz aprender, não se limitando a ensinar, cria pensamento contrário e canaliza e amplifica a curiosidade.

Nesse sentido, entendo que o sucesso de um professor pode ser medido pelo nível de gratidão de seus alunos. Como professor, gostaria de ser tão bem-sucedido como o Alfredo, que tem toda a nossa gratidão e o nosso reconhecimento.

Gilberto Medeiros Ribeiro / diretor da CTIT e professor do DCC