Ensino

Artigo de professores da UFMG é o mais citado entre os publicados pela Springer

Editora é uma das três mais influentes do mundo acadêmico; estudo veiculado há dois anos faz alerta sobre as ameaças aos campos rupestres

Campos rupestres, berço de espécies exclusivas em todo o planeta
Campos rupestres, berço de espécies exclusivas em todo o planeta Fernando Silveira

Artigo de professores do ICB, escrito em parceria com pesquisadores estrangeiros e de outras instituições do Brasil, foi o mais citado da área de botânica entre os dez mais influentes publicados, em 2016, pela Springer, umas das três maiores editoras do mundo acadêmico. É a primeira vez que essa classificação foi realizada pela organização, e o prazo de de dois anos é considerado necessário para se apurar um número consistente de citações e o próprio impacto gerado pelo artigo.

Ecology and evolution of plant diversity in the endangered campo rupestre: a neglected conservation priority foi escrito com base na revisão bibliográfica sobre ecologia de plantas, na qual os autores verificaram a similaridade entre o campo rupestre brasileiro e as vegetações existentes na chamada região florística do Sudoeste da Austrália e da região do Cabo, da África do Sul. (veja lista completa dos artigos de maior impacto).  

“Trata-se de um ecossistema de montanha extremamente antigo, que ocorre nas partes mais elevadas da Cadeia do Espinhaço, no centro e no leste do Brasil. Ele é, ao mesmo tempo, museu de antigas linhagens e berço de diversificação contínua de linhagens endêmicas”, afirma um dos autores do artigo, o professor Fernando  Augusto de Oliveira e Silveira, que integra o Programa de Pós-graduação em Botânica e Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre do ICB. 

Entre as principais conclusões, o artigo mostra que as crescentes ameaças aos campos rupestres – devido principalmente ao extrativismo mineral e à especulação imobiliária – estão comprometendo os serviços ecossistêmicos, ou seja, os benefícios que se pode obter da natureza. Um exemplo disso é o fato de que muitas áreas são locais de recarga de água. “Em tempos de crise hídrica, conservar o campo rupestre é a estratégia ecológica e economicamente mais interessante e viável. Como os estudos no exterior estão mais avançados, podemos aprender outras formas de conservar e restaurar o nosso campo rupestre”, defende o pesquisador.

No artigo também ficou demonstrado que o campo rupestre é diferente do cerrado brasileiro, e sua vegetação é mais parecida com a de outros locais do planeta. Para isso, os pesquisadores usaram uma teoria que tenta explicar a evolução ecológica e funciona como guia das melhores práticas de conservação para a biota em paisagens inférteis e climaticamente protegidas.

O professor explica, ainda, que a diversidade de algumas linhagens de plantas do campo rupestre nas terras mais altas é anterior à variedade presente no cerrado, nas terras baixas. “Isso sugere que a vegetação desse bioma pode ser a mais antiga do leste da América do Sul", supõe Fernanda Silveira

Exclusividade
Campo rupestre é um bioma tropical que reúne mais de cinco mil espécies de plantas, quase 15% da diversidade de plantas do Brasil, em área correspondente a 0,78% do território nacional. “Cerca de 40% dessas plantas não ocorrem em nenhum outro lugar do mundo. Isso significa que, apenas de espécies exclusivas, esse ecossistema tem mais tipos de plantas do que toda a Europa Ocidental. E esse universo está concentrado em área pouco maior do que a Holanda”, destaca Fernando Silveira.

Em Minas Gerais, o bioma é palco de algumas das principais atrações turísticas locais, incluindo cidades históricas como Ouro Preto, Tiradentes, São João del-Rei e Diamantina, e paraísos naturais como as serras do Cipó, da Canastra e do Caraça. Além disso, a exploração de ouro e diamantes, no período colonial, e, atualmente, de ferro, torna o campo rupestre um patrimônio geológico, biológico, cultural e econômico. "Por isso, conservar é mais prudente do que tentar recuperar após impactos, como ocorre com a mineração”, alerta o pesquisador.

Matéria publicada na edição 2.019 do Boletim UFMG trata de outro artigo sobre a necessidade de preservação dos campos rupestres.

Com Comunicação Social e Divulgação Científica do Instituto de Ciências Biológicas