Institucional

Benjamin Rodrigues de Menezes e José Osvaldo Saldanha recebem título de professor emérito

Cada indicação foi endossada por cinco órgãos colegiados e encaminhada por oito membros da congregação da Escola de Engenharia

Benjamin e José Osvaldo: os novos eméritos da UFMG
Benjamin e José Osvaldo: os novos eméritos da UFMG Foto: Foca Lisboa | UFMG
Sandra
Sandra Goulart: eméritos honram UFMG com sua dedicação a um fazer público baseado no bem comumFoto: Foca Lisboa | UFMG

“As histórias de Benjamin e José Osvaldo se complementam e se confundem. É imenso o legado deixado por ambos na UFMG, foram imensas as suas contribuições. Considero de extrema justiça a outorga dos títulos. Cada indicação foi endossada por cinco órgãos colegiados e encaminhada por oito membros da congregação, quando bastaria, conforme o regimento da UFMG, o encaminhamento por apenas três membros. Nada mais eloquente do que esse reconhecimento pelos pares. Benjamin e José Osvaldo: vocês fizeram desta escola uma escola melhor.” Foi dessa forma que o diretor da Escola de Engenharia, Cícero Murta Diniz Starling, saudou Benjamin Rodrigues de Menezes e José Osvaldo Saldanha Paulino, os mais novos professores eméritos da UFMG. A cerimônia de outorga do reconhecimento honorífico foi realizada na entrada da noite desta segunda-feira, dia 20, na Sala da Congregação da Escola de Engenharia, no campus Pampulha.

A reitora Sandra Regina Goulart Almeida também demarcou a importância do trabalho dos professores para a constituição da Universidade que se tem hoje. “Homenageamos hoje duas pessoas de referência para a nossa Instituição, que contribuíram de forma significativa para que chegássemos aonde estamos hoje, uma Universidade de qualidade e de relevância para nossa cidade, o nosso estado e o nosso país, a nossa sociedade”, afirmou a reitora. “Muito nos orgulha fazer parte de uma instituição da envergadura e da diversidade da UFMG, mas em alguns casos pode-se dizer que é a instituição que se orgulha de abrigar aqueles que não apenas se dedicam com esmero à tarefa que lhes foi atribuída, mas ainda nos honram com sua dedicação em prol de um fazer público baseado no bem comum”, disse. “A instituição é, sem dúvida, maior do que todos nós, mas ela se nutre sempre das contribuições singulares e significativas de cada um dos seus membros.”

Alessandro Moreira
Alessandro Moreira: eméritos como portos seguros da Universidade Foto: Foca Lisboa | UFMG

O porto seguro da Universidade
O vice-reitor Alessandro Fernandes Moreira, que foi o vice-diretor de Benjamin na condução da Escola de Engenharia na gestão 2010-2014 (período da comemoração do centenário da escola) e que o considera como “grande amigo e tutor” (Benjamin foi também co-orientador da dissertação de mestrado do vice-reitor), foi o escolhido para prestar-lhe as homenagens na solenidade. “Eu poderia apresentar aqui o mestre Benjamin pelo seu legado desenvolvido e entregue à UFMG; seus números, suas publicações, seu ranking na Web of Science ou no Scopus. Contudo optei por compartilhar o que ele realmente foi para a UFMG para além dos artigos, das orientações e da gestão acadêmica”, sinalizou Alessandro, redirecionando sua fala para sua experiência particular com o mestre.

“Foi muito importante para mim ter tido Benjamin como professor, coordenador de graduação e de pós-graduação, chefe, diretor. O mestre Benjamin é uma pessoa sempre presente e vigilante, sempre pronto para acolher. Inovação e visão de futuro são suas marcas. Aprendi com ele a importância do relacionamento institucional”, disse o vice-reitor. “Benjamin sempre foi inovador em suas atividades. A inovação passou a ser referência para mim a partir dos seus ensinamentos. Aprendi com Benjamin a importância da integração e de crescer na diversidade”, afirmou.

“São poucos os docentes que conseguem, com leveza e determinação, ser luz para aqueles e aquelas que orientam”, prosseguiu o vice-reitor, que há alguns dias foi escolhido para, ao lado da reitora Sandra Goulart Almeida, estar à frente da Universidade no próximo quadriênio, em um novo mandato. “É uma grande honra para nós, para a UFMG, ter o mestre Benjamin como professor emérito”, enfatizou – não se furtando a parabenizar, também, o professor José Osvaldo pela honraria. “Benjamin e José Osvaldo, a UFMG deseja que vocês permaneçam sendo nosso porto seguro, um porto seguro para a Universidade”, concluiu.

Wallace
Wallace Boaventura, do Departamento de Engenharia ElétricaFoto: Foca Lisboa | UFMG

Como os melhores vinhos
“O professor José Osvaldo pareia com os melhores vinhos: ele tem encorpado suas qualidades com o tempo. O seu rol de realizações parece infindável. Mas a verdade é que, quando o livro é bom, fazer a resenha é muito fácil. É, pois, nesse espírito de emoção, reconhecimento, admiração, alegria e amizade que faço esta saudação.” Tendo essas metáforas como fios condutores, o professor Wallace do Couto Boaventura saudou o colega de departamento, cuja “excelência na docência e na pesquisa inspirou vários de seus alunos, que atuam hoje como docentes em universidades públicas e privadas, além de diversos centros de pesquisas”.

“A verdade é que a trajetória do professor José Osvaldo é marcada, antes de tudo, pelo absoluto comprometimento institucional, pela abordagem conciliadora na solução de conflitos, pelo acolhimento irrestrito de colegas, servidores e alunos, pelo espírito colaborativo na promoção do desenvolvimento e crescimento da instituição nos eixos do ensino, pesquisa, extensão e administração, na busca incessante do progresso científico e tecnológico”, listou Wallace. “E nesse caminhar, que segue em curso, o professor José Osvaldo, por onde passa, propicia um ambiente de criatividade, amizade, bom humor, integração e, sobretudo, de muita competência técnica”, disse. “Com uma postura exemplar, ele sempre oferece um bom conselho, pautado pelo bom senso, espírito crítico apurado, encaminhando soluções para todo tipo de demanda, não importando a complexidade.”

Benjamin
Benjamin Rodrigues, do Departamento de Engenharia EletrônicaFoto: Foca Lisboa | UFMG

Uma vida dedicada à Universidade
Em um discurso atravessado pela emoção, Benjamin relembrou os grandes desafios enfrentados na carreira: a contratação como professor colaborador do Departamento de Engenharia Elétrica ainda em 1979, no âmbito de uma ampla reestruturação do corpo docente do departamento, realizada naqueles anos, com uma ampla contratação de professores jovens, em regime de dedicação exclusiva; a conclusão do mestrado em 1980, ano em que já assumiu o cargo de subcoordenador da pós-graduação em engenharia elétrica e foi “batizado” com sua primeira orientação, a um projeto de iniciação científica; o doutorado na França, concluído em 1985 – entre tantas outras experiências intelectuais, que foram se precipitando em ritmo acelerado em sua vida. “As coisas continuavam acontecendo numa velocidade muito grande comigo”, lembrou, recapitulando, com sua história pessoal, também um pouco da história da própria graduação e pós-graduação brasileira.

O homenageado mencionou, entre uma série de outros feitos notáveis, o fato de ter assumido – em janeiro de 1986 – a coordenação da pós-graduação em engenharia elétrica da UFMG quando o curso estava sem conceito, “em situação crítica frente à UFMG e à Capes”. “Com muito empenho de todos, conseguimos regularizar a situação do curso, que saiu da lista dos últimos colocados para figurar na 7ª colocação ainda em 1986, sendo elevado ainda nesse ano ao conceito de B-”, contou. Na sequência do trabalho, o CPGEE foi avaliado com conceito B em 1987 e com conceito A em 1990”, rememorou Benjamin. O professor coordenou o programa até 1991, completando a façanha de conduzir, em uma só gestão, um curso sem conceito ao conceito máximo atribuído pela Capes.

Em seu discurso, o homenageado fez questão de agradecer nominalmente a uma série de colegas de vida acadêmica, de mestres a orientandos, repassando, também, uma lista de servidores técnico-administrativos com quem trabalhou. “Durante a minha carreira, fiz muitos amigos entre os funcionários, amizades que duram até hoje. E o ambiente com os meus colegas do departamento de engenharia elétrica também sempre foi muito engrandecedor”, ele disse, dedicando-se no fim de sua fala a fazer uma homenagem à sua família e à sua filha, que enfrentou dificuldades em relação à sua saúde, mas os superou – também com o auxílio do sistema de universidades do país, ao qual o homenageado expressou sincera gratidão.

Benjamin recebe placa da reitora e do diretor da Escola de Engenharia placa em outorga da distinção honorífica
Benjamin recebe placa da reitora e do diretor da Escola de EngenhariaFoto: Foca Lisboa | UFMG
João
José Osvaldo, do Departamento de Engenharia ElétricaFoto: Foca Lisboa | UFMG

Vacina e/é educação
Em um discurso atravessado pelas mais diversas referências eruditas, José Osvaldo relembrou os maiores momentos de sua trajetória docente e intelectual, agradeceu a todos com quem trabalhou ao longo de sua trajetória e reservou boa parte de sua fala para alertar sobre o risco por que passa hoje a universidade, a ciência e a educação brasileiras. “Negacionismo, terra plana, aversão a vacinas, essa onda de insanidade que contraria a ciência e o bom senso: tudo isso ameaça de forma assustadora as universidades e as instituições de ensino e pesquisa no país”, introduziu. “Ajudei a transformar a UFMG no que ela é hoje, a primeira universidade federal do país, mas ela está sob sério risco. Precisamos preservá-la e defendê-la neste momento crítico”, conclamou.

Retomando o romance O tambor, que trata do dilaceramento do mundo alemão no pós-guerra – assim como, a rigor, retomaria uma pletora de outras referências literárias no restante do seu discurso –, o professor afirmou: “Quando leio certas notícias, parece que estou relendo algumas páginas de Günter Grass: vejo uma semelhança grotesca entre ‘certos dirigentes’ e o pequeno Oskar, cujo desenvolvimento moral parou aos três anos de idade, mas que conseguia hipnotizar multidões com o toque do seu tambor de lata.”

Segundo o professor, nem nos seus “piores pesadelos” ele poderia ter vislumbrado a situação atual. “Nunca tivemos cortes tão grandes nas verbas para educação, cultura e ciência – e isso em um momento de pandemia. A educação nunca se fez tão importante como agora, para que não vivenciemos no futuro situação parecida com a atual. A corrupção é um grande mal, mas acredito que os maiores problemas do país são a incompetência e a desinformação, e contra esses males só existe uma vacina: a educação.”

Mas o professor se mostrou esperançoso. Vestindo vermelho (em lembrança a um texto de Rubem Alves, que conta que “no Japão, quando um homem faz 60 anos, ele compra um blazer vermelho”, o vermelho então como uma espécie de “atributo dos deuses”, mas concedido aos sexagenários, em honra à idade), ele afirmou: “Sempre acreditei que a educação e a ciência ajudariam o Brasil a ser um país mais justo, mais rico e com melhor qualidade de vida para a sua população. Investi todas as minhas forças nisso. Acredito piamente que o estudo é a melhor forma de distribuir renda e oportunidades. Tenho a certeza que somente a ciência e o estudo nos ajudarão a superar a crise”, concluiu.

José Osvaldo recebe os cumprimentos da reitora da UFMG e do diretor da Escola de Engenharia
José Osvaldo recebe os cumprimentos da reitora da UFMG e do diretor da Escola de Engenharia Foto: Foca Lisboa | UFMG
Eméritos
Ambos da engenharia, Jaime Arturo Ramírez, reitor da gestão 2014-2018, e Ronaldo Tadêu Pena, em 2006-2010 (nos cantos) também participaram da cerimônia em homenagem aos novos eméritosFoto: Foca Lisboa | UFMG

Ewerton Martins Ribeiro