BH, 126 anos: pesquisa resgata história omitida nas fotografias oficiais
Tese premiada pela Capes e pela UFMG é tema do novo episódio do ‘Aqui tem ciência’, da Rádio UFMG Educativa
Belo Horizonte foi construída entre o final do século 19 e o início do século 20, pela Comissão Construtora da Nova Capital sobre o Arraial Curral Del Rey. No momento da edificação da cidade planejada, foi instaurado um gabinete fotográfico para produzir registros que indicassem uma ideia de progresso e fossem divulgados na Europa e entre as classes sociais mais altas do país. O objetivo principal era atrair imigrantes para a jovem capital.
Esses interesses desencadearam uma narrativa sobre a história de BH que, a partir de fotos de monumentos, eventos oficiais e algumas poucas imagens dos trabalhadores nas obras, provocou uma conformação socioespacial da capital que exaltava a presença de imigrantes italianos, mas omitia, por exemplo, a presença de pessoas afrodescendentes e a ocupação dos espaços da cidade por elas.
É o que revela a tese Quem vê cara não vê ancestralidade: arquivos fotográficos e memórias insurgentes de Belo Horizonte, defendida no Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFMG pela arquiteta Priscila Mesquita Musa, que investigou a multiplicidade de narrativas da história da capital mineira.
A contestação da história hegemônica só foi possível porque a autora da tese confrontou imagens encontradas em museus e arquivos com os registros de quatro mulheres reconhecidas como referências comunitárias e de movimentos sociais na cidade: Isabel Casimira, rainha conga do Reinado de Nossa Senhora do Rosário, Júlia Ferreira, matriarca do Quilombo dos Luízes, Mana Coelho, fotodocumentarista, e Valéria Borges, referência da Pedreira Prado Lopes. Ao todo, foram analisadas mais de 100 mil imagens.
Orientado pela professora Renata Moreira Marquez, do Departamento de Análise Crítica e Histórica da Arquitetura e do Urbanismo da Escola de Arquitetura da UFMG, o trabalho foi reconhecido com o Grande Prêmio UFMG de Teses 2023 e recebeu menção honrosa no Prêmio Capes de Tese 2023.
Saiba mais sobre o estudo no novo episódio do Aqui tem ciência:
Raio-x da pesquisa
Título: Quem vê cara não vê ancestralidade: arquivos fotográficos e memórias insurgentes de Belo Horizonte
O que é: Tese de doutorado que apresenta a análise de registros fotográficos de Belo Horizonte, confrontando fotografias oficiais com arquivos de mulheres reconhecidas como referências comunitárias e de movimentos sociais na cidade, com o objetivo de discutir modos de ver a cidade.
Autora: Priscila Mesquita Musa
Programa de pós-graduação: Arquitetura e Urbanismo
Orientadora: Renata Moreira Marquez
O episódio 170 do Aqui tem ciência tem produção e apresentação de Bruno Pereira, edição de Alessandra Ribeiro e trabalhos técnicos de Cláudio Zazá. O programa é uma pílula radiofônica sobre estudos realizados na UFMG e abrange todas as áreas do conhecimento. A cada semana, a equipe da Rádio UFMG Educativa apresenta os resultados de uma pesquisa desenvolvida na Universidade. O programa vai ao ar na frequência 104,5 FM e na página da emissora, às segundas, às 11h, com reprises às sextas, às 20h, e fica disponível também em aplicativos de podcast, como o Spotify.