Arte e Cultura

Bicentenário de Gustave Flaubert: o legado do pai do realismo

Trajetória e obra do escritor francês são tema de entrevista no programa Universo Literário, com o professor da UFV Júnior Vilarino

Autor do clássico Madame Bovary marcou a literatura pelo seu estilo e abordagem profunda dos comportamentos sociais
Autor do clássico 'Madame Bovary' marcou a literatura pelo seu estilo e pela abordagem profunda dos comportamentos sociais Félix Nadar | Domínio Público

Neste mês é celebrado o bicentenário do escritor francês Gustave Flaubert. Nascido no dia 12 de dezembro de 1821, na cidade de Rouen, o autor é tido como um dos maiores romancistas de todo o mundo. Conhecido pelo estilo objetivo, marcado pela análise psicológica, a ironia e a crítica sociopolítica, Flaubert é considerado o pai do realismo na França, movimento artístico e literário que surgiu no século 19. Em 1838, aos 16 anos, o escritor lançou a sua primeira obra autobiográfica, Memórias de um louco. Entretanto, a fama e o reconhecimento vieram com o livro Madame Bovary, publicado em 1856.

A obra é considerada pioneira dentre os romances realistas e se tornou famosa por sua originalidade e ousadia ao tratar temas polêmicos para a época, como o adultério feminino e o suicídio, além das críticas ao clero e à burguesia. Devido ao teor do romance, considerado polêmico, Flaubert foi acusado de ofensa à moral e à religião e levado aos tribunais franceses em 1857. Mas o escritor foi absolvido, e Madame Bovary se tornou um grande sucesso. O francês ainda é autor de diversos outros romances, como Salambô e A educação sentimental. O escritor morreu em 1880, aos 58 anos, deixando inacabada a obra Bouvard e Pécuchet, que foi publicada postumamente.

Quem contou mais sobre vida e obra de Gustave Flaubert em entrevista ao programa Universo Literário desta quarta-feira, 15, foi o professor de literatura francesa do Departamento de Letras da Universidade Federal de Viçosa Júnior Vilarino. Neste ano, o professor escreveu o artigo intitulado A forma é o real: Flaubert lido por Baudelaire e Maupassant, no qual discute a obra Madame Bovary a partir dos textos críticos dos escritores Charles Baudelaire e Guy de Maupassant. Ao longo da conversa, o convidado resgatou a trajetória do autor francês, que viajava colhendo material para suas obras, e falou sobre o movimento no qual Flaubert foi responsável por sistematizar o que seria uma escrita comprometida com a realidade.

Vilarino ressaltou as principais características que fizeram o escritor ser condecorado pai do realismo. “A grande novidade do Flaubert é colocar as bases do que é a literatura realista em análise, mas, ao mesmo tempo, propor que da obra é que deve emanar, depois que ela estiver pronta, os seus conteúdos e suas referências”, explicou. Para o docente, essa narrativa foi revolucionária porque apresentava ao leitor do século 19 um texto que desconcertava, por meio de um conteúdo considerado impróprio e antimoralista, e também pela proposta de texto literário que se distanciava do preceito romântico.

O professor também comentou o que vê de atual na narrativa e legado do escritor. “A atualidade de Flaubert se deve ao fato de a defesa da literatura acontecer em detrimento de qualquer discussão política e qualquer preceito moral ou filosófico. Tendo esse momento que a literatura, ou a arte, vem passando no Brasil e em outras partes também, eu acho que o legado de Flaubert é importante nesse sentido. Quando o romance dele é atacado judicialmente, não é o conteúdo dele que está sendo atacado, é a própria possibilidade que existe de fazermos romances e outras obras de arte com liberdade”, defendeu o entrevistado.

Ouça a entrevista completa no Soundcloud.

O artigo A forma é o real: Flaubert lido por Baudelaire e Maupassant, do professor Júnior Vilarino, está disponível no site da Revista Matraga, do programa de pós-graduação em Letras da UERJ.

Produção: Alexandre Miranda e Nicolle Teixeira, sob orientação de Alessandra Dantas e Luiza Glória
Publicação: Enaile Almeida, sob orientação de Alessandra Dantas