Campus Montes Claros apoia comunidade com ações de combate à pandemia
Projeto promove compartilhamento de orientações e atua para a promoção da segurança alimentar e sanitária
Noventa famílias da comunidade que vive no entorno do campus do Instituto de Ciências Agrárias da UFMG, em Montes Claros, receberam, no último fim de semana, cestas básicas e materiais de limpeza e higiene pessoal. A ação faz parte do projeto de extensão Combate à pandemia do coronavírus na região do ICA/UFMG. Ainda está prevista a entrega de cartilhas informativas sobre a prevenção à doença e de mais insumos e materiais, nos próximos dois meses.
Em parceria com a organização não governamental Instituto de Assistência à Criança e ao Adolescente Village Ativo, o projeto é focado na promoção de informação, segurança sanitária e alimentar às famílias residentes nos bairros do entorno do campus.
A proposta, apresentada pela ONG, foi aprovada pela Chamada pública para apoio a ações emergenciais de enfrentamento à covid-19 junto a populações vulneráveis, aberta pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). De acordo com a instituição, foram mais de 800 candidatos, e somente 145 projetos foram aprovados em todo país. A iniciativa do Village Ativo foi contemplada na faixa de financiamento a projetos de até R$ 25 mil.
De acordo com a professora Júlia Ferreira da Silva, que coordena o projeto de extensão, a pandemia intensifica o risco social de populações vulneráveis, como é o caso dos moradores da região. Há mais de um ano, a professora promove aulas de ioga, gratuitamente, em parceria com a ONG. Ela explica que a proposta do projeto surgiu desse contato prévio com os participantes.
“Atualmente, são mais de 190 crianças cadastradas na ONG, e o auxílio é estendido às suas famílias. Quando teve início a pandemia, e as aulas foram suspensas, muitas famílias começaram a procurar apoio para aquisição de alimentos”, diz a professora.
De acordo com Júlia, foi iniciada uma ação solidária com arrecadação de cestas básicas, até que ela tomou conhecimento do edital. “Montamos uma força-tarefa e produzimos o projeto juntos. Foi uma surpresa e uma alegria que ele tenha sido aprovado”, afirma. A proposta inicial previa beneficiar 75 famílias, mas, com o apoio de alguns professores do ICA, foi possível adquirir produtos para distribuição a 90 famílias. A expectativa é que essa meta continue sendo alcançada enquanto durar o projeto, que é realizado por 12 pessoas, entre técnicos e estudantes da Universidade e outros voluntários.
Dez bairros localizados no entorno do campus serão contemplados pelas ações do projeto. Ainda estão em produção, pela equipe, folders e cartilhas sobre a covid-19, com orientações sobre formas de contágio e medidas sanitárias para evitar a dispersão do coronavírus, conforme recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde.
Panorama da pandemia no município
Outro foco do projeto é a orientação sobre a importância do distanciamento social. Desde o mês de maio, o município de Montes Claros implantou um plano de flexibilização do isolamento social, que se encontra na fase 4, com funcionamento do comércio de rua, shopping centers, academias, bares e restaurantes, salões de beleza e parques públicos, entre outros estabelecimentos.
No município, 1.036 casos da doença foram notificados até o momento, com 16 óbitos, de acordo com o boletim epidemiológico divulgado pela Prefeitura nesta quinta-feira, 23 de julho. O boletim informa também que 53% dos leitos de UTI e 75% de leitos clínicos estão ocupados.
Village Ativo
O ICA é parceiro do Instituto de Assistência à Criança e ao Adolescente Village Ativo em uma série de atividades de extensão. A ONG foi fundada por Adão Batista Rocha, de 64 anos, que trabalhou como colaborador da jardinagem no campus durante 25 anos, até a sua aposentadoria.
A ONG, que completa 20 anos neste mês, desenvolve, por meio de voluntários, atividades educativas e esportivas para crianças e jovens de dez bairros da região. Além da ioga, também são oferecidos futebol infantil e juvenil, cursos de informática e inglês. De acordo com Adão, parcerias com outras instituições possibilitam a ampliação das ações. “Começamos agora a oferecer cursos de costura para mães, que estão produzindo máscaras de proteção para doação”, informa o fundador da ONG.
“Nossa região é muito grande e muito pobre, as mães de família que trabalham como faxineiras nas casas foram afastadas por causa da pandemia. Então, a toda hora chega alguém para pedir alimento”, comenta. Além do que chega pelo projeto, a ONG também recebe doações individuais de interessados em colaborar, como alimentos não perecíveis e outros.
Nascido na zona rural de Montes Claros, Adão conta que sua experiência de vida o impulsionou a fundar a ONG. “Vim para ajudar meus pais. Na década de 1970, eu passei muita fome e não tinha muita ajuda. Eu sei como é vencer o dia e não ter um pão, um café, não ter um alimento, tudo isso é muito triste”, relata.
De acordo com Adão Rocha, a região passou, no início dos anos 2000, por conflitos em razão do tráfico de drogas, e sua iniciativa surgiu com o objetivo de ofertar às crianças e adolescentes possibilidades de acesso a atividades esportivas e recreativas que os afastassem das ruas. Ele conta que, entre as muitas pessoas que já foram ajudadas pela ONG no passado, há profissionais de diferentes ofícios, como engenheiro civil, enfermeiro, padeiro, advogado e pedreiro.