Arte e Cultura

Colóquio sobre iconologia discutirá ressignificação de imagens artísticas

Evento promovido pela EBA na próxima semana estreia em formato virtual

Na próxima semana, de 8 a 12 de fevereiro, o Programa de Pós-graduação em Artes (PPGArtes) da Escola de Belas Artes (EBA) sediará o colóquio Iconologia[s] 2: Leituras, que terá toda a sua programação transmitida pela internet, por meio da plataforma Zoom.

Promovido pelo grupo de estudos Beit – Bureau de estudos sobre a imagem e o tempo, o evento é aberto a qualquer interessado, mas direcionado sobretudo a estudantes de pós-graduação em Artes Visuais, Arquitetura, História da Arte e áreas afins, como Comunicação e Ciências Sociais. Para participar, é preciso escrever para bureau.estudos.imagem.tempo@gmail.com.

"O Colóquio propõe pensar a iconologia como ato, operação produtiva, dinamismo pensante, projeção de formas imaginativas na extensão das artes e das disciplinas que se alimentam delas. Enfim, uma certa imaginação da imagem no presente", afirma a professora Patricia Franca-Huchet, organizadora e integrante do comitê científico do Iconologias[s]. (Leia mais na entrevista no fim desta notícia.)

Uma série de apresentações está programada. A professora Angélica Oliveira Adverse, da Escola de Belas Artes, vai falar sobre Iconografias da moda na arte: dispositivos de poder & experiência temporal, e Beatriz Ferreira Pires, arquiteta e professora do curso de Têxtil e Moda da USP, tratará do tema Digressões sobre corpo, cidade, imagem. A invisibilidade lésbica nas artes visuais é o tema da apresentação de Debora Pazetto, professora de história e teoria da arte na Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc). Renata Pitombo Cidreira, professora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), vai refletir sobre Corporalidade & reprodutibilidade nos dispositivos móveis. Resumos de todas as comunicações estão neste arquivo.

A primeira edição do colóquio Iconologias[s] foi realizada em junho de 2018, mas encontros sobre as “concepções contemporâneas da arte”, nome anterior do grupo de estudos, vêm sendo realizados desde 2001 na EBA, com regularidade praticamente anual desde a última década.

Perdas e ganhos
Para Patricia Franca-Huchet, a realização do evento em formato remoto gera perdas inevitáveis, sobretudo na qualidade do contato entre alunos e professores. “Em eventos que organizamos [no passado, em formato presencial], criaram-se elos entre os alunos e professores de outras unidades e de outras universidades do país e do exterior”, comenta.

Ao mesmo tempo, ela destaca os ganhos que o novo formato gera, como a facilidade para uma abrangência nacional. Nesta segunda edição, o colóquio contará com a participação de vários professores de outras instituições, como as universidades de São Paulo (USP), do Estado de Santa Catarina (Udesc) e do Estado de Minas Gerais (Uemg).

“[O modelo remoto] é bastante facilitador para a organização de um evento maior.  Aprendemos que poderemos, futuramente, usar os dois formatos”, explica Patricia Franca-Huchet. Contudo, a professora torce para que o contato pessoal entre pesquisadores não demore a ser restabelecido na academia. “As relações mantidas entre os participantes nos bastidores dos eventos presenciais são muito benéficas para as pesquisas", argumenta.

Entrevista / Patricia Franca-Huchet

A iconologia promove uma negociação simbólica entre a história e o presente

Como os termos iconografia e iconologia se relacionam?
A palavra iconografia remete ao método de pesquisa que consiste em investigar como as imagens, sejam pinturas, esculturas, gravuras, fotografias etc., são construídas pelo artista, como elas funcionam internamente, como são trabalhadas no contexto escolhido pelo artista, que temas a compõem, que partido formal as caracteriza. Falando de forma sintética, é a ciência da representação nas artes, das figuras alegóricas, míticas e emblemáticas e de seus atributos. A iconografia corresponde a um estudo de caso, relacionado às informações visuais que a imagem propicia.

A iconologia é mais abrangente. Ela resulta num discurso no qual o pesquisador fala do sentido da ou das imagens estudadas, seu sentido mais global. Esse sentido diz respeito à cultura, à época em que a imagem foi criada, como ela se insere num contexto artístico que constitui de certa maneira sua moldura histórica. Na iconologia, o estudo iconográfico é levado a produzir uma significação no nível mais amplo da história, da história da arte, da história cultural. A iconologia seria, portanto, o nível de interpretação da iconografia. Como esse nível da interpretação mais aberto, a iconologia envolve diversas possibilidades de abordagem crítica por parte do historiador da arte.

Por que é relevante tratar de iconologia nos dias atuais?
O termo iconologia é estratégico. Oriundo do universo científico da História da Arte, ele possibilita recentrar a discussão e não restringi-la somente às teorias da comunicação, que também tratam das imagens, mas de forma diferente. A iconologia oferece uma perspectiva histórica e crítica fundamentada aos estudos sobre as imagens artísticas. Há, também, a questão dos artistas iconógrafos, definição na qual me incluo como artista pesquisadora. Esses artistas trabalham com imagens da história da arte ou da história e até mesmo da atualidade, ressignificando-as em novos contextos.

Pode dar um exemplo?
Pense em uma velha coleção de revistas encontradas em uma casa em demolição, uma coleção que mostre imagens do Brasil dos anos 40 e 50. Ao encontrá-las, algum artista começará a retrabalhar essas imagens criando um novo contexto, atualizando-as, de forma a entrar em uma nova negociação simbólica e artística com a história e o presente. É o que faz boa parte dos artistas contemporâneos.

Patricia Franca-Huchet, professora da Escola de Belas Artes da UFMG
Patricia Franca-Huchet, professora da EBA: iconologia como imaginação da imagem no presenteFoto: Reprodução Facebook

Ewerton Martins Ribeiro