Comunidade se apropria do campus e constrói seu lazer em domingo de jogos e brincadeiras
Em um campinho perfeitamente demarcado, quatro crianças disputam uma divertida partida de futebol, em que a bola parava em todos os cantos, menos no alvo supostamente principal – dentro dos gols. Um pouco acima, ainda no Bosque da Música, uma pequena fila se contorce, ansiosa: são mais crianças, esperando pela oportunidade de descer na minitirolesa.
Foi nesse clima lúdico, dominado sobretudo pelo público infantil, que transcorreu o Domingo no Campus, realizado hoje no campus Pampulha. A primeira edição do evento em 2017 foi também a primeira organizada como atividade de recepção aos calouros – ideia que partiu dos próprios estudantes da Universidade.
“Foram alunos do Diretório Acadêmico do Instituto de Ciências Exatas (ICEx) que sugeriram que o evento integrasse a programação de recepção aos calouros. Eles queriam apresentar a Universidade aos novatos por outra perspectiva", conta a professora Benigna Maria de Oliveira, pró-reitora de Extensão [foto acima]. “A partir da sugestão, abrimos uma chamada à comunidade para que todos pudessem sugerir atividades.”
A chamada teve repercussão imediata. Trinta e nove propostas foram enviadas à Pró-reitora de Extensão (Proex) – não apenas por estudantes, mas também por professores e servidores técnico-administrativos. “Nesta edição, especificamente, priorizamos propostas submetidas por estudantes, em razão da recepção aos calouros, mas em geral a ideia é contemplar propostas de toda a comunidade”, explica Benigna.
“É uma grande novidade o Domingo no Campus ocorrer como parte da programação de recepção aos novos e às novas estudantes da UFMG", destacou o professor Tarcísio Mauro Vago, pró-reitor de Assuntos Estudantis. "Agora, precisamos fazer essa ideia pegar”, defendeu. “No dia 8, tivemos a recepção aos calouros, depois os passeios pelo campus. Hoje, este evento, e amanhã começa a tenda Viver UFMG, na Praça de Serviços, que permanece aberta até o dia 31. Diante de todas essas atividades, podemos extrair a ideia de que março se estabeleceu como o mês de acolhimento na UFMG”, afirmou.
Após um processo de seleção, seis das 39 sugestões enviadas pela comunidade foram aprovadas pela Proex – entre elas, o piquenique proposto pelos alunos de exatas, que também atuaram como monitores no evento. Previsto para a pracinha que fica no entorno do ICEx, o encontro foi migrando naturalmente para o Bosque da Música, onde terminou se metamorfoseando em um workshop de tradições ninjas e samurais.
A professora Denise Pedron, diretora adjunta de Ação Cultural [acima], analisa o tipo de experiência proporcionada pelo evento. “Sob o aspecto cultural, especificamente, uma ideia-chave que temos para o Domingo no Campus é a de criar condições para que as próprias pessoas construam o seu lazer. Assim, priorizamos propostas de atividades culturais baseadas na troca e na experiência, e não na simples apresentação de produtos artísticos”, explicou ela, sugerindo assim que a programação do evento, mais do que delimitar a participação dos frequentadores, termina por se configurar como mero ponto de partida para as mais diversas experiências.
A Diretoria de Ação Cultural (DAC) é uma das instâncias da Universidade responsáveis por idealizar e produzir o evento, coordenado pela Pró-reitoria de Extensão.
Campus oriental
O "workshop ninja" foi coordenado pela equipe da Escola Bujinkan Yamashi, que ensina nove tradições marciais. “Na aula, misturamos treinamentos simples e complexos com informações sobre o contexto histórico da cultura marcial. Ao mesmo, ensinamos algumas técnicas de defesa pessoal”, conta Arthur Corrêa de Almeida, um dos monitores do grupo. Enquanto isso, os demais monitores simulavam combate no Bosque da Música. Paralelamente, no gramado da Reitoria, ocorria uma aula de introdução ao kung-fu.
“O Domingo no Campus foi incorporado à programação da Universidade: as pessoas já esperam e cobram pelo evento. E o interessante é que, além da comunidade da UFMG e de suas famílias, ele vem sendo frequentado também por pessoas que não têm vínculo com a Universidade. A proposta-base do evento – fazer o campus se tornar cada vez mais espaço de convivência para a população de Belo Horizonte – se consolidou”, disse Benigna Maria de Oliveira.
Cerca de 500 pessoas estiveram no campus Pampulha neste domingo. “É uma estimativa um tanto conservadora, porque, quando fazemos o cálculo, pensamos nas pessoas que estão nos espaços em que as atividades ocorrem. O número pode ser ainda maior, afinal o campus é muito grande”, afirmou Benigna, enquanto um grande grupo de ciclistas entrava em uma das inúmeras trilhas do campus.
Presente para a cidade
Para a vice-reitora Sandra Goulart Almeida, o campus Pampulha tem vocação para ser um espaço de fruição e lazer, e não apenas de pesquisa ou estudo. “Pensamos o Domingo no Campus como espaço de acolhida. Esperamos que, no futuro, possamos fazer dele uma rotina na vida da Universidade. É a UFMG presente em Belo Horizonte, de portas abertas para todos. É o nosso presente de 90 anos para a cidade”, disse Sandra Almeida. No vídeo abaixo, a TV UFMG registrou algumas das atividades de hoje.
De boa no campus
Pais correndo pelo gramado, esforçando-se para conter a energia dos filhos – alguns ainda aprendendo a andar (uns no chão, outros na fita do slackline) – compunham uma das cenas mais vistas na manhã deste domingo.
O Bosque da Música foi o principal ponto de encontro dessas “perseguições”, pois sediou o Tô de boa, tô no campus – parceiro do Domingo no Campus desde a sua primeira edição – e os jogos e brincadeiras programados. Enquanto algumas crianças tentavam – sem quase nunca conseguir, mas nem por isso desanimar – bater nas bolinhas com raquetes de tênis, alguns jovens – estes sim, com mais sucesso – improvisavam um belo dueto de violões.
Um pouco à frente, uma monitora ensinava e fazia massinha caseira para as crianças brincarem. Ao lado, outra monitora tentava emendar os barbantes de uma cama de gato mais rapidamente do que eram arrebentados. “As crianças arrebentam toda hora, mas fazer o quê? A diversão é justamente tentar passar nas partes mais difíceis”, resignava-se.
Dia “letivo”
A professora Amanda Freitas, do Centro Pedagógico, contou que a Unidade transformou o dia de hoje em um domingo “letivo”, ao convidar alunos e professores. “É muito bom, as crianças estão sendo muito bem acompanhadas pelos monitores das atividades”, tranquilizou-se a professora, que levou a filha Alice para brincar no campus.
Leidiane Tolentino, aluna da graduação em Turismo, se entusiasmou com o bate-papo comandado pelo estudante intercambista Abdoul Razack. “Pra quem não conhece a cultura africana, está sendo um momento muito rico de troca cultural”, disse.
Abdoul Razack ministrou sua breve palestra na Praça de Serviços. Enquanto Razack falava, Wallem Pereira, aluno do mestrado na UFMG, relaxava junto com a esposa e seus filhos no Bosque da Música. Foi a sua primeira vez no Domingo no Campus. “Soube do evento por e-mail. É uma oportunidade única para as crianças se divertirem”, disse.
As próximas edições do Domingo no Campus neste ano serão nos dias 4 de junho e 3 de setembro.