Semana do Conhecimento

‘Conhecemos a Universidade de perspectivas diversas’, diz residente do IEAT

Maria Fernanda Repolês, da Faculdade de Direito, apresentou resultados de sua pesquisa em seminário anual

Maria Fernanda Repolês: descoberta de afinidades
Maria Fernanda Repolês: descoberta de afinidades Raíssa César / UFMG

Ao fim de um ano de trabalho marcado pela transdisciplinaridade, cinco pesquisadores apresentaram nesta quinta, 19, no campus Pampulha, os resultados de sua participação no Programa Residentes, do Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (IEAT), da UFMG. O IEAT realiza até amanhã seu seminário anual.

“A temporada foi muito importante por causa do diálogo com os outros pesquisadores e pela oportunidade de conhecer a Universidade de perspectivas diversas”, disse a professora Maria Fernanda Salcedo Repolês, da Faculdade de Direito. O primeiro dia do evento também teve a participação dos professores Alberto Laender, do Departamento de Ciência da Computação, Rochel Montero Lago, do Departamento de Química, Léa Freitas Perez, do Departamento de Sociologia, e Márcia Maria Cançado Lima, da Faculdade de Letras. A professora Maralice Neves, também da Letras, não pôde comparecer porque está em viagem.

Segundo Maria Fernanda, o que o programa proporciona é um exemplo para toda a Universidade. “Pudemos encontrar conexões e afinidades com colegas de outras áreas e expor diferenças, o que tornou o trabalho extremamente produtivo”, disse a professora, que trabalhou com conceitos do direito gerados pela experiência com grupos vulneráveis. A pesquisa de campo foi feita na Vila Acaba Mundo, em Belo Horizonte.

Mais recursos

Inaugurado em 2008, o programa Professor Residente promove disciplina aberta a todos os alunos de graduação e pós-graduação, destinada a abordagem da transdisciplinaridade. Recentemente, passou a contemplar projetos de mais de um professor e a participação de professores aposentados ainda em atividade na UFMG.

“A avaliação positiva do programa é unânime entre os residentes, ano após ano”, afirmou, num intervalo entre as apresentações, o diretor do IEAT, professor Estevam Las Casas. Ele comentou que se trata de programa relativamente barato e que o Instituto busca novos recursos para tornar a iniciativa ainda mais atraente, proporcionando, por exemplo, viagens de estudos aos residentes.

Além de apresentar seus trabalhos, os pesquisadores debateram com o público sobre o tratamento transdisciplinar de problemas sociais concretos. No fim da tarde, foi lançado o livro Inadequado para o futuro – A necessidade de melhoramentos morais, de Ingmar Persson e Julian Savulescu, obra traduzida para o português pelo professor Brunello Souza Stancioli, da Faculdade de Direito, que integra a Coleção Ieat.

Matemática e transdisciplinaridade

Nesta sexta, ainda no Auditório 1 da Face, o professor Ralph Teixeira, do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade Federal Fluminense, apresentará a conferência Panorama da visão computacional. Em seguida, haverá um debate sobre a contribuição da matemática em projetos transdisciplinares, com participação dos professores Alberto Henrique Frade Laender, Ado Jorio Vasconcelos e Eduardo de Campos Valadares. Confira a programação do encontro. Outras informações podem ser obtidas pelo telefone 3409-5509 ou pelo e-mail info@ieat.ufmg.br.

Os professores residentes do período 2017-2018 são Andityas Matos, Fabiana Menezes, ambos da Faculdade de Direito, Samira Zaidan, Marisa Duarte, ambas da Faculdade de Educação, Mauro Engelman, do Departamento de Filosofia, e Maria Angélica Melendi, da Escola de Belas Artes.

Estes são os projetos relatados hoje pelos residentes do período 2016-2017.

Alberto Henrique Frade Laender, Departamento de Ciência da Computação
Árvores genealógicas acadêmicas: um estudo sobre formação, evolução e disseminação de grupos de pesquisa

Laender estudou grupos de pesquisa em diversas áreas do conhecimento, com base na genealogia acadêmica de seus integrantes. Teve como fonte a Networked Library of Theses and Dissertations (NDLTD), a maior e mais expressiva biblioteca digital de teses e dissertações, com mais de quatro milhões de registros, embora ofereça dificuldades para extração consistente de dados.

Trabalhou para validar a versão atual das árvores geradas por meio de estudo comparativo envolvendo dados de iniciativas similares; expandir o volume atual de árvores geradas reconstruindo registros descartados da NDLTD com base em dados provenientes de outras fontes (Plataforma Lattes, no caso dos brasileiros); analisar quantitativa e qualitativamente as árvores geradas de modo a compreender como se dá a formação, evolução e disseminação dos grupos de pesquisa; disponibilizar os resultados do projeto por meio de website interativo que permita a exploração das árvores geradas e a obtenção de estatísticas e medidas que caracterizem a topologia dessas árvores.

Alberto Laender é graduado em Engenharia Elétrica mestre em Ciência da Computação pela UFMG e doutor em Computação pela University of East Anglia (Inglaterra). Coordena o Laboratório de Bancos de Dados (LBD), da Universidade. Desde 2008, vem atuando como assessor da Coordenação da Área de Ciência da Computação da Capes. Foi também um dos fundadores da Akwan Information Technologies, empresa de tecnologia de busca adquirida pela Google Inc. em julho de 2005 para tornar-se o primeiro centro de desenvolvimento da empresa na América Latina. Suas principais áreas de atuação são bancos de dados, gerência de dados da Web, bibliotecas digitais e sistemas de informação para a Web.

Rochel Montero Lago, do Departamento de Química
Programa multidisciplinar/interdepartamental para formar líderes com capacidade empreendedora em uma economia do conhecimento e inovação

Rochel Lago propõe programa destinado a transformar alunos de graduação e pós-graduação da UFMG com boa formação técnica/acadêmica em líderes empreendedores. O projeto, que incluiu investimento em um livro sobre empreendedorismo e cursos sobre o mesmo tema na graduação e no doutorado em Inovação, partiu do pressuposto de que a nova geração é completamente diferente das anteriores e de que não há como prever como será o mundo nos próximos 10 ou 20 anos.

De acordo com o pesquisador, o conhecimento técnico está longe de ser suficiente para a formação de novos líderes, e os jovens deverão desenvolver outras habilidades, pessoais e humanas, para que se tornem protagonistas. Os estudos incluíram reflexão sobre a universidade do futuro: a instituição, segundo Rochel, mantém-se extremamente conservadora.    

Rochel Montero Lago tem graduação e mestrado em Química pela Unicamp e doutorado em Química Inorgânica pela University of Oxford (Inglaterra). Realizou pós-doutorados no Instituto de Catálise e Petroquímica (Espanha) e na Hautes Etudes Comerciales (Canadá). Sua experiência tem ênfase em catálise, ambiental, materiais, tratamento de efluentes. Tem se dedicado ao tema empreendedorismo tecnológico. Participou na criação e é docente orientador do mestrado e doutorado em Inovação Tecnológica na UFMG.

Léa Freitas Perez, do Departamento de Sociologia
Festa, religião e cidade: interfaces e modulações luso-brasileiras

O objetivo central do trabalho – de fundo teórico, com forte acento transdisciplinar –, localizado na confluência entre história, sociologia e antropologia, foi mergulhar no multiverso festivo brasileiro e português, investigando a coimplicação genealógica e estrutural entre festa, religião e cidade. Léa Perez estudou as festas religiosas urbanas do catolicismo brasileiro e português, notadamente as da vertente popular.

A pesquisadora cartografou festas comuns aos dois países, analisou comparativamente os elementos que relacionam as festas de Minas Gerais às suas matrizes portuguesas e as transformações que acontecem nessas festas tradicionais em função do forte apelo turístico contemporâneo. O objetivo é contribuir para a produção do conhecimento acadêmico e para a formulação de políticas públicas

Léa Freitas Perez tem graduação em História e mestrado em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e doutorado em Antropologia Social e Etnologia pela Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales (França). Fundadora, em 2002, e coordenadora do Centro de Estudos da Religião Pierre Sanchis, UFMG. Tem experiência na área de confluência entre história, antropologia e sociologia, com ênfase em Festa, Religião e Cidade, notadamente no Brasil e em Portugal. Bolsista de produtividade do CNPq.

Márcia Cançado Lima, da Faculdade de Letras
Linguística, informática e educação – abordagens para um catálogo de verbos do português brasileiro

A pesquisa engloba as áreas de linguística teórica e descritiva, educação e informática. Os resultados servirão de subsídios para o desenvolvimento de dois projetos que darão continuidade ao programa de pesquisa Descrição e representação semântica do léxico verbal do português brasileiro, desenvolvido desde 1995. Esse programa gerou o Catálogo de Verbos do Português Brasileiro – classificação verbal segundo a decomposição de predicados. Volume I: verbos de mudança (Editora UFMG, 2013).

No Ieat, Márcia Cançado trabalhou para dar continuidade ao primeiro catálogo de verbos, com a proposta de seguir investigação sobre o léxico verbal do português brasileiro, concentrando-se agora nos verbos de atividade. Na área da informática, ela iniciou a construção de um banco de dados, para consultas simples e complexas. No campo da educação, o esforço foi pela elaboração de método e material didático para o ensino de Português como Língua Estrangeira ou Adicional (PLE/PLA), focalizando o nível da estrutura linguística

Márcia Cançado é doutora em Linguística pela Unicamp e fez pós-doutoramentos na Rutgers University (EUA) e na USP. Atua com ênfase na interface semântica lexical/sintaxe e descrição do português brasileiro. É autora dos livros Manual de semântica, Catálogo de verbos do português brasileiro e Introdução à semântica lexical; papéis temáticos, aspecto lexical e decomposição de predicados (os dois últimos em coautoria).

Maria Fernanda Salcedo Repolês, da Faculdade de Direito
Tempo, espaço e sentidos de constituição

Maria Fernanda Repolês refletiu sobre representações e traduções tradicionais de Brasil, que desconsideram que a pluralidade e a colonialidade são marcas dos processos de modernização. Vistos como tensão, os significados da luta por direitos podem tornar visível a potencial conquista de igualdade e liberdade para todos, como um processo de constante aprendizado e sujeito a retrocessos. Ela trabalhou sob a perspectiva do espaço (no sentido de relações relações que delimitam o lugar de cada um no mundo), em que a Constituição pode ser entendida como espaço de disputa de direitos, e do tempo, em que conflitos no presente concatenam disputas entre memória e esquecimento do passado e entre prospecção utópica para o futuro e tensão experiência-expectativa.

Por meio de atividades diversas, a pesquisadora procurou discutir os processos de modernização no Brasil a partir de sua pluralidade e colonialidade, identificar suas linhas de continuidade e descontinuidade histórica, interpretar os processos de luta por direitos como giro espaço-temporal do Direito e, tomando a Constituição de 1988, situações cotidianas que suscitam a legitimidade ou não de mediações institucionais no que tange a efetivação dos direitos fundamentais de grupos historicamente vulneráveis. Também construiu respostas transdisciplinares que transcendem posturas polarizadas e unidimensionais de conhecimento, problematizando experiências esquecidas de exclusão social com base nas disputas dos sentidos do projeto constitucional democrático. O objetivo é produzir um livro com a temática tempo, espaço e os sentidos de constituição.

Maria Fernanda Salcedo Repolês é coordenadora do Projeto de Pesquisa Tempo, Espaço e Sentidos de Constituição e membro do Programa de Pesquisa e Extensão Polos de Cidadania. Com pós-doutorado na UFRJ, ela é graduada em Direito, mestre em Filosofia Social e Política e doutora em Direito Constitucional, sempre pela UFMG. Seus principais interesses teóricos recaem sobre sociologia jurídica, filosofia do direito e história do direito, e ela atua com os temas identidade constitucional, desobediência civil, história e cultura das instituições jurídicas brasileiras, efetividade dos direitos fundamentais, arte e direito, modernidade e pobreza.

Maralice de Souza Neves, da Faculdade de Letras
O afetamento da psicanálise no ensino e aprendizagem de línguas: a conversação como pesquisa na educação continuada de professores da escola básica

O objetivo geral da pesquisa é abrigar projetos que tomem as rodas de conversação orientadas pela psicanálise como metodologia de investigação ou utilizem o corpus gerado por elas. A pesquisadora espera que se possa tocar o ponto de real (ou modo de obter satisfação pulsional) de professores e alunos de escolas básicas, ou seja, que se encontrem saídas criativas para os impasses que deixam esses sujeitos impotentes diante do que não conseguem explicar, deslocando os significantes que os paralisam.

Maralice de Souza Neves é bacharel em psicologia, licenciada e mestre em Letras-Inglês pela UFMG e doutora em Linguística Aplicada pela Unicamp. Cursou pós-doutorado na USP. Coordena o projeto de pesquisa e extensão A conversação como pesquisa em projeto de educação continuada: o afetamento da psicanálise no ensino/aprendizagem de línguas, de caráter interdisciplinar. Estuda análise de discurso, psicanálise, ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras, educação continuada de professores, identidade e subjetividade, entre outros temas.

Itamar Rigueira Jr.