Pesquisa e Inovação

'Aqui tem ciência': crianças têm pouca autonomia para se deslocar a pé até a escola

Pesquisa de mestrado da UFMG revela que sinalização ruim, passeios estreitos e inundações são as principais preocupações que influenciam escolha pelo transporte motorizado

Carta-convite para as crianças participarem do questionário
Carta-convite para as crianças preencherem o questionário Arquivo pessoal

O novo episódio do programa Aqui tem ciência, da Rádio UFMG Educativa, apresenta pesquisa realizada com 30 crianças de nove a 12 anos, estudantes de escolas públicas e particulares de Belo Horizonte, que revela que nessa faixa etária, elas ainda têm pouca autonomia para se deslocar a pé pela cidade. Em sua maioria (93%), os participantes faziam o trajeto de ida até a escola acompanhados – das mães, principalmente. O estudo foi realizado pela engenheira ambiental Ryane Moreira Barros em seu mestrado no Programa de Pós-graduação em Geotecnia e Transportes da UFMG.

O principal meio para o deslocamento entre a casa e escola é o transporte motorizado, usado por 73% das crianças na ida e por 60% no trajeto de volta. Por outro lado, o percentual de crianças que retornam para casa a pé é de 40%, maior do que na ida, quando somente 26% caminham. 

A diferença pode ser explicada por fatores como a temperatura durante o deslocamento: o sol mais quente na hora da entrada na escola influencia a escolha preferencial pelo deslocamento de carro, enquanto, na saída, a sombra pode ser mais convidativa para voltar andando. O fato de não ter hora marcada para chegar em casa depois das aulas também pode favorecer a opção pela caminhada no retorno.

Alguns aspectos se destacaram entre as principais preocupações das crianças ao se deslocarem a pé. Atravessar ruas com grande movimento de veículos foi uma resposta assinalada por 70% delas. Metade marcou a circulação de carros em alta velocidade, e 63%, a violência urbana. A violência no trânsito também é uma preocupação para 53%. 

Os questionários foram respondidos pelas próprias crianças, em formulário on-line, com o consentimento das famílias. As três principais preocupações reveladas pelas próprias crianças para irem andando sozinhas até a escola foram sinalização na travessia das ruas, largura do passeio e risco de inundações. 

A autora da pesquisa destaca a importância da inclusão das crianças no processo de planejamento dos espaços de circulação de pedestres, uma vez que, se as ruas atenderem às necessidades desse público, provavelmente serão amigáveis também para os demais. 


Raio-x da pesquisa

Dissertação: A infância e o pedestrianismo: um estudo exploratório da percepção de crianças sobre indicadores de caminhabilidade
O que é: pesquisa que mostra como as crianças de 9 a 12 anos, moradoras em Belo Horizonte, avaliam a sua autonomia para fazer deslocamentos urbanos a pé.
Pesquisadora: Ryane Moreira Barros
Programa de Pós-graduação: Geotecnia e Transportes
Orientador: Leandro Cardoso
Coorientador:  Agmar Bento Teodoro (Cefet-MG)
Ano da defesa: 2021
Financiamento: Capes

Ryane Moreira Barros:
Ryane Moreira Barros: "percepção do espaço afeta nossas escolhas" Arquivo pessoal

O episódio 85 do Aqui tem ciência foi produzido e apresentado por Alessandra Ribeiro, com trabalhos técnicos de Breno Rodrigues. O programa é uma pílula radiofônica sobre estudos da UFMG e busca abranger todas as áreas do conhecimento. A cada semana, a equipe da Rádio UFMG Educativa apresenta os resultados de um trabalho de pesquisa realizado na Universidade.

O Aqui tem ciência fica disponível em aplicativos de podcast como o Spotify e vai ao ar na frequência 104,5 FM, às segundas, às 11h, com reprises às quartas, às 14h30, e às sextas, às 20h.