O desafio de cuidar: Espaço do Conhecimento debate demências e Alzheimer
Café Controverso de sábado reunirá especialistas da UFMG e da Ufop
Esquecer o fogão ligado, deixar o leite ferver até derramar, não lembrar se já almoçou. Eventos assim podem acontecer repetidamente na vida de um idoso, e é comum que suas famílias logo os associem aos sinais de Alzheimer. Contudo, a perda de memória recente em idade avançada pode estar relacionada a uma série de outros fatores, como síndromes depressivas, demências e aos próprios sintomas da senilidade.
Essas nuances serão debatidas no próximo sábado, 30 de junho, durante o programa Café Controverso: Saúde em Pauta, do Espaço do Conhecimento UFMG. Alzheimer x demência: desafios no cuidado reunirá os geriatras Flávio Chaimowicz, professor da Faculdade de Medicina da UFMG, e Fausto Pimenta, docente da Escola de Medicina da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop).
Segundo o professor Fausto Pimenta, é natural que as famílias vinculem essas manifestações ao Alzheimer porque se trata de uma doença emblemática em termos de alterações neurodegenerativas e deterioração de células do cérebro. No Brasil, a patologia já atinge 1,2 milhão de pessoas, de acordo com a Academia Brasileira de Alzheimer, e é a principal demência entre os idosos. Apesar disso, algumas doenças vasculares ou infecciosas também podem levar uma pessoa a essa condição.
O médico Flávio Chaimowicz acredita que haja mais casos de Alzheimer do que os oficialmente diagnosticados, e isso se explica porque o número de pessoas que ultrapassam 75 anos de idade, fase da vida em que a patologia é mais comum, está aumentando. Chaimowicz alerta sobre a possibilidade de diagnósticos incorretos. “Como o número de pessoas com Alzheimer aumenta, todos começam a falar sobre a doença. Cresce, então, o diagnóstico errado em pessoas que têm, muitas vezes, apenas problemas de memória”, acrescenta o professor.
Diferentemente de algumas enfermidades identificadas por meio de exames de imagem, o diagnóstico das patologias neurodegenerativas é mais complexo e envolve avaliação cognitiva e relatos dos familiares. O médico analisa a memória, a capacidade de usar a linguagem, a orientação em relação ao tempo e ao espaço e o bom julgamento do paciente. Por essa razão, Chaimowicz acredita que o médico deve ter bastante experiência e ser capaz de conduzir um exame clínico eficaz.
No sistema público de saúde, o diagnóstico costuma ocorrer de forma tardia. Segundo Fausto Pimenta, pacientes do SUS têm acesso mais restrito, o que os leva a buscar ajuda médica apenas quando a doença já está agravada. Já no sistema privado percebe-se a procura por vários especialistas ainda na fase inicial da doença neurodegenerativa. “Pessoas que acham que têm problemas de memória e que possuem casos na família devem recorrer a um especialista. Na verdade, qualquer pessoa com mais idade deve procurar um médico, especialmente aquelas acima de 60 anos”, ressalta Fausto Pimenta, que coordena o Laboratório de Qualidade de Vida e Cognição da Ufop.
Prolongar a independência
“Se um paciente com Alzheimer se enrola com a fivela do seu cinto, seu cuidador deve comprar calças com elástico", recomenda Flávio Chaimowicz . Para ele, cuidar do idoso vai muito além de oferecer conforto: é importante prolongar sua independência. Para isso, é fundamental identificar cada um dos problemas que afetam a autonomia e o bem-estar da pessoa com demência, cuidando deles separadamente.
De caráter multidisciplinar, o tratamento dessas patologias envolve nutricionistas, educadores físicos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, fisioterapeutas e enfermeiros. Chaimowicz frisa a importância do psicólogo, que deve focar no cuidador, que está presente no cotidiano do idoso, respondendo às suas necessidades. Essa pessoa, que costuma ser o cônjuge ou um parente próximo, é exposta a uma sobrecarga emocional que compromete sua saúde. “A pessoa bem cuidada cuida bem. Esse é o nosso lema”, concorda Fausto Pimenta.
Para muitos, é impossível conceber um tratamento que não envolva medicação. Chaimowicz explica que eles existem e são usados diante de uma grande pressão da indústria farmacêutica, mas sua eficácia é limitada. Zelar pelos cuidadores, coordenar as ações de diferentes profissionais da saúde e educar a comunidade sobre tais doenças é ainda a melhor forma de encará-las.
O evento, organizado em parceria com o Instituto Unimed BH, é gratuito e aberto ao público. A plateia poderá fazer perguntas aos palestrantes. O debate começa às 10h, na cafeteria do Espaço do Conhecimento, que fica na Praça da Liberdade, 700. Mais informações podem ser solicitadas pelo telefone (31) 3409-8350 ou obtidas no site do Espaço do Conhecimento.