Desigualdade nas metrópoles cresceu durante a pandemia
Boletim elaborado por pesquisadores de instituições brasileiras revela que redução de renda atingiu todas as classes
A desigualdade de renda cresceu nas metrópoles brasileiras no segundo semestre de 2020, quando a economia nacional passou a sofrer com mais força os impactos da pandemia da covid-19. No período, todas as faixas de renda, dos mais pobres aos mais ricos, registraram queda nos seus rendimentos. Porém, a redução foi proporcionalmente maior entre os mais pobres. Esses dados fazem parte do primeiro número do boletim Desigualdade nas Metrópoles, elaborado por pesquisadores de três instituições: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), Observatório da Dívida Social na América Latina e Observatório das Metrópoles, que é uma rede de pesquisa vinculada a um programa do CNPq.
O boletim demonstrou que a desigualdade de renda cresceu nas regiões metropolitanas brasileiras, incluindo um aumento da distância entre os 10% mais ricos e os 40% mais pobres. A queda nos rendimentos foi proporcionalmente maior na população mais pobre. A pesquisa mostrou também que, na média das 22 regiões metropolitanas, os 40% mais pobres perderam 32,1% da renda, os 50% intermediários perderam 5,6% e os 10% mais ricos perderam 3,2%. Ou seja, a base da pirâmide social foi a mais prejudicada. Inclusive, em algumas metrópoles, como Rio de Janeiro, Florianópolis e Manaus, os 10% de maior rendimento tiveram ganhos.
Já em Belo Horizonte, há o seguimento de uma tendência geral das outras regiões metropolitanas. A perda dos extratos superiores foi menor que a da parcela mais pobre: os 10% mais ricos tiveram perda de em média 4,9%, e os 40% mais pobres registraram pouco mais de 28% de redução dos gnahos. A capital mineira ocupa a quinta posição em termos de desigualdade de renda.
Nesta quinta-feira, 29, o programa Conexões recebeu um dos autores do estudo, o professor da UFRJ Marcelo Gomes Ribeiro, que é pesquisador do Observatório das Metrópoles. Acerca da influência da pandemia na ampliação das desigualdades, o professor disse considerar que o isolamento social, a paralisação das atividades econômicas e a vulnerabilidade de alguns grupos foram fatores fundamentais.
"Considerando aquela população em uma relação de trabalho informal e precário, que não tem nenhuma condição de proteção social, quando precisa realizar o isolamento social, ela perde de maneira significativa. Esse é um dos motivos que explica esse aumento abrupto. Apesar desse aumento da desigualdade ter ocorrido de forma brusca nos primeiros trimestres de 2020, a trajetória se apresentava de maneira crescente desde 2015 e se acelerou nos últimos meses. A gente ainda não foi capaz de estabelecer um processo de crescimento econômico que pudesse recompor um patamar de ganho de rendimento sobretudo para a população de menor renda”, avaliou.
O boletim pode ser consultado no site do Observatório das Metrópoles.
Produção: Tiago de Holanda
Publicação: Isadora Oliveira, sob orientação de Hugo Rafael