Em encontro sobre cultura científica, debatedores reforçam importância de protagonismo dos jovens pesquisadores
Será que os jovens têm pouco conhecimento sobre o que é ciência? Para que mesmo serve aquilo que o cientista faz? E como a universidade pode contribuir para que o conhecimento científico se aproxime da sociedade? Essas foram questões que permearam o debate na terceira edição do Fórum de Cultura Científica da UFMG. O encontro aconteceu na tarde de ontem (quarta, 15), na Faculdade de Ciências Econômicas (Face), e foi transmitido ao vivo para 33 polos do Centro de Educação a Distância (Caed) da UFMG e para a Secretaria de Ciência, da Tecnologia e da Inovação de Minas Gerais.
A abertura contou com a participação das pró-reitoras de Extensão, Benigna Oliveira, de Pesquisa, Adelina Martha dos Reis, e de Pós-graduação, Denise Trombert de Oliveira, e da diretora de Divulgação Científica, Silvania Nascimento. O evento também contou com apresentações de experiências bem-sucedidas de divulgação científica.
Benigna Oliveira ressaltou que a interface com a educação básica é missão da universidade pública e deve ser feita em todas as dimensões. "Esse é um fórum permanente de cultura científica, um espaço de diálogo, propositivo que agrega experiências da UFMG e dos parceiros. Hoje, em especial, é uma forma de interação da Universidade com a educação básica, e queremos ouvir experiências desses parceiros aqui representados pela Secretaria de Educação, pela Escola Estadual Casimiro Silva, de Boa Esperança, e pelo Coltec”, disse a pró-reitora.
“Ninguém faz pesquisa para si mesmo, mas em beneficio de muitas pessoas, então temos que saber explicar nosso trabalho. Enquanto não aprendermos uma linguagem para falar com nossos filhos, nossas mães, vai ser difícil popularizar a ciência, temos que aprender a linguagem da população”, enfatizou Adelina Martha dos Reis, destacando a importância de se fazer ciência, mas principalmente de divulgá-la.
Denise Trombert afirmou que não dá para pensar em produzir conhecimento científico sem interagir com a sociedade. “Há um abismo entre o conhecimento científico e a sociedade, a escola da cidadezinha do interior. Precisamos encurtar essa distância. Precisamos fazer a ciência chegar a todos os brasileiros, que financiam nossas pesquisas com seus impostos. Esse tipo de fórum nos provoca, pois somos induzidos a pensar e interagir com a educação básica.”
Silvania Nascimento apresentou resultados práticos alcançados no último ano, como a implementação do Portal de Periódicos da UFMG e a oferta da Formação Transversal em Divulgação Científica para os currículos de graduação. Com carga horária de 210 horas-aula, a formação conta atualmente com 100 alunos e interage com cinco departamentos. “Para nós, é muito importante trazer a voz dos protagonistas, representada pelas escolas públicas aqui presentes”, disse Silvania.
Na mesa Jovens cientistas: experiências de sucesso na parceria da universidade com a educação básica, o diretor de Ensino Médio da Secretaria de Educação, Wladmir Silveira Coelho, apresentou números do segmento. “Hoje, temos 700 mil alunos no ensino médio, em 2.800 escolas. Além da dificuldade de fazer comunicação científica, enfrentamos também o desafio de comunicação com essa rede. Nosso objetivo é mudar a percepção das escolas para que o aluno seja mais crítico, autônomo, mas é preciso criar condições para que ele desenvolva sua criatividade, e a iniciação científica permite isso.”
A professora Gisele Brandão Machado de Oliveira, do Colégio Técnico (Coltec) da UFMG, mostrou dados de sua tese de doutorado, em que analisou os percursos de socialização dos jovens que participaram do Programa de Iniciação Científica Jr. desde 1998. “Começamos com 15 jovens e cinco pesquisadores e ampliamos para 700 estudantes do ensino médio e 350 pesquisadores, de acordo com dados deste ano.", ela informou, acrescentando que as informações foram compiladas para a publicação Percurso dos jovens do ensino médio e profissional no Programa de Iniciação Científica Jovem da UFMG, que será lançada em breve.
Representante da Escola Estadual Cassimiro Silva, a professora Jacinta Maria Silva, que tem vasta experiência em feiras de ciências com projetos desenvolvidos em escolas públicas e prêmios na bagagem, destacou a importância de os jovens participarem efetivamente da ciência. Mas reivindicou maior apoio financeiro da Secretaria de Educação para a realização das feiras nas escolas. “São muitas as dificuldades, acredito que o diálogo poderá levar às políticas adequadas para saná-las”, afirmou.
A plateia fez perguntas e sugestões. Aberto a docentes, servidores técnico-administrativos, estudantes da UFMG e membros da comunidade externa, o evento é espaço de diálogo entre diversos setores da Universidade envolvidos em ações de ensino, pesquisa e extensão.