Pesquisadores abordam novas perspectivas historiográficas da ditadura argentina
Ernesto Boholavsky e Gabriela Águila vão discorrer, na Fafich, sobre estudos locais e avanços no conhecimento do aparato repressivo
A ditadura militar continua desafiando historiadores da Argentina a construir novas análises e interpretações sobre um dos fenômenos políticos mais traumáticos do país. Dois desses pesquisadores, Ernesto Boholavsky e Gabriela Águila, estarão na UFMG na próxima segunda-feira, dia 9, para discutir com colegas brasileiros novas rotas abertas pela historiografia dos regimes autoritários argentinos.
Em sua conferência, Boholavsky, que é professor na Universidade Nacional de General Sarmiento, pretende revisar processos da história recente da Argentina com base numa perspectiva regional. “A intenção é aproveitar o crescente número de estudos locais para confirmar, aprofundar ou matizar algumas das interpretações predominantes sobre o período”, explica o historiador, que se concentrará sobre o período ditatorial mais recente (1976-1983).
Nos últimos anos, explica Boholavsky, muitos episódios locais – em geral registrados na região metropolitana de Buenos Aires – foram tratados como casos nacionais, sem que houvesse uma devida constatação empírica: “A diversidade regional de fatos relacionados com a ditadura argentina parece maior do que se supunha, e essa historiografia local, que é mais jovem, tem ajudado a renovar a compreensão do nosso passado mais recente. São estudos que possibilitam não só acumular novas informações empíricas como oferecer maior complexidade de análise".
Efeitos sociais
Novas perspectivas historiográficas também motivam a professora Gabriela Águila, da Universidade Nacional de Rosário. Especialista em políticas de repressão, um dos temas centrais nos estudos sobre o autoritarismo do Estado argentino, ela também pretende se debruçar mais detidamente sobre a historiografia da última ditadura, sem perder de vista estudos mais antigos que remontam às décadas de 1950 e 1960.
Em sua avaliação, vêm sendo registrados, nas últimas três décadas, avanços significativos na “reconstrução do conhecimento das dinâmicas repressivas, dos dispositivos utilizados, das vítimas e dos efeitos sociais ampliados do terror de Estado". Apesar desse esforço, que envolve pesquisadores, organismos de direitos humanos e de justiça, apenas mais recentemente essa linha de investigação da violência política e repressiva atingiu a maioridade, com demonstrações de grande vitalidade.
“Trata-se de estudos que se propõem a cobrir lacunas, a dar conta de problemas de ordem teórico-metodológica, a promover abordagens que introduzem novas matizes no conhecimento disponível sobre a repressão e seus efeitos sociais, amparados, inclusive, por fundos documentais até pouco tempo inacessíveis”, conclui Gabriela Águila.
O evento História das ditaduras: novas perspectivas de análise será realizado na Sala da Congregação da Fafich (saguão), a partir das 18h. A promoção é do grupo de pesquisa História Política – Cultura Política na História, coordenado pelo professor Rodrigo Patto Sá Motta.