Pesquisa e Inovação

Pesquisadores abordam novas perspectivas historiográficas da ditadura argentina

Ernesto Boholavsky e Gabriela Águila vão discorrer, na Fafich, sobre estudos locais e avanços no conhecimento do aparato repressivo

Comício de encerramento da campanha da União Cívica Radical (UCR), liderada por Raul Alfonsín, em outubro de 1983, em Buenos Aires. Quatro dias depois, ele seria eleito presidente da República, pondo fim a uma ditadura que durou sete anos
Comício de encerramento da campanha da União Cívica Radical (UCR), liderada por Raul Alfonsín, em 26 de outubro de 1983, em Buenos Aires. Quatro dias depois, ele seria eleito presidente da República, pondo fim a uma ditadura de sete anos Marcelo Ranea / Transições: das ditaduras às democracias na América Latina / Flickr

A ditadura militar continua desafiando historiadores da Argentina a construir novas análises e interpretações sobre um dos fenômenos políticos mais traumáticos do país. Dois desses pesquisadores, Ernesto Boholavsky e Gabriela Águila, estarão na UFMG na próxima segunda-feira, dia 9, para discutir com colegas brasileiros novas rotas abertas pela historiografia dos regimes autoritários argentinos.

Em sua conferência, Boholavsky, que é professor na Universidade Nacional de General Sarmiento, pretende revisar processos da história recente da Argentina com base numa perspectiva regional. “A intenção é aproveitar o crescente número de estudos locais para confirmar, aprofundar ou matizar algumas das interpretações predominantes sobre o período”, explica o historiador, que se concentrará sobre o período ditatorial mais recente (1976-1983).

Nos últimos anos, explica Boholavsky, muitos episódios locais – em geral registrados na região metropolitana de Buenos Aires – foram tratados como casos nacionais, sem que houvesse uma devida constatação empírica: “A diversidade regional de fatos relacionados com a ditadura argentina parece maior do que se supunha, e essa historiografia local, que é mais jovem, tem ajudado a renovar a compreensão do nosso passado mais recente. São estudos que possibilitam não só acumular novas informações empíricas como oferecer maior complexidade de análise".

Efeitos sociais

Novas perspectivas historiográficas também motivam a professora Gabriela Águila, da Universidade Nacional de Rosário. Especialista em políticas de repressão, um dos temas centrais nos estudos sobre o autoritarismo do Estado argentino, ela também pretende se debruçar mais detidamente sobre a historiografia da última ditadura, sem perder de vista estudos mais antigos que remontam às décadas de 1950 e 1960.   

Em sua avaliação, vêm sendo registrados, nas últimas três décadas, avanços significativos na “reconstrução do conhecimento das dinâmicas repressivas, dos dispositivos utilizados, das vítimas e dos efeitos sociais ampliados do terror de Estado". Apesar desse esforço, que envolve pesquisadores, organismos de direitos humanos e de justiça, apenas mais recentemente essa linha de investigação da violência política e repressiva atingiu a maioridade, com demonstrações de grande vitalidade.  

“Trata-se de estudos que se propõem a cobrir lacunas, a dar conta de problemas de ordem teórico-metodológica, a promover abordagens que introduzem novas matizes no conhecimento disponível sobre a repressão e seus efeitos sociais, amparados, inclusive, por fundos documentais até pouco tempo inacessíveis”, conclui Gabriela Águila. 

O evento História das ditaduras: novas perspectivas de análise será realizado na Sala da Congregação da Fafich (saguão), a partir das 18h. A promoção é do grupo de pesquisa História Política – Cultura Política na História, coordenado pelo professor Rodrigo Patto Sá Motta.

Integrantes da guarda de infantaria detém manifestante na marcha organizada pela Confederação Geral do Trabalho, em março de 1982, em Buenos Aires
Integrantes da guarda de infantaria prendem manifestante na marcha da Confederação Geral do Trabalho, em março de 1982, em Buenos Aires Daniel García / AR-ARGRA-FI-MACO-174-1292