Emerson Silami é o primeiro professor emérito da EEFFTO
Título foi entregue nesta segunda-feira, em cerimônia realizada no campus Pampulha
Uma das maiores autoridades brasileiras no campo da fisiologia do exercício, o professor Emerson Silami Garcia pode ser considerado um desbravador. Na segunda metade dos anos 1970, ele foi um dos primeiros docentes de educação física do país a cursar mestrado no exterior, com bolsa da Capes. Na década seguinte, concluiu seu doutorado nos Estados Unidos, tornando-se o primeiro professor doutor da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (EEFFTO) da UFMG. E na noite desta segunda-feira, 25, foi o primeiro docente da Unidade a receber o título de professor emérito da Universidade. “Essa honrosa homenagem a mim prestada pela UFMG supera todas que eu já recebi e me dá a certeza de que tudo valeu a pena”, disse ele, em seu discurso de agradecimento.
Emerson Silami Garcia foi homenageado no auditório principal da EEFFTO, em cerimônia que contou com as presenças da reitora Sandra Regina Goulart Almeida, do vice-reitor Alessandro Fernandes Moreira, do diretor Gustavo Côrtes e de dirigentes e integrantes da comunidade acadêmica da Unidade.
O professor dividiu o seu discurso em quatro “capítulos”: no primeiro, que intitulou de Surpresa, ele revelou “que nem nos melhores sonhos imaginava que um dia receberia tal honraria”. Aposentado há cinco anos, embora continuasse como professor voluntário, Silami afirmou que a notícia da homenagem trouxe-lhe “lembranças que remetiam a várias décadas passadas”.
No segundo capítulo, que chamou de Reflexão, o novo emérito se questionou se seria “realmente merecedor de tal distinção”, considerando que tantos outros professores deixaram legados importantes a partir de 1952, quando foi criado o curso de Educação Física. “Foram eles que abriram trilhas, pavimentaram caminhos e consolidaram a existência do curso de Educação Física em Minas Gerais, trazendo-o, finalmente, para esta universidade no início da década de 70.”
Balanço
Em seguida, no capítulo Autoavaliação, Emerson Silami fez um balanço de sua trajetória acadêmica de mais de quatro décadas, iniciada com a aprovação no vestibular em Direito, em 1971, e no ano seguinte, em Educação Física, área que abraçaria definitivamente a partir de então. Ele recordou as aulas na antiga Escola de Educação Física, no bairro Gameleira, os treinamentos na pista de atletismo da Polícia Militar, no bairro Prado, o "sacrifício" feito pela mãe para proporcionar-lhe condições de estudo e a ajuda da Fundação Universitária Mendes Pimentel (Fump), por meio da qual conseguiu bolsas de trabalho e de alimentação.
Recém-graduado, Silami iniciou sua experiência internacional em 1975 com um estágio técnico de atletismo em Mainz, na Alemanha. Dois anos depois, recebeu convite para cursar mestrado na Universidade do Colorado. Concluído o mestrado, continuou nos Estados Unidos, agora na Universidade do Estado da Flórida, para fazer o doutorado.
De volta ao Brasil na segunda metade da década de 1980, Emerson Silami passou a exercer papel de proa no crescimento da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional. Participou da comissão que criou o mestrado em Educação Física e das atividades do Laboratório de Fisiologia do Exercício (Lafise) com o futebol profissional, em especial com o Cruzeiro Esporte Clube, time do seu coração. Silami também foi um dos mais ativos participantes do Centro de Excelência Esportiva (Cenesp) e da Rede Cenesp do Ministério dos Esportes, instâncias muito importantes para o desenvolvimento da pesquisa em Educação Física no Brasil.
Encurralado
Um capítulo à parte nessa trajetória foi sua decisão de se candidatar ao cargo de diretor da Unidade em 2009, quando “já estava pensando na aposentadoria”. Ele havia recusado o convite em 1997, mas acabou convencido por alguns colegas de que não poderia se aposentar sem exercer o principal cargo de gestão na Unidade. O professor e amigo Pablo Juan Greco, encarregado de saudá-lo em nome da comunidade, deu sua versão do episódio. “Ele foi ‘encurralado’ por alguns colegas em um dos corredores e não teve como escapar do convite”, brincou.
Depois de aposentado, assumiu o cargo de professor visitante titular na Universidade Federal do Maranhão (Ufma), onde trabalhou na estruturação do mestrado em Educação Física e contribuiu com a criação do bacharelado na área e do grupo Genes de pesquisa no esporte e com a aprovação do projeto que prevê a criação do bacharelado em fisioterapia. “Minha experiência acadêmica na UFMG foi decisiva para esses projetos. Todos eles têm essa Universidade como referência e modelo”, destacou.
Emerson Silami Garcia também construiu uma trajetória extensa e vitoriosa no futebol profissional. Depois de prestar serviços ao Cruzeiro (“minha segunda casa”) por quase três décadas, ele hoje é fisiologista do clube. Também trabalhou na Seleção Brasileira durante a Copa de 2014 e no Botafogo Futebol e Regatas, do Rio de Janeiro. Em 2005, teve uma passagem pelo Real Madrid, da Espanha, onde realizou avaliações fisiológicas no “galáctico” time que tinha em seu elenco jogadores como o brasileiro Ronaldo, o francês Zidane e o britânico David Beckham.
Por fim, no capítulo Gratidão, o novo emérito agradeceu a familiares, professores, alunos, colegas de trabalho e às várias instituições que deram suporte à sua trajetória. “Essa homenagem vem coroar tudo aquilo que pude realizar graças à minha escolha profissional, às amizades construídas, aos apoios e ao conhecimento que fui adquirindo durante a vida”, concluiu.
Memórias
Em seu discurso de saudação, o professor Pablo Juan Greco também enalteceu a produtiva carreira profissional e acadêmica do homenageado e fez um resgate de fatos de sua vida. Além do episódio da candidatura de Emerson Silami à direção da Escola, Juan Greco retrocedeu à juventude do professor, recorrendo, inclusive, à memória de seus colegas de república. “Parece que era o que acordava mais cedo e gostava também de acordar os colegas”, revelou.
Para Grego, a passagem de Silami pela diretoria da Unidade poderia render livros e filmes, como os episódios que envolveram a complexa instalação da câmara ambiental no Lafise, equipamento que permite controlar, com precisão, o consumo de oxigênio e variáveis termorregulatórias durante o exercício físico. “As anedotas relacionadas à gestão da câmara ambiental são verdadeiros chamariscos para a publicação de um livro ou de uma série de filmes do tipo O vingador do futuro”, ironizou.
O professor Gustavo Côrtes, atual diretor da Escola, destacou a importância de a Unidade contar com o seu primeiro emérito depois de quase 50 anos de trajetória. “Havia uma dívida histórica com a nossa comunidade docente”, afirmou ele, acrescentado que a EEFFTO era a única unidade da UFMG que ainda não tinha o seu emérito. Côrtes anunciou que, após gestões junto à Reitoria, ficou definido que outros três professores da Unidade serão homenageados com o título durante o seu mandato.
Dirigindo-se a Emerson Silami Garcia, o diretor da Escola afirmou que, com a homenagem, “jogamos luz no trabalho de tantos colegas, professores, já aposentados”. E destacou a missão entregue ao professor: “Você terá a responsabilidade de ser um professor emérito de nossa unidade, destaque maior da carreira de um docente, e terá a difícil tarefa de ser nosso representante nesses quase 50 anos de história da EEFFTO”.
‘Coisas findas’
No encerramento da cerimônia, a reitora Sandra Goulart Almeida explicou o sentido do termo “emérito”. “Lembrando a etimologia latina da palavra, derivada do verbo merecer, emérito sinaliza um atributo dado a alguém prestigioso que se aposentou, mas ‘merece’ usufruir das honras do ofício pela contribuição prestada”, detalhou ela, justificando o convite para que o professor Silami Garcia permaneça como parte da comunidade da UFMG. “Assim, pelo mérito que lhe é devido, a UFMG não pode senão prestar-lhe esta singela homenagem e convocá-lo a continuar ensinando, pesquisando, gerenciando as ações de pesquisa e extensão e formando a juventude de que necessita o país”, prosseguiu.
Como tem sido recorrente em outras cerimônias do gênero, Sandra Goulart Almeida reiterou o papel social da universidade pública e a necessidade de sempre “defender e destacar o seu impacto e relevância” para o país. Inspirada nos versos de Carlos Drummmond de Andrade (“Mas as coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão”), reforçou o convite para que o professor Emerson Silami continue trabalhando com a instituição. “Mais do que a memória das coisas findas que ficarão, o gesto que hoje fazemos sinaliza que a instituição lhe pede para que continue presente, nos ajudando a ensinar e a aprender e, assim, construir a sociedade de que necessita o país, cada vez mais relevante, mais inclusiva, justa e equânime”, finalizou a reitora.