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Estudo conclui que bebida alcoólica pode diminuir defesas do corpo em processos infecciosos

Pesquisa realizada em camundongos mostra que o alcoolismo crônico pode deixar os indivíduos mais vulneráveis a pneumonias

O consumo crônico de bebidas alcoólicas pode diminuir a capacidade de o organismo combater infecções. Essa conclusão faz parte de uma pesquisa realizada por cientistas do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, em parceria com pesquisadores da USP, Universidade de São Paulo, e da UEMG, Universidade do Estado de Minas Gerais. O estudo foi desenvolvido com camundongos e mostrou que, no caso dos animais que consumiram álcool por um longo período, o sistema de defesa do organismo não conseguiu combater de forma eficaz infecções pulmonares. O Conexões recebeu o professor Frederico Marianetti Soriani para saber mais detalhes da pesquisa. Frederico Soriani é coordenador do estudo e professor do Departamento de Genética, Ecologia e Evolução do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG.

Demonstração comparada do mecanismo em camundongos que não ingeriram álcool (esquerda) e animais alimentados com álcool (direita).
Demonstração comparada do mecanismo em camundongos que não ingeriram álcool (esquerda) e animais alimentados com álcool (direita). Acervo do projeto

O professor começa esclarecendo que o processo inflamatório é natural e benéfico para o sistema imunológico, uma vez que é o nosso organismo reagindo a algum estímulo que pode ser nocivo. As proteínas e moléculas produzidas pelo corpo na inflamação preparam o organismo para responder a infecção, atacando a bactéria ou vírus causador. O problema é a produção exacerbada. “Nos animais que consumiram álcool cronicamente, uma dessas moléculas foi produzida de maneira exagerada e isso foi prejudicial. A inflamação foi exacerbada e algumas células de defesa, chamadas de neutrófilos, perderam sua capacidade de reagir ao agente invasor. Assim, a infecção piora e os animais acabaram sucumbindo”, explica o professor Frederico Soriani.

Na pesquisa, os neutrófilos, que são parte dos glóbulos brancos, dos camundongos que consumiram álcool por muito tempo tiveram mais dificuldade para chegar aos pulmões e combater os patógenos que estavam nesses órgãos. E os poucos que chegaram aos pulmões falharam em capturar e matar o fungo. Essa relação estabelecida pela pesquisa entre o alcoolismo e a pneumonia (ou infecção pulmonar fúngica) também pretende se estender à covid-19. Sobre essa nova perspectiva da pesquisa, Frederico Soriani afirma:

“A OMS não inclui o alcoolismo como fator de risco para a covid-19. Mas nós acreditamos que seja. A pesquisa vai lançar mão de um modelo animal com outra variação do coronavírus, que não é o Sars-Cov-2, porque ele não causa infecções em camundongos, mas é um coronavírus que causa uma infecção pulmonar muito semelhante à covid-19. Nós vamos tentar entender se o alcoolismo predispõe esses animais à infecção e se essa infecção é mais grave, e, assim, tentar incluir o alcoolismo como um fator de risco para a covid”.

Ouça a conversa com Luíza Glória

A pesquisa foi publicada na revista eLife. O texto completo, escrito em inglês, pode ser lido no site da revista.

Assista aqui a animação produzida pelo projeto Ciência pra você - UFMG.

Produção: Tiago de Holanda
Publicação: Isadora Oliveira, sob orientação de Luíza Glória