Estudo etnográfico investiga meandros da alienação parental
Mestra em Direito pela UFMG acompanhou agentes da justiça e famílias em cerca de 40 audiências no Fórum Lafayette
“Há receio por parte dos juízes de decidir. Eles sabem que dificilmente vão conseguir promover a harmonia". Essa observação feita pela advogada de família Rafaella Malta resume o drama de magistrados obrigados a tomar decisões que interferem, de forma definitiva, na vida de mães, pais e crianças envolvidos em disputas pela guarda ou pela ampliação do tempo de convívio com os filhos.
Durante dez meses, Rafaella reuniu material para um estudo etnográfico sobre a guarda e a regulamentação de visitas em seis varas de família do Fórum Lafayette, em Belo Horizonte. Valendo-se da técnica da observação participante, ela acompanhou cerca de 40 audiências, coletou e analisou dados e promoveu diálogos com as partes envolvidas e entrevistas com juízes, promotores, advogados e defensor público, os quais ela chama de agentes da justiça.
“O que me interessava era ver como aqueles agentes contracenavam com os protagonistas dos conflitos, observar o cumprimento da lei da alienação parental e a visão daqueles que a aplicam”, conta a pesquisadora, que, em abril, defendeu, na Faculdade de Direito, a dissertação Alienação parental: notas etnográficas das varas de família de Belo Horizonte. O trabalho foi desenvolvido com bolsa financiada pela Capes.
Outro olhar
De acordo com Rafaella, que atua na área de conflitos familiares, a etnografia é um campo da antropologia que se caracteriza pela imersão do pesquisador em um ambiente diferente do seu para observar, na prática, aquilo que geralmente é visto na teoria. “É como se fosse um outro olhar para o estudo do direito”, explica a advogada.
A imersão de Rafaella Malta no universo da alienação parental foi abordada em matéria publicada na edição 2.072 do Boletim UFMG, que circula nesta semana.