Pesquisa e Inovação

Força-tarefa revela papel dos morcegos na rede que garante a saúde dos ecossistemas

Resultados do estudo, que conta com pesquisadores da UFMG, poderá levar à previsão de consequências de desastres

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Pesquisadores mapearam relações de 73 espécies de morcegos com mais de 400 espécies de plantas 
Marco Mello / Jornal da USP

Cientistas brasileiros e estrangeiros, entre eles dois pesquisadores que desenvolveram estudos na UFMG, Rafael Pinheiro e Gabriel Félix, integram força-tarefa dedicada a construir uma nova forma de compreensão da teia da vida. Eles se uniram para estudar morcegos e suas relações com as plantas. Os resultados foram publicados recentemente na Nature Ecology & Evolution, uma das revistas mais relevantes nesse campo de estudos, no mundo.

Os pesquisadores mapearam as relações entre 73 espécies de morcegos e mais de 400 espécies de plantas, que estão espalhadas por todas as regiões tropicais das Américas, inclusive no Brasil. As análises revelam como os quirópteros (em grego, algo como asa nas mãos) se tornaram cruciais para a saúde dos ecossistemas em que vivem, transportando pólen e sementes pelas florestas e revitalizando a mata.

Os dados que mostram as interações entre morcegos e plantas, registrados ao longo de 70 anos por centenas de naturalistas, deram origem ao estudo Compreendendo as regras de montagem de uma rede multicamadas continental (Insights on the assembly rules of a continente-wide multilayer network), que durou três anos.

O estudo mostra o papel dos morcegos que se alimentam de grande variedade de frutos e propagam diversidade mais ampla de sementes pelo ecossistema. Saber quais são elas é fundamental, porque sua extinção contribuiria para a extinção de muitas outras.

Com base na análise das redes complexas multicamadas, é possível mostrar as formas de conexões entre as espécies, as estruturas das redes e o impacto da extinção de espécies de animais e plantas para o equilíbrio de um ecossistema. Foram desenvolvidas ferramentas computacionais e matemáticas para estudar as relações entre os morcegos e as plantas. Essas ferramentas podem ser aplicadas em qualquer ecossistema.

O estudo mostra que quase 70% dos morcegos se alimentam de insetos em maior ou menor grau. Os morcegos têm a dieta mais diversificada entre os mamíferos, uma vez que, nas Américas, metade das espécies se alimenta de plantas, mas muitas delas também são capazes de comer insetos.

Previsões sobre especialização
Liderada por dois professores da Universidade de São Paulo (USP), a força-tarefa da ciência conta com mais oito pesquisadores, três brasileiros e cinco estrangeiros, entre os quais, biólogos, ecólogos e especialistas em ciências exatas de diferentes instituições.

Os pesquisadores Rafael Pinheiro e Gabriel Félix, respectivamente doutor e mestre pela UFMG, elaboraram novos métodos para entender a estrutura de cada camada das redes. Segundo Rafael Pinheiro, o estudo publicado na Nature E&E é bastante amplo, e um de seus pontos principais foi o teste das previsões de uma hipótese nova de especialização.

“Essa hipótese foi inicialmente proposta no meu trabalho de mestrado em um contexto mais restrito: interações entre parasitos e hospedeiros. Depois disso, ela foi aprimorada no mestrado do Gabriel Felix (hoje doutorando na Unicamp). Por fim, no meu doutorado, terminamos de adaptá-la como um modelo para explicar as topologias de redes de interações. E foi essa hipótese que foi testada no estudo relatado no artigo, conta Rafael Pinheiro, que concluiu o doutorado neste ano, no Programa de Pós-graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre (ECMVS), da UFMG.

O estudo reúne informações de outras pesquisas em um único banco de dados, utilizado para testar ideias em uma escala maior, ou seja, continental, em relação às aplicações anteriores. Segundo os pesquisadores, um banco de dados com informações sobre os animais que vivem em um ecossistema e sobre como as relações são estabelecidas entre as diferentes espécies pode ajudar a calcular o impacto de uma possível contaminação em casos de desastres ambientais.

Os pesquisadores da força tarefa são Rafael B. P. Pinheiro, Gabriel M. Felix, Marco A. R. Mello, Renata L. Muylaert, Cullen Geiselman, Sharlene E. Santana, Marco Tschapka, Nastaran Lotfi, Francisco A. Rodrigues e Richard D. Stevens.

Eliane Estevão, com informações da Assessoria de Imprensa da USP