ICA recebe cerca de mil visitantes na Feira de Ciências e Semana do Conhecimento
A feira se encerra hoje, e a programação da Semana segue até o dia 18, no campus de Montes Claros
Durante três dias, desde a última segunda-feira, dia 7, o campus do Instituto de Ciências Agrárias (ICA) da UFMG esteve mais movimentado do que de costume. Circularam por ali ônibus escolares, crianças e jovens de diferentes idades. No ginásio poliesportivo, foram expostos em estandes projetos de escolas de diversas cidades de Montes Claros e região. Os trabalhos compuseram a oitava edição da Feira de Ciências do Norte de Minas Gerais, que se encerra nesta tarde. Foram apresentados 20 trabalhos técnico-científicos do ensino superior, fundamental, médio e médio-técnico. Na ocasião, também foram exibidos em pôsteres projetos de ensino, pesquisa e extensão da Semana do Conhecimento da UFMG.
Neste ano, o tema central foi Educação de qualidade para o desenvolvimento sustentável, em concordância com a proposta da Semana do Conhecimento da UFMG. Os trabalhos expostos foram jogos educativos, mostras botânicas, tecnologias sociais, entre outros. Cerca de mil visitantes da comunidade externa foram ao ICA para assistir às exposições, que também receberam grande público do campus. “A população de Montes Claros está mais sensibilizada, muitas escolas mandaram ônibus. A feira já integra a agenda das escolas. Os projetos apresentados são de boa qualidade, adaptados ao contexto do Norte de Minas, e refletiram muito bem a temática para o formato da mostra”, comentou o professor Charles Aguiar, membro da comissão organizadora do evento.
Um dos projetos expostos na feira foi o herbário produzido pela Escola Estadual Mamede Pacífico de Almeida, do município de Engenheiro Navarro. Taís Almeida, de 14 anos, cursa o 9º ano do ensino fundamental e explicou que a proposta foi a construção de um herbário didático com as espécies nativas da região. “Na cidade, muitas pessoas não conhecem essas plantas, espécies muito úteis como a aroeira, que fornece madeira, e outras de uso medicinal. Achamos importante ampliar o nosso conhecimento e valorizar essas espécies nativas do nosso Cerrado, que têm um grande potencial que não é bem aproveitado”, contou a estudante.
A professora de ciências e biologia Christina Maria de Oliveira, orientadora do projeto, ressaltou o empenho das estudantes. “Todo o protagonismo é delas, que foram a campo, fizeram as coletas, as pesquisas para a catalogação das espécies, produziram as excicatas [forma de exposição das plantas desidratadas e classificadas], levantaram os dados com questionários com a população”, enumerou. De acordo com a professora, foram consultadas 150 pessoas com o intuito de apurar o conhecimento da população sobre as espécies nativas.
Reaproveitamento da água
O grupo de Esther Santos Fonseca, 17 anos, do curso técnico em química do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais, apresentou uma forma sustentável de reaproveitamento da água. “Trouxemos o método da eletroflotação, em que se usa a eletrólise e é eficiente para tratamento da água", contou a estudante, que faz estágio no ICA. “Nesse sistema, acontecem reações químicas que vão ajudar no tratamento da água. Em torno de uma hora, a turbidez é reduzida em 100%, e a água pode ser reaproveitada para diversos usos domésticos, menos para beber e para tomar banho.”
Maria Cecília dos Santos, de 12 anos, que cursa o 7º ano na Escola Estadual Levi Durães Peres, de Montes Claros, mostrou o Projeto Aprendiz de Ciências. “É a primeira vez que apresento esse tipo de trabalho e estou achando bem legal. Estamos expondo as aulas práticas que tivemos na escola. A gente aprende uma coisa na sala, leva para o laboratório e aprende muito mais”, disse a menina, que pretende cursar biologia.
Os dez trabalhos mais bem avaliados receberam prêmios do ICA. Foram contemplados três trabalhos do ensino fundamental e do médio e dois realizados por alunos dos cursos médio-técnicos e superiores.
Semana do Conhecimento
A Semana do Conhecimento começou no ICA com a apresentação em pôsteres de 236 trabalhos de professores, estudantes e técnicos. A programação continua na próxima semana, com palestras, minicursos e outras atividades no campus regional da UFMG em Montes Claros.
Isabella Alkmin, estudante da graduação em Engenharia Agrícola e Ambiental, mostrou seu trabalho de conclusão de curso e iniciação científica, que propõe uma técnica para monitoramento da infiltração de irrigação no solo. Ela apresentou o infiltrômetro de anéis concêntricos. O método consiste na instalação, no solo, de dois anéis de diferentes diâmetros; eles são abastecidos com água e monitorados ao longo do tempo. “O objetivo foi automatizar um teste que é exaustivo e pode durar horas até estabilizar. É difícil e desconfortável fazer a leitura, o que pode gerar muitos erros humanos”, disse.
A estudante elaborou o programa, realizou as simulações em laboratório, testou a precisão dos sensores, a capacidade do recipiente de armazenamento da água e cumpriu outras etapas do experimento até a realização do teste em campo e das análises de dados. “Concluímos que o dispositivo foi capaz de automatizar esses dois processos e tornar bem mais tranquila a aplicação do método, bem mais prática e menos cansativa”, disse.
Alternativa para resíduos
Outro projeto da iniciação científica incluído nessa primeira etapa da Semana do Conhecimento foi o biodigestor com funcionamento em batelada. Hoje, nas criações de codornas e galinhas, os produtores criam os animais em sistemas intensivos, em que as excretas são coletadas em bandejas. Ao coletar essas excretas, o que fazer? "Propomos uma alternativa para tratamento desses resíduos, de forma a diminuir o impacto ambiental provocado pelo sistema de produção. O biodigestor vai gerar biogás a partir dos resíduos tratados e também um biofertilizante, que ainda será testado”, explicou a estudante do 10º período de Engenharia Agrícola e Ambiental Mariana Câmara.
O diferencial do biodigestor, de acordo com a estudante, é que ele não exige espaços amplos e pode ser facilmente reproduzido em pequenas propriedades, com materiais e ferramentas simples. “O equipamento foi pensado para pequenos e médios produtores. Esse gás pode ser utilizado para funcionamento de uma lâmpada, de um aquecedor ou ventilador por algumas horas”, contou Mariana.
Também foram expostos trabalhos de ensino e de extensão. O projeto Conhecendo outras línguas foi criado em 2016 e atende mais de 100 estudantes de 7 a 35 anos de idade, originários de comunidades carentes do entorno do Instituto de Ciências Agrárias. “Ensinamos pessoas que nunca tiveram o contato com o inglês ou a oportunidade de pagar um curso de idiomas”, explicou Steve Roddy Habit, camaronês que cursa o 4º período de Zootecnia. O projeto é vinculado ao Programa de Desenvolvimento Rural e Apoio à Reforma Agrária (Prodera) e atende a turmas no campus do ICA e na sede da Ong Vilage Ativo.
“Estou no Brasil desde 2017, dou aulas para quebrar o gelo e explico um pouco da história e cultura da África para desfazer estereótipos. Minha experiência é muito boa, sobretudo com o retorno dos alunos e com os seus resultados. Aprender outras línguas, para os estudantes de áreas carentes, era quase impossível. Hoje, eles só precisam ter interesse, porque a matrícula é de graça”, comentou Steve.
A abertura oficial da Semana do Conhecimento no ICA será na segunda, dia 14. A programação local conta com palestras sobre os desafios da Universidade na atualidade e seu percurso para a educação de qualidade; métodos e critérios de seleção de novas cepas probióticas; educação e sustentabilidade, com foco em questões sociais e diversidade; inteligência artificial e aplicações. Haverá também oficinas e minicursos.
As inscrições de participantes, gratuitas e abertas ao público, podem ser feitas até 13 de outubro, no site do evento.