Extensão

Iniciativa de extensão da UFMG contribui com projetos de lei para proteção do porco piau

Assembleia Legislativa de Minas Gerias e municípios do interior do estado buscam reconhecer a importância social e econômica da raça suína

Atividades de conservação e expansão da raça são desenvolvidas no campus de Montes Claros
Atividades de conservação e expansão da raça são desenvolvidas no campus de Montes Claros Foto: Projeto Porco Piau/UFMG

Iniciativa de extensão universitária desenvolvida pelo Instituto de Ciências Agrárias (ICA), no campus Montes Claros, tem contribuído para sustentar proposições de lei que buscam reconhecer o porco da raça piau como de relevante interesse social e econômico.

Os municípios de Goianá, Bocaiuva, Visconde do Rio Branco, Canaã, em Minas Gerais, e Corumbá de Goiás, no estado de Goiás, já seguem as diretrizes do projeto de lei 3892/2022, em fase final de tramitação na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

O objetivo dessas propostas é fortalecer, promover e incentivar a difusão de práticas historicamente relacionadas à criação e ao consumo da carne e dos subprodutos do porco piau nos âmbitos municipal e estadual.

A cadeia produtiva da raça tem fundamental importância para a alimentação da população, agricultura familiar, subsistência e renda de comunidades indígenas e tradicionais e assentados de reforma agrária. Além disso, o porco atende a demandas e nichos específicos do mercado nacional de carnes.

Proteção e renda
Instrumentos legais de proteção da cultura do piau vão ao encontro de expectativas de criadores atendidos pelo projeto de extensão, cuja missão é desenvolver e implantar, utilizando a raça, um sistema de produção extensivo de suínos em comunidades de Minas Gerais.

O agricultor familiar Ricardo Moreira Lelis, de Canaã, na Zona da Mata, conta que começou a criar o porco por incentivo do projeto. “Com as orientações e todo o apoio que recebi, eu passei a ter melhor perspectiva de renda, a fornecer carne de qualidade e valor agregado para a merenda escolar do município”, afirma. Lelis ressalta a importância da ação “para o resgaste da cultura do piau”, que, segundo ele, “estava praticamente perdida”.

O piau é considerado uma raça crioula ou caipira, reconhecido como a primeira raça suína nativa do Brasil. Ele é criado e desenvolvido principalmente em Minas Gerais, Goiás e São Paulo.

Em boa hora
O coordenador do projeto de extensão e do Núcleo de Estudos em Produção de Suínos (Nepsui/UFMG), professor Bruno Alexander Silva, considera que o reconhecimento legal virá em boa hora e propiciará benefícios para as ações da granja de suínos do campus da UFMG em Montes Claros.

“Ele [reconhecimento legal] contribuirá para o respaldo de que precisamos para manter o projeto ativo e nos dará mais condições de desenvolver e ampliar as atividades de conservação e expansão da raça nativa”, explica.

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Bruno Silva e Filipe Russo: porco piau oferece condições de subsistência e renda para comunidades tradicionais e assentados da reforma agráriaFoto: Projeto Piau UFMG

O docente exemplifica que o ICA realiza pesquisas científicas inovadoras, como as relacionadas à “produção de nova raça suína a partir do porco piau, animal que vem servindo de base genética para a criação do porco do cerrado, que detém 50% dos genes do piau”.

Para o técnico agropecuário Filipe Russo, colaborador do projeto e um dos principais guardiões do porco piau no país, as ações de resgate e conservação são essenciais para o desenvolvimento sustentável da agroecologia nas comunidades. Ele destaca que “instrumentos legais constituem um marco para os movimentos em prol da promoção da segurança e soberania alimentar da população, ajudando a mobilizar outros agentes a reivindicar o mesmo reconhecimento para outras raças crioulas”.

A iniciativa da Universidade está em consonância com a política da Pró-reitoria de Extensão (Proex) de fortalecimento da interiorização da extensão. Filipe Russo, que é também integrante da coordenação da Rede de Agricultura Familiar e Agroecologia (Rafa/UFMG), salienta que “o projeto do porco piau é um exemplo desse movimento, em que a instituição atua para fortalecer cada comunidade em seus territórios e a formulação das políticas públicas”.

A conservação do porco piau foi abordada em artigo publicado no início deste mês, no Portal UFMG, pelo próprio técnico agrícola Filipe Russo e pelo professor José Divino Lopes Filho, do Departamento de Nutrição da Escola de Enfermagem, coordenador da Rede de Agricultura Familiar e Agroecologia.

Eduardo Maia | Assessoria de Comunicação da Proex