Extensão

Instituições mineiras de pesquisa celebram a ciência neste sábado

UFMG vai apresentar resultados de estudos na Antártica e informações sobre doenças do fígado, entre outros temas

Público interagem com os materiais lúdicos do Museu da Matemática, uma das atrações da UFMG no Dia Nacional da Ciência
Público interage com os materiais lúdicos do Museu da Matemática, uma das atrações da UFMG no Dia da Ciência Divulgação / Museu da Matemática / ICEx-UFMG

A UFMG e outras instituições de ensino e pesquisa sediadas em Minas Gerais antecipam, neste sábado, dia 6, as comemorações do Dia Nacional da Ciência (8 de julho) com a exposição de resultados de 80 pesquisas científicas. “É mais importante do que nunca valorizar a produção científica da UFMG e da ciência mineira, para tornar mais visível tudo o que é feito no âmbito da extensão. Vamos mostrar que o conhecimento tem efeito imediato na vida das pessoas”, conclama o diretor de Divulgação Científica da UFMG, professor Yurij Castelfranchi. O evento será realizado das 9h às 16h, no Centro de Referência da Juventude de Belo Horizonte (Rua Guaicurus, 50 – Centro).

A programação inclui experimentos, contação de história, oficinas, jogos de raciocínio, palestras, lançamentos de livros, exposições e apresentações musicais e teatrais. O público de todas as idades poderá interagir com pesquisadores em ciências da saúde, biológicas, sociais, exatas, da terra, agrárias, engenharias, linguística e artes.

A celebração, que ocorrerá em todo o país neste fim de semana, é motivada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). “É muito importante dar amplitude nacional aos trabalhos e assuntos científicos, neste momento em que se põe em dúvida a relevância da academia e do saber científico no Brasil”, ressalta Castelfranchi. A comunidade científica comemora também o aniversário de 71 anos de fundação da SBPC e o Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador.

O evento em Belo Horizonte também reúne a Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg), o Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet-MG), a Fiocruz, a Fapemig, a Fundação Ezequiel Dias (Funed), a Santa Casa de Belo Horizonte, o Museu de Artes e Ofícios e o Centro de Referência da Juventude (CRJ-BH).

Pesquisas
Uma cápsula inflável aclimatada vai possibilitar uma viagem simulada à Antártica, onde o visitante poderá vivenciar uma imersão ao continente mais gelado do planeta, utilizando o corpo e os sentidos como forma de contato com a pesquisa realizada pelo Projeto Paisagens em Branco: Arqueologia Antártica. Desenvolvida no Laboratório de Estudos Antárticos em Ciências Humanas (Leach), da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich), a pesquisa atua nas frentes da arqueologia e antropologia, buscando conhecer as estratégias de ocupação humana no continente, desde os primórdios, com os foqueiros, até os dias de hoje.

Divertir-se com a matemática, realizando experiências interativas e atividades lúdicas, é a proposta da atividade que também ocorre no Museu da Matemática da UFMG, vinculado ao Departamento de Matemática do Instituto de Ciências Exatas. No sábado, quem for ao CRJ-BH, será orientado pelos monitores do Museu e do Projeto Visitas a explorar o acervo composto de elementos da Matemática Recreativa, como quebra-cabeças geométricos, jogos de tabuleiro, truques, labirintos lógicos e dobraduras de papel. O Museu da Matemática é um projeto de extensão que também contribui para formação dos futuros professores e produz cartilhas e material concreto, que podem ser utilizados em salas de aulas, a partir do sexto ano do ensino fundamental. As visitas ocorrem aos sábados e em períodos não letivos e precisam ser agendadas pelo site do projeto.

Por meio da contação de histórias, realizada por pesquisadores da Faculdade de Letras, o público poderá conhecer algumas “mulheres incríveis” nas ciências, como a física brasileira Sônia Guimarães, a química Alice Ball, que ajudou a desenvolver um dos tratamentos para a lepra, e a escritora brasileira Conceição Evaristo.

Experimentos de química também estão na programação, na oficina oferecida pelo projeto de extensão 1000 futuros cientistas, mediada por técnicos e estudantes de graduação e pós-graduação. Durante o ano, as escolas podem agendar visitas ao laboratório da UFMG.

Oitava causa de morte no país, as doenças do fígado, que, de 2001 a 2010, foram responsáveis por 800 mil internações hospitalares, serão abordadas em conversa com os visitantes da mostra. O objetivo é alertá-los sobre as formas simples de prevenção, diagnóstico e tratamentos, com base em estratégias desenvolvidas em projetos de pesquisa da Universidade. Equipe multidisciplinar do Liver Center da UFMG, integrada por pesquisadores, estudantes de graduação, pós-graduação e ensino médio, vai utilizar recursos como peças anatômicas reais e cartilhas para conscientizar a população sobre o tema e a importância de transplante de órgãos. O Liver Center é um centro de estudos do fígado, lançado em 2017, em parceria com pesquisadores da Universidade de Yale (EUA). 

O projeto Entrepáginas, desenvolvido com base em dissertação de mestrado na Faculdade de Letras, contará com a participação do público na oficina de empaginação de livros de literatura infantojuvenil para crianças e adolescentes internados no Hospital das Clínicas. A empaginação consiste na criação de borda de cinco centímetros de papel impermeável e transparente, em cada página dos livros, para que, após o manuseio, possam ser higienizados pela equipe de enfermagem. O projeto, desenvolvido na Faculdade Letras, conta com o trabalho voluntário de estudantes de várias áreas.

Interesse pela ciência
Em entrevista à Rádio UFMG Educativa, o professor Castelfranchi, que também é pesquisador do INCT em Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia, chama a atenção para dados recentes, divulgados pelo INCT, que revelam grande interesse dos jovens brasileiros pela ciência e tecnologia, superando, até mesmo, o interesse deles por esportes. Entretanto, segundo ele, os mesmos dados revelam a continuidade “da desigualdade brutal do acesso ao conhecimento no Brasil, com grupos sociais basicamente excluídos de uma cidadania científica real, concreta, que lhes permita exercer cidadania no mundo científico e tecnológico”.

A entrevista aplicada a 2,2 mil jovens de 15 a 24 anos em 21 estados e no Distrito Federal revela que 70% têm interesse pela ciência e tecnologia, índice superior ao interesse por esportes (62%) e por religião (67%), perdendo apenas para meio ambiente (80%) e medicina e saúde (74%). Mas a pesquisa também mostrou que a grande maioria não soube mencionar o nome de nenhuma instituição de pesquisa ou de um cientista brasileiro, nem do presente nem do passado. Temas centrais, como mudança climática e uso de vacinas, também exemplificam essa aparente contradição da pesquisa. Um quarto dos entrevistados acredita que vacinar as crianças pode ser perigoso, e 54% avaliam que os cientistas podem estar exagerando sobre os efeitos das mudanças climáticas. 

Segundo o professor, isso não significa que os jovens estejam mentindo sobre seu interesse sobre ciência e tecnologia, mas que muitos deles não têm ferramentas para transformar interesse em apropriação prática da informação e de conhecimento. A primeira razão, segundo o pesquisador, é que interesse é um tipo de atitude. “Sabemos cientificamente que atitude não tem nada a ver com comportamento. Posso declarar sinceramente que interesso por vida saudável, mas sou fumante ou não pratico esportes, por exemplo. Isso acontece porque vários fatores estão envolvidos e, no caso dos jovens, eles se interessam pelo tema, mas também são vítimas da desinformação”, observa.

A segunda razão, na avaliação de Castelfranchi, é que, em geral, todas as afirmações críticas ou em contraste com evidências científicas dependem muito mais fortemente de posicionamentos políticos e de valores morais e religiosos, que variam muito entre os jovens, do que do conhecimento ou do interesse pelo assunto.

O professor também chama a atenção para o fato de a maioria dos jovens entrevistados ter afirmado que, mesmo em momentos de crise, como o atual, os investimentos na área devem ser mantidos. “Isso mostra a clareza que eles têm sobre o quanto a ciência e a tecnologia estão ligadas ao futuro deles. Por isso, precisamos pensar em políticas de divulgação e campanhas educacionais que atendam a demanda desses jovens", defende o professor.

Teresa Sanches / Com Assessoria de Imprensa da UFMG e Rádio UFMG Educativa