Institucional

Jota Mombaça: projeto de Brasil envolve a ‘possibilidade de viver, respirar e dançar’

Conferência da artista abriu 9ª Semana de Saúde Mental e Inclusão Social da UFMG

Jota Mombaça
Jota Mombaça: Brasil adoece as pessoasImagem: Reprodução de conferência

“Não há como discutir saúde mental sem reconhecermos que o que adoece as nossas pessoas é o Brasil, essa ficção de poder denominada Brasil, em que estamos inseridos. Quando falo ‘Brasil’, não estou falando do terreno em que estamos, mas da ‘ficção de poder’ que organiza e desorganiza, numa chave necropolítica, as possibilidades e impossibilidades de vida neste território, isto é, a ficção de Brasil naquilo que ela tem de tóxica, de radioativa, de assassina, de genocida; a ameaça constante de morte que é o ‘Brasil’. O Brasil é o trauma, um trauma que se reatualiza incessantemente. Há uma dimensão territorial do trauma." 

Esse foi o ponto de partida da conferência que a artista e pesquisadora Jota Mombaça proferiu na noite desta segunda-feira, 17, no canal da Pró-reitoria de Extensão (Proex) no YouTube. A atividade abriu a 9ª Semana de Saúde Mental e Inclusão Social da UFMG, que prossegue até a próxima sexta-feira, 21, com ampla programação.

Com base no mote Apesar do Brasil, a artista fez a separação entre o território físico e a trajetória de opressão da nação para tentar, partindo dessa desambiguação, salvar o “monte de coisas bonitas e de possibilidades de respiro que se dão no contexto desta terra” e pensar “as possibilidades de vida e de organização, e de ação, e de reconstrução, e de regeneração que estão dadas sobre ela”. 

Nesse sentido, Mombaça postulou uma espécie de movimento de salvação (o “Apesar do Brasil” que deu nome à sua comunicação) que, a rigor, já estaria em curso. “‘Apesar do Brasil’ é uma série de práticas que já se dão neste território apesar do território; ‘Apesar do Brasil’ é o meu modo de pensar o fim dessa ficção de poder que é o Brasil, é o território da possibilidade. ‘Apesar do Brasil’ é um sorriso preto”, disse.

Ao fim da sua comunicação, a artista deu uma forma mais definitiva para o termo a que desejava chegar com as suas reflexões. “Diante do que estamos testemunhando, me parece então que pensar a saúde mental, agora, e tentar cultivar a possibilidade de saúde mental para as vidas subalternizadas pelo projeto corrente de Brasil implica, necessariamente, construir, defender e sustentar a possibilidade de viver, respirar, dançar e vibrar, ‘apesar do Brasil’, rumo ao fim dessa ‘ficção de poder’ – rumo à emergência de outra coisa que eu me recuso a nomear; uma outra coisa que eu prefiro não saber ainda o que é, para deixar que ela possa emergir sem os contornos dados por essa experiência traumatizada de Brasil.”

Saúde mental como Direito Humano
Participaram da cerimônia de abertura da 9ª Semana de Saúde Mental e Inclusão Social a reitora Sandra Regina Goulart Almeida, o vice-reitor Alessandro Moreira, a pró-reitora de Extensão, Claudia Mayorga, e a diretora da Universidade de Direitos Humanos, Maria Aparecida Moura. Vinculada à Pró-reitoria de Extensão (Proex), a Universidade de Direitos Humanos é uma instância criada neste ano com o objetivo de potencializar a realização de ações na Universidade relacionadas ao tema.

Claudia Mayorga destacou a relação entre saúde e direitos humanos, um dos eixos estruturantes da programação do evento. “No decorrer desta semana, vamos discutir temas como saúde mental e pandemia, os efeitos do trabalho remoto para a saúde mental e as questões de saúde mental relacionadas aos Direitos Humanos”, disse.

Na abertura da sessão, a reitora Sandra Goulart Almeida falou sobre a importância de a Universidade se unir ainda mais neste momento difícil que o país atravessa. “Este é um momento em que se reafirma a importância da coletividade, de estarmos juntos de forma solidária. Ser humano é se reconhecer no outro, e isso só conseguimos fazer em coletividade”, disse.

Sandra Goulart destacou o impacto da pandemia sobre a saúde mental, sobretudo nas questões relacionadas à inclusão social, uma vez que “os grupos mais vulneráveis da sociedade são os que mais sofrem” as consequências do descontrole do vírus. E mais uma vez manifestou sua solidariedade às famílias enlutadas: “Não posso deixar, assim, de expressar a minha solidariedade a todos aqueles que perderam entes queridos nesta pandemia, que já vitimou mais de 430 mil pessoas. É um momento muito triste. A UFMG continua em luto".

9 Semana
Sandra Goulart, Norma Tils (intérprete de Libras), Claudia Mayorga e Alessandro Moreira na abertura da 9ª Semana de Saúde Mental e Inclusão Social Imagem: Reprodução de conferência

Ewerton Martins Ribeiro