Legado de Mário de Andrade é analisado em roda de conversa do Festival de Inverno
Expoente do Modernismo manteve profícua relação com autores mineiros e problematizou as fronteiras entre o erudito e o popular
“A democratização da cultura era seu grande alvo. Esse processo foi interrompido e, por isso, hoje estamos conversando sobre ele", observou o sociólogo André Botelho, um dos participantes da roda de conversa Mário de Andrade, modernista mineiro, realizada na noite de segunda-feira, 26, como parte da programação do 53º Festival de Inverno UFMG. “É o tipo de escritor que queria mudar o mundo não só dentro da sua obra, mas com a sua obra”, definiu.
André Botelho, que é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), enfatizou que os desafios e as conquistas do Modernismo atravessaram o século e pertencem à atual geração de artistas e estudiosos. “Mário pensou a cultura sob um viés que extrapolava o colecionismo ou a busca de autenticidade – buscava a problematização das fronteiras entre erudito e popular. Isso, de alguma forma, ainda continua”, avaliou.
Para o pesquisador, alguns dos elementos da proposta modernista "só podem se realizar no entrelaçamento das gerações”. “As demandas de uma transformação cultural da sociedade brasileira são muito estruturais para serem realizadas em uma só época”, completou.
Arromba, mas não fere
A professora Helena Bomeny, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), dissertou sobre a relação que Mário de Andrade estabeleceu com escritores mineiros. “É impressionante como Mário ‘arromba’ a subjetividade de Drummond, figura tão reservada e tímida. ‘Arromba’, mas não fere: pela resposta de Drummond, vemos que ele fora tocado intimamente, mas sem se zangar”, comentou.
O legado da geração de artistas que inaugurou o Modernismo no Brasil também foi discutido por Bomery. “Um dos traços que mais me impressionaram é o sentido de permanência que aqueles valores, cultivados por aquela geração há quase 100 anos, acabaram traduzindo. Foi o modernista ou o intelectual daquela época que deu permanência ao projeto do Mário”, disse.
A conversa foi mediada pelo professor Maurício Hoelz, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Ele elucidou que, embora a Semana de Arte Moderna de 1922, em São Paulo, tenha sido o marco simbólico mais consagrado na história do Modernismo, o "ano-chave", sob o ponto de vista dos mineiros, foi 1924. “A viagem dos modernistas paulistas a algumas das cidades de Minas Gerais transformou, por meio de encontros e conversas, o próprio Modernismo e a cultura brasileira”, destacou Hoelz.
A programação do Festival de Inverno prossegue até sábado, 31 de julho.