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Livro de sobrevivente da ditadura militar revisita memórias de torturas e lutas do período

‘Torre das Guerreiras’ desmitifica ideia de fragilidade associada às militantes encarceradas durante esse sombrio período da história do Brasil

Equipe envolvida na publicação, de Ana Maria Ramos Estevão, é totalmente composta por mulheres
Equipe envolvida na publicação, de Ana Maria Ramos Estevão, é totalmente composta por mulheres Divulgação

Em 1970, durante a ditadura brasileira, o Presídio Tiradentes, em São Paulo, possuía uma ala conhecida como Torre das Donzelas, na qual as mulheres militantes eram encarceradas. E foi lá que a estudante de Serviço Social Ana Maria Ramos Estevão, então militante estudantil da Ação Libertadora Nacional, passou nove meses de sua vida, onde foi interrogada e torturada. Agora, em 2022, ela reúne as lembranças deste período em uma nova publicação, o livro Torre das Guerreiras e Outras Memórias. Durante o período, Ana conheceu agentes do regime, como o delegado Sérgio Paranhos Fleury e o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, assim como figuras marcantes da resistência, como Paulo Freire e a ex-presidente Dilma Rousseff, que assina o prefácio do livro. 

A obra conta com ilustrações, fotografias, documentos e recortes de jornais da época, que denunciam tanto a repressão do período, quanto mostram momentos de esperança e luta vividos no presídio. O programa Universo Literário desta quinta-feira, 3, recebeu a autora de Torre das Guerreiras e Outras Memórias, a professora Ana Maria Ramos Estevão, para falar mais sobre o livro, seu processo de produção e as memórias nele contidas. A convidada compartilhou sua motivação para escrever, uma ideia que já existia há muito tempo e veio do desejo de contar sobre esse período da história para as novas gerações, principalmente para que saibam como seria se tudo se repetisse. 

“Foi um processo de sublimação dessas dores congeladas. Mas também não é só memória de tortura, é memória da luta. Para mim, significou descongelar não só dores mas também registrar a memória da luta. Contar a tortura é importante, mas nós não fomos vítimas e não fomos uma geração que desistiu de lutar. Foi uma geração que naquele momento achou que aquela era a saída e foi embora”, declarou a professora. 

Sobre o título da obra, a entrevistada contou que foi uma forma de subverter a tradição de chamar o local de Torre das Donzelas, a fim de desmitificar a memória de que ali estavam mulheres frágeis, quando na verdade estavam na mesma situação e participavam da mesma luta que os homens. Assuntos como a relação de amizade e cumplicidade entre as mulheres que aparecem no livro, o trabalho das responsáveis pela diagramação e ilustração e a importância do tema para a atualidade também foram destaque na conversa.

Ouça a entrevista completa no Soundcloud.

Torre das Guerreiras e Outras Memórias, de Ana Maria Ramos Estevão, é publicado pela Editora 106 e pode ser encontrado no site da editora ou em livrarias físicas e virtuais.

Produção: Alexandre Miranda e Nicolle Teixeira, sob orientação de Luiza Glória
Publicação: Enaile Almeida, sob orientação de Luiza Glória