Márcio Ziviani, da Escola de Engenharia, recebe hoje o título de emérito da UFMG
Professor atuou no processo de mudança da Unidade para o campus Pampulha e na criação do Departamento de Engenharia Mecânica
O professor Márcio Ziviani, da Escola de Engenharia, recebe, nesta terça-feira, 5 de novembro, o título de professor emérito da UFMG em cerimônia conduzida pela reitora Sandra Regina Goulart Almeida, a partir das 18h, no Auditório Principal da Unidade. A titulação é concedida por indicação das congregações das unidades a docentes aposentados cujas atividades acadêmicas são consideradas de excepcional relevância para a Universidade.
Ziviani se graduou em Física pela UFMG em 1972 e, logo em seguida, cursou o mestrado em Engenharia Térmica na Universidade. O doutorado foi cursado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e seu ingresso no quadro de professores da UFMG se deu em 1977, com a aprovação no concurso para professor assistente do Departamento de Engenharia Térmica e de Materiais da Escola de Engenharia.
Entre as diversas atividades exercidas ao longo de sua carreira, o professor foi chefe do Departamento de Engenharia Mecânica (Demec), coordenador da pós-graduação, diretor do Departamento de Manutenção e Operação da Infraestrutura (Demai) e superintendente de Infraestrutura de Manutenção da Universidade, além de diretor-executivo da Fundação de Apoio da UFMG (Fundep).
Ziviani também foi o autor da primeira dissertação de mestrado do Programa de pós-graduação em Engenharia Térmica da Escola de Engenharia, na época sob a orientação do professor José Rubens. Seu pioneirismo e determinação são destacados por Luiz Machado, seu colega de departamento, que fará a homenagem a Ziviani na cerimônia de outorga do título.
“Ziviani foi uma pessoa à frente de seu tempo. Ele atuou como professor, pesquisador e orientador, mas sempre com uma visão administrativa importante e que foi essencial para a consolidação da Escola de Engenharia da UFMG. Ele foi um dos responsáveis pela vinda da Escola para o campus Pampulha e pela criação do Departamento de Engenharia Mecânica”, diz.
Machado conta que muitos professores do Demec, como Ricardo Utsch, Antônio Ávila e Danilo Amaral, foram alunos de Márcio Ziviani que se tornaram, posteriormente, amigos e colegas de profissão. “Ele não pensava apenas nele, mas na coletividade, não medindo esforços para fazer o que fosse melhor para o Departamento e para a UFMG. Quando o Demec veio para o campus, Ziviani trouxe parte da mudança dentro de seu carro, uma picape que ele encheu com os equipamentos do laboratório. Ziviani sempre ‘botou a mão na massa’. Sua trajetória é uma mistura de pioneirismo, trabalho e realizações.”
Uma tragédia e a transferência para o campus Pampulha
Além do ensino, da pesquisa e da extensão, a carreira de Ziviani foi marcada por uma forte atuação na esfera administrativa da Universidade. Quando ainda atuava como professor do Departamento de Engenharia Térmica nas antigas instalações da Escola de Engenharia, no Centro de Belo Horizonte, Ziviani trabalhou para que fosse inaugurado, no prédio do antigo restaurante da Escola, um laboratório para abrigar as montagens das teses de professores e alunos do mestrado, a torre de resfriamento e o dinamômetro, além dos motores e equipamentos usados nas pesquisas e aulas práticas. Porém, na década de 1980, uma enchente no rio Arrudas destruiu todo o laboratório.
“Por causa dessa tragédia, que se repetia pelo menos uma vez a cada ano, a Reitoria ofereceu aos departamentos atingidos a utilização de um conjunto de três galpões que ficavam no campus Pampulha. Um dos galpões foi destinado aos departamentos de Engenharia Térmica e de Materiais, um segundo para o Departamento de Engenharia de Construção de Máquinas e o terceiro seria para o Departamento de Engenharia Metalúrgica. Além disso, o prédio do antigo restaurante setorial seria reformado para abrigar as salas de aulas do curso de Engenharia Mecânica”, conta o novo emérito.
Dessa forma, o curso de graduação em Engenharia Mecânica e o de Pós-graduação em Engenharia Térmica foram os primeiros a serem integralmente transferidos para o campus Pampulha. Posteriormente, na década de 1990, Ziviani atuou, juntamente com o então diretor da Escola de Engenharia e depois reitor na gestão 2006-2010, Ronaldo Pena, na construção do que viria a ser o prédio da Escola de Engenharia no campus Pampulha. A obra ocorreu no âmbito do Projeto Campus 2000.
“Acompanhei as arquitetas responsáveis pelo projeto do novo prédio. Como representante da Escola no Conselho Universitário e presidente da sua Comissão de Obras, sempre defendi a prioridade da construção do prédio da Engenharia e sua consequente mudança para o campus Pampulha”, diz.
Fusão de departamentos e curso noturno
O Departamento de Engenharia Mecânica (Demec) surgiu por meio da fusão do Departamento de Engenharia Térmica e de Materiais com o Departamento de Construção de Máquinas. Em 1992, Ziviani assumiu a chefia do novo Departamento, onde atuou por cinco mandatos consecutivos.
O professor explica que o grande desafio na época estava relacionado à integração dos professores de ambos os departamentos, visto que eles chegavam ao novo Demec com experiências e atuações distintas. Além disso, eles não estavam acostumados a atuarem juntos. Para integrá-los, Ziviani promoveu a Semana de Integração do Corpo Docente do Demec, que consistiu em um encontro com debates sobre temas relacionados à avaliação e capacitação dos professores do novo Departamento.
À época também foi instituída uma política de contratações com novas exigências nos editais dos concursos, como o regime de trabalho de dedicação exclusiva e a obrigatoriedade do título de doutor. “A nova organização do Demec foi essencial para transformá-lo em um importante centro de ensino e pesquisa na área”, afirma o professor.
Outra mudança ocorrida na gestão de Ziviani à frente do Departamento foi a oferta do curso noturno de Engenharia Mecânica. “O curso noturno de Engenharia Mecânica foi o primeiro ofertado pela Escola de Engenharia. Desde a sua criação, ele já formou mais de 1 mil engenheiros que, por trabalharem ao longo do dia, não teriam outra oportunidade de se graduarem se não fosse pela oferta noturna. Aí está a importância dos cursos noturnos, eles são essenciais para os estudantes trabalhadores”, afirma o emérito.
Capacitação dos professores
Ainda no âmbito de sua atuação administrativa, Ziviani foi responsável por um projeto que visava à capacitação dos professores que atuavam no Departamento de Engenharia Mecânica da Escola de Engenharia. Ao ingressar no Departamento, Ziviani assumiu a coordenação e implementou uma política de formação de professores, de modo a incentivá-los a ingressarem em programas de mestrado e doutorado.
A política incluía convênios com diversas instituições de ensino e a autorização para que os professores se ausentassem para concluírem seus estudos. Ziviani explica que a capacitação era importante para que a Escola de Engenharia se qualificasse e fornecesse, aos seus alunos, a melhor formação possível.
“Implementamos uma ousada política de formação constituída por duas etapas. A primeira estava relacionada ao mestrado e consistia em negociar, com cada professor, a data de defesa da dissertação mediante a liberação de todos os encargos didáticos e demais atividades docentes. Em um ano, todos os docentes haviam concluído o mestrado. A segunda etapa foi com o doutorado e visou à implantação de convênios com o exterior e ao estabelecimento de um planejamento de formação. Quase todos os docentes iniciaram os estudos e, em poucos anos, todos os professores do quadro já eram doutores.”
Pesquisas térmicas aplicadas
Márcio Ziviani dedicou 48 anos à UFMG, atuando como professor, pesquisador e administrador. No âmbito da pesquisa, o professor se dedicou à área de ciências térmicas, que consiste nos estudos relacionados à transferência de calor, à termodinâmica e à mecânica dos fluidos. A sua dissertação de mestrado abordou a transferência de calor no campo metalúrgico.
No doutorado, ele conta que deparou, pela primeira vez, com uma nova abordagem nas ciências térmicas que utilizava um método numérico de volumes finitos. “Foi essa linha que eu iniciei na UFMG quando me tornei professor. Na época, eu realizei um sonho, pois sempre quis trabalhar em uma área de pesquisa que fosse de interesse de empresas, ou seja, que fosse aplicada. Na época, graças à antiga Mannesmann – hoje Vallourec & Mannesmann Tubes –, eu consegui aplicar os equipamentos e processos térmicos que desenvolvia no laboratório. Sempre achei essencial trabalhar em parceria com a indústria”, lembra.
Ainda na pesquisa, o professor foi um dos fundadores do Grupo de Análise e Modelagem de Sistemas e Equipamentos Térmicos (Gamset).
Ziviani se emociona por ser o primeiro professor do Demec a receber o título de emérito. “Aposentei-me em 2018, mas atuei como professor voluntário na UFMG até o ano passado. É muito difícil se desligar quando a nossa vida se dá dentro da Universidade. Eu não esperava o título de emérito, mas me sinto feliz em olhar para trás e ver que a vida me colocou como pioneiro para abrir muitos caminhos.”